No futebol, como na vida, nada é definitivo.
Tudo pode mudar em questão de minutos. Por exemplo, enquanto escrevo este
texto, a notícia de que Muricy Ramalho está apalavrado com Flamengo para ser o
seu novo treinador, caso o seu atual presidente, Eduardo Bandeira de Mello,
seja reeleito no pleito de 7 de dezembro, já pode ter sido desmentida.
Mas a questão não é se Muricy será ou não o
treinador do rubro-negro, a questão é que o presidente do clube da Gávea deu um
passo à frente para que tenha uma equipe que dispute títulos em 2016, ainda que
a contratação seja, obviamente, uma daquelas realizadas às vésperas de um
sufrágio para angariar votos.
O pleito no rival pode ter antecipado a
movimentação em busca de um novo treinador, mas isso não significa que, por
estarmos a menos de um ano das eleições no Fluminense, tenhamos que aceitar
passivamente tudo que aí está como se fosse suficiente para um 2016 diferente
do que foram os últimos anos.
Reina a tranquilidade nas Laranjeiras –
ouve-se, aqui e ali, boatos sobre a saída do atual patrocinador e a chegada de
outro – mas, no geral, parece que conquistamos o título de 2015 e faltam apenas
pequenos ajustes para que a equipe emplaque novamente em 2016, conquistando o
hexa nacional. Afinal de contas, segundo se disse, o ano foi positivo.
Assim, segundo a teoria do positivismo do vice
presidente de futebol, aparentemente nada mudará para 2016, em razão do que
presumo que serão mantidas a espinha dorsal de uma equipe e o seu atual
treinador. Muricy deverá ir para o Flamengo, Cuca, ainda na China, parece um
sonho distante, Dorival, virtual campeão da Copa do Brasil pelo Santos, deverá
permanecer na equipe da baixada santista e, assim, os clubes vão escolhendo os
seus novos treinadores, mantendo os que funcionaram e se preparando para a
pré-temporada, enquanto o Fluminense, deitado em berço esplêndido, aguarda o
ano vindouro suficientemente agradecido pelo heroísmo deste grupo e treinador
em impedir o descenso do clube.
Eduardo Baptista, assim como foram Cristóvão,
Drubscky e Enderson, não são treinadores para o Fluminense. Das contratações de
jogadores para a temporada passada, apenas dois deram razoavelmente certo:
Edson e Vinícius. O primeiro, afastado não se sabe por que e o segundo,
acolhido pela torcida após suas boas atuações, esqueceu-se de quem o retirou do
anonimato, dando-lhe luz, deslumbrou-se com seus quinze minutos de fama e
cuspiu no prato em que comeu. Um ingrato a quem a vida saberá dar o adequado
castigo.
Assim, embora tenham sido contratados cerca de
sete ou oito jogadores, nenhum, exceto Edson, teria condições de permanecer
para 2016. E do antigo elenco, também é chegada a hora de reciclar. Jogadores
como Gum e Jean, por exemplo, já prestaram bons serviços ao Fluminense e
deveriam respirar novos ares.
Resta-nos Xerém, Cavalieri, Fred, Cícero e mais
um ou outro que ainda pode ser aproveitado como jogador à altura do Fluminense.
Se este é um panorama sucinto do que temos
hoje, o que tem sido feito para que 2016 seja diferente? A não ser que as
tratativas estejam sendo conduzidas como segredo de estado, não ouço e não vejo
nada sobre o assunto.
Ouso dizer que a primeira e mais evidente
mudança deveria acontecer no departamento de futebol. Para quem errou tanto não
deveria haver chance para que esses erros fossem reiterados no próximo ano. Há
três anos sem títulos, o Fluminense precisa novamente respirar os ares das
glórias e não parece que alcançará esse objetivo com o que aí está, desde o
departamento de futebol, passando pelo treinador até chegar ao elenco.
Muito precisa ser mudado e nada tem sido feito.
É claro que seria prudente aguardar o término da competição para que
especulações e tratativas fossem iniciadas, mas com o clube livre do descenso,
cada dia a mais de inércia é uma chance a menos de sermos efetivamente
vencedores em 2016.
Não acredito, me perdoem os mais otimistas –
apesar de ter sido sempre deveras otimista em relação aos assuntos do
Fluminense – que a manutenção de um vice de futebol que não entende bulhufas do
assunto e de um treinador que não está à altura da grandeza do clube, possam
credenciar o Tricolor a ser no ano vindouro diferente do que foi nos últimos
anos.
O Presidente e o vice de futebol são excelentes
advogados, mas entendem pouco ou nada de futebol. Falta, no comando do
departamento técnico, a “malandragem” necessária para que se saiba lidar com
uma das piores “raças” de funcionários: o “boleiro”. É isso o que falta ao
Fluminense, gente que enxergue que para ser ter um time campeão é preciso
contratar, primeiramente, um técnico campeão e que seja suficientemente capaz
de peneirar, no mercado nacional e sulamericano, bons jogadores compatíveis com
a realidade salarial do clube.
Falta a inteligência da “malandragem”, o que
não significa que o Fluminense estaria abdicando da sua tradicional fidalguia,
mas que estaria se adaptando aos tempos modernos, onde o futebol se ganha
dentro de campo, mas precisa ser defendido fora dele através de uma atuação
firme nos bastidores, a fim de que injustiças, como as que sofremos reiteradamente
nos últimos anos, não sejam mais perpetradas.
2016 será um ano aquecido pelas eleições.
Espero, sinceramente, que o torcedor tricolor saiba escolher o melhor
candidato, porque o Fluminense precisa mudar e retomar o caminho das
conquistas. Basta de amadorismo, basta de retrocesso, o Flu precisa de gente
com sangue verde, branco e grená nas veias e com muita disposição para
trabalhar.