segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O campeão eterno

Acho que estou ficando velho e com a velhice adquirindo hábitos que sempre ouvi que só cabiam aos mais “antigos”. Um deles, e talvez um dos mais dolorosos, é o de acordar cedo, muito cedo, mesmo quando não preciso fazê-lo.

Foi assim nesse sábado. De repente, “plim”, meus olhos se abriram e não consegui mais fechá-los. Mas como envelhecemos acompanhados dos prodígios desenvolvidos pela evolução tecnológica, saquei do meu celular à mesa de cabeceira para saber das notícias e aplacar um pouco os efeitos psicológicos do precoce despertar.

Pois é aí que eu quero chegar. Logo de cara deparo-me com a fotografia de uma família de tricolores e alguns outros torcedores (Carlos Vogel, Geraldo Barros e outros) aqui da minha cidade, Petrópolis, no aeroporto, postada com o título: partindo para Florianópolis.

Ainda com a visão embaciada e as ideias em desalinho, imaginei tratar-se de alguma daquelas postagens que o Facebook cria automaticamente para recordar fatos que tenham sido publicados em outros tempos na timeline de seus usuários. Ledo engano, porém. Ao observar com mais atenção, percebi que o grupo estava pronto para embarcar para Florianópolis para assistir à partida entre Fluminense e Figueirense neste domingo, a despedida do Flu de 2015.

Tantos outros tricolores comumente viajam para acompanhar a equipe, mas aquela foto me deixou intrigado. Se havia algum resquício, ainda, de sono, ele então se dissipou definitivamente. Eu, no conforto da minha cama, do meu lar, e, naquele mesmo instante, aqueles torcedores abnegados num aeroporto, provavelmente tendo deixado suas casas ainda madrugada alta para não perderem o voo.

O Fluminense não vai disputar um título, ao Fluminense não interessam mais os três pontos – ao menos não interessam para que se alcance qualquer objetivo de classificação ou rebaixamento – mas aquele grupo estava lá, sorrindo para a foto, às seis da manhã, felizes da vida, apenas – ou por tudo isso – para verem o seu time do coração jogar futebol a mais de mil quilômetros de distância.

Caramba, pensei, esses caras são muito tricolores, são tricolores demais! O que os leva, num momento em que o jogo nada representa para o clube, a realizar uma viagem como essa, cansativa e dispendiosa?

Não se deve buscar uma explicação racional, pois ela jamais será encontrada na frieza da razão. Ela está no coração. É o amor, e somente o amor, o sentimento capaz de mover esses abnegados – e outros tantos que não aparecem na fotografia – para estar por noventa minutos bem próximos dos jogadores que representam o Fluminense Football Club.

Para eles, certamente, assistir a um jogo que nada vale e a outro em que se disputa um título, tem o mesmo valor. E o único valor que se discute é o valor da paixão, das cores da camisa tricolor que inebriam, do êxtase, do deleite de estar presente, de testemunhar o lance bizarro, o gol, de sofrer, gritar e amar, amar plenamente o Fluminense. E aí, pouco importa se trarão na bagagem uma vitória ou uma derrota, porque não há vitórias ou derrotas que sejam mais importantes do que sentir na pele o tesão que uma arquibancada proporciona.

Saber de histórias como essa me trazem uma única certeza, a de que não haveria outro clube no mundo pelo qual eu poderia torcer.

Obrigado, Carlos Roberto Vogel, Bernardo Vogel, Cíntia Kochem, Geraldo Barros, Felipe Costa, Eric Abend, Glayson Mendes, Denise Cardozo e a todos os outros tricolores que deixaram o conforto de seus lares para ver o Fluminense ser campeão. Ser o eterno campeão no coração de todos vocês.


Eu tenho orgulho de ser tricolor.