A primeira recordação que tenho de um jogo do
Fluminense no Maracanã é vaga. Lembro-me, apenas que estava ao lado de meu pai,
como sempre, e de um amigo dele, todos na arquibancada.
Sei, também, que a partida era contra
Portuguesa de Desportos, na década de 1970, porque gravou-se na minha memória a
faixa da torcida da lusa, onde se lia Leôes da Fabulosa e que meu pai, após
discutir com seu amigo sobre o Cafuringa, apontou para o campo e me motrou quem
era aquele jogador alvo de discórdia.
Estas foram as impressões iniciais sobre a
minha história de frequentador do Maracanã, minha recordação mais vaga e
distante.
Nunca esqueci, também, do corredor de acesso do
anel às arquibancadas, que me dava toda a impressão de seu gigantismo; à medida
que o atravessava percebia, extasiado, os lances de arquibancada preenchidos pela torcida que já se posicionava para o espetáculo. Ao vencê-lo por completo, parava, absorto, e contemplava o Maior do Mundo, ali, vivo, pulsando um turbilhão de emoções...
São lembranças eternas de quem conheceu o
outrora Maior Estádio do Mundo e que nele assistiu a memoráveis partidas do
Fluminense Footbal Club.
Reporto-me ao início do texto para lembrar que,
dentre essas memoráveis recordações, também estão jogos inesquecíveis contra
outro clube da colônia lusitana carioca, o Vasco da Gama.
Eu vivi uma época em que vascaíno temia
enfrentar tricolor. Mesmo nos seus melhores dias, o Vasco sofria nas mãos do
Fluminense. Eram nossos fregueses de carteirinha e sempre havia uma desculpa
para suas derrotas.
Recordo-me de quando ainda estudava no Pedro II
do Humaitá, no começo da década de 1980 e, ao tripudiar de um colega de turma
vascaíno chamado Custódio, seu argumento a justificar a derrota de seu time,
foi de que o Fluminense jogara com 12 em campo, sugerindo que o tricolor
tivesse sido auxiliado pela arbitragem.
Isso era típico naquela época. Sempre havia uma
desculpa para os malogros frente ao tricolor, desculpas criadas para não se
reconhecer a nossa flagrante superioridade naquela época áurea dos anos
1970/1980.
Eu vi, ninguém me contou, o gol do Doval, uma “orelhada”,
já nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação, que nos deu o bicampeonato
carioca 1975/1976; presenciei o gol de falta de Edinho em 1980, e o título
carioca do mesmo ano; Assisti, também, ao Romerito marcar na primeira partida da
final do campeonato brasileiro de 1984, tento que acabou sendo fundamental para
a conquista do bicampeonato brasileiro do Tricolor e vi o gol de placa de
Washington, que driblou Donato, Moroni, duas vezes o Acácio e fez um gol antológico
em outra vitória tricolor no ano de 1987.
Todas essas lembranças, exemplificativas, é
claro, porque houve muitas outras vitórias, têm em comum os protagonistas
dessas partidas. Em todas elas enfrentamos e derrotamos o Vasco, numa absoluta
demonstração da nossa força à época, uma superioridade que impunha ao rival,
nas gozações costumeiras dos torcedores, a condição de nosso freguês. Logo
eles, os Vascaínos, nossos clientes de carteirinha.
A partir dos anos 1990, porém, em decorrência
de um processo autodestrutivo fomentado, inclusive, por gestores do próprio
clube, o Fluminense enfrentou os momentos mais tristes de sua história. Rebaixamentos
e times medíocres, formados com a xepa da feira, foram a deixa para que pouco a
pouco a situação se invertesse.
Passamos a perder demais para o time da colina,
mesmo, ocasionalmente, com times melhores; parecia que o vento passou a soprar somente a
favor do time vascaíno.
E o drama continua, mesmo após a retomada de
nosso caminho glorioso, a partir da metade da década de 2000, o Vasco continua
sendo um estorvo. Derrotá-los sempre é uma tarefa difícil e, quando ocorre,
nunca se transforma numa sequência de vitórias impostas ao rival.
Nossas vitórias têm sido esporádicas,
ocasionais. Parece que pagamos com juro tudo aquilo que lhes impusemos nossos
anos dourados.
Mas isso precisa ter um fim, precisamos voltar
a ser temidos dentro de campo, mostrar nossa força e impor a supremacia do
melhor elenco tricolor. E mesmo que o elenco não seja o melhor, temos que
voltar a vencer sequencialmente o Vasco.
É preciso virar a página e criar um novo capítulo
na história, senão como aqueles em que éramos francamente superiores, pelo
menos que sirva para equilibrar as estatísticas do confronto.
Não temos mais Doval, Washington, Edinho e
Romerito, jogadores que citei acima, em nossas fileiras, mas que os jogadores de hoje enverguem a camisa tricolor com dignidade e mostrem que do outro
lado está o Fluminense, aquele mesmo que, outrora, foi um de seus maiores
algozes.
Avante, Fluminense! ST
Assista ao Washington humilhando o Vasco de Acácio:
Assista ao gol de Edinho, que deu ao Flu o título
carioca de 1980:
Assista ao gol de Romerito na vitória de 1 a 0
sobre o Vasco na primeira partida da final do campeonato brasileiro de 1984:
Veja o gol de Doval, gol que deu ao Flu o
bicampeonato carioca, 1975/1976:
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