Acho que estou ficando velho e com a velhice
adquirindo hábitos que sempre ouvi que só cabiam aos mais “antigos”. Um deles,
e talvez um dos mais dolorosos, é o de acordar cedo, muito cedo, mesmo quando
não preciso fazê-lo.
Foi assim nesse sábado. De repente, “plim”,
meus olhos se abriram e não consegui mais fechá-los. Mas como envelhecemos
acompanhados dos prodígios desenvolvidos pela evolução tecnológica, saquei do
meu celular à mesa de cabeceira para saber das notícias e aplacar um pouco os
efeitos psicológicos do precoce despertar.
Pois é aí que eu quero chegar. Logo de cara
deparo-me com a fotografia de uma família de tricolores e alguns outros
torcedores (Carlos Vogel, Geraldo Barros e outros) aqui da minha cidade,
Petrópolis, no aeroporto, postada com o título: partindo para Florianópolis.
Ainda com a visão embaciada e as ideias em
desalinho, imaginei tratar-se de alguma daquelas postagens que o Facebook cria
automaticamente para recordar fatos que tenham sido publicados em outros tempos
na timeline de seus usuários. Ledo engano,
porém. Ao observar com mais atenção, percebi que o grupo estava pronto para
embarcar para Florianópolis para assistir à partida entre Fluminense e
Figueirense neste domingo, a despedida do Flu de 2015.
Tantos outros tricolores comumente viajam para
acompanhar a equipe, mas aquela foto me deixou intrigado. Se havia algum
resquício, ainda, de sono, ele então se dissipou definitivamente. Eu, no
conforto da minha cama, do meu lar, e, naquele mesmo instante, aqueles
torcedores abnegados num aeroporto, provavelmente tendo deixado suas casas ainda
madrugada alta para não perderem o voo.
O Fluminense não vai disputar um título, ao
Fluminense não interessam mais os três pontos – ao menos não interessam para
que se alcance qualquer objetivo de classificação ou rebaixamento – mas aquele
grupo estava lá, sorrindo para a foto, às seis da manhã, felizes da vida,
apenas – ou por tudo isso – para verem o seu time do coração jogar futebol a
mais de mil quilômetros de distância.
Caramba, pensei, esses caras são muito
tricolores, são tricolores demais! O que os leva, num momento em que o jogo
nada representa para o clube, a realizar uma viagem como essa, cansativa e
dispendiosa?
Não se deve buscar uma explicação racional,
pois ela jamais será encontrada na frieza da razão. Ela está no coração. É o
amor, e somente o amor, o sentimento capaz de mover esses abnegados – e outros
tantos que não aparecem na fotografia – para estar por noventa minutos bem
próximos dos jogadores que representam o Fluminense Football Club.
Para eles, certamente, assistir a um jogo que
nada vale e a outro em que se disputa um título, tem o mesmo valor. E o único
valor que se discute é o valor da paixão, das cores da camisa tricolor que
inebriam, do êxtase, do deleite de estar presente, de testemunhar o lance
bizarro, o gol, de sofrer, gritar e amar, amar plenamente o Fluminense. E aí,
pouco importa se trarão na bagagem uma vitória ou uma derrota, porque não há
vitórias ou derrotas que sejam mais importantes do que sentir na pele o tesão
que uma arquibancada proporciona.
Saber de histórias como essa me trazem uma
única certeza, a de que não haveria outro clube no mundo pelo qual eu poderia
torcer.
Obrigado, Carlos Roberto Vogel, Bernardo Vogel,
Cíntia Kochem, Geraldo Barros, Felipe Costa, Eric Abend, Glayson Mendes, Denise
Cardozo e a todos os outros tricolores que deixaram o conforto de seus lares
para ver o Fluminense ser campeão. Ser o eterno campeão no coração de todos
vocês.
Eu tenho orgulho de ser tricolor.