“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um
realista esperançoso”. Eu segui o conselho do mestre Ariano Suassuna e fui
um realista esperançoso. Quisera eu ter sido um pessimista. Estaria, agora,
feliz com o Fluminense livre de um rebaixamento que muitos apregoaram. Desde os
48 pontos, meta traçada como a sufiente para garantir a fuga da degola com
sobras, o que viesse seria lucro.
Também não fui um otimista. As
desclassificações precoces na Copa do Brasil – esta uma das maiores humilhações
sofridas pelo clube dentro de campo de jogo – e na Sul-Americana, tornaram-me
cético em relação às pretensões do Fluminense no campeonato brasileiro.
Algumas vitórias seguidas,
contudo, revivesceram em mim o sentimento de que se poderia chegar mais longe,
em razão do que me transformei no tal realista esperançoso citado por Suassuna.
Nem pessimista, nem otimista, mas um pouco de um e de outro.
Ledo engano. Nem o realismo
com uma pitada de esperança me sobrou. Caí na esparrela tricolor e acreditei ingenuamente
num elenco que esteve apto à disputa do título e que se agarrava por um fiapo a
uma chance improvável de garantir, pelo menos, uma vaga para a Libertadores da
América, prêmio de consolação para um time que, simplesmente, abriu mão de ser
competitivo e de alcançar resultados à altura de sua grandeza.
Com a vitória do Internacional
sobre o Palmeiras, as chances matemáticas de classificação se esvaíram. O grupo
– ressalvadas as honrosas exceções - colheu o que plantou e, sinceramente, por
tudo que fez ou que não fez, não merecia mesmo melhor sorte no campeonato.
Surpreendeu, assim, os
pessimistas, decepcionou os otimistas e foi indiferente aos realistas. Pura
melancolia...
Nada, contudo, é por acaso.
Durante toda a competição, ou melhor, durante toda a temporada, o Fluminense
deu sinais de que as coisas não funcionariam bem. Alguns tiveram a
clarividência de perceber isso mais cedo. Pouparam-se de um sofrimento
desnecessário.
Olhando para trás agora, do
alto da 37ª. rodada do campeonato nacional, percebe-se, até com certa
facilidade, que o Fluminense de 2014 tinha tudo para dar errado, porque nada se
fez para corrigir os erros de 2013.
Os indícios foram inúmeros; a
começar pela falta de planejamento para uma temporada em que, todos imaginamos,
seria dificílima dentro e fora de campo. A manutenção praticamente integral de
um time fracassado em 2013 foi, assim, o primeiro erro crasso. Ou se poderia
esperar algo diferente de uma equipe que, mesmo na temporada passada, deu
provas de que jogava quando lhe convinha?
Não houve reciclagem.
Acreditou-se, erroneamente, que aquele time poderia ser totalmente diferente do
que foi. E não foi. A diretoria, silente, permitiu que jogadores externassem
suas preocupações financeiras com as renovações e prazos contratuais,
pagamentos de premiações e outros interesses extracampo. Após cada derrota,
cada desclassificação, boatos surgiram aos turbilhões dando conta de que
jogadores retaliaram o clube propositalmente. Ninguém os negou.
Até o Presidente Peter
aventurou-se no comando do futebol, se não lhe bastassem os encargos próprios
de sua função. Não podia dar certo, e não deu. Bom administrador, trabalha
incessantemente para sanear as finanças do clube; mostrou-se, porém, péssimo
para liderar o departamento mais importante do Fluminense. Foi omisso sempre
que se fez necessária a sua palavra, o seu esclarecimento, a sua presença.
Mario Bittencourt, então, escolhido
pelo próprio Presidente, assumiu a renomada função. Desde 2013 sob as luzes dos
holofotes, em virtude de suas brilhantes atuações jurídicas em defesa do Flu,
pareceu, num primeiro momento, o nome certo para dar um rumo ao futebol
tricolor. Pouco ou nada mudou, contudo. Mario entende muito de Direito
Desportivo e muito pouco de futebol.
A sua recente manifestação, em
entrevista ao site globoesporte.com, é emblemática e desconsidera a enormidade
do Clube que representa: “Querendo ou
não, chegamos faltando duas rodadas para o final como um dos seis times que
ainda almejam a algo”. Ora, o Fluminense não disputa competições para
almejar “algo”; o Fluminense disputa títulos. Se não os conquista, joga para
conquistá-los. “Almejar algo” é para qualquer outro, menos para um Clube da
grandeza do Tricolor.
Ainda houve outros sinais.
Fred, por exemplo, cumulou as funções de presidente e vice de futebol do
Fluminense. Nas horas vagas, também foi jogador de futebol. Um exagero, claro,
mas que evidencia a falta de comando interno no Clube.
Apregoou uma greve; na
ausência dos mandatários, foi ele quem, abertamente, reclamou da postura
crítica da torcida na arquibancada, esquecendo-se, no entanto, de que é ela a
alma e razão de existir do Fluminense. Não satisfeito, afirmou, como se
reconhecesse antecipadamente o fracasso, que este time que aí está foi rebaixado
em 2013. Olvidou dizer, entretanto, que foi um dos responsáveis pelo descenso.
Fred é, inegavelmente, um
líder, mas a permissividade da gestão tricolor exacerbou seus “poderes”, autorizando-o,
ainda que tacitamente, a externar suas opiniões sem controle, sem
responsabilidade, à revelia dos verdadeiros mandatários. Arvorou-se em dono do
Clube.
E se Fred pode, Wagner pode
também. Aproveitando a licenciosidade reinante nas Laranjeiras, também resolveu
expor suas lamentações. Mostrou que tinham razão os pessimistas. Este elenco
nunca pretendeu coisa alguma, a não ser a satisfação de suas pretensões
financeiras atendidas. Jogaram por dinheiro e não jogaram sem ele. Talvez agora
seja possível compreender o vexame contra o modestíssimo América de Natal, as
desclassificações nas competições disputadas (carioca, Copa do Brasil e
Sul-Americana), a vergonhosa derrota para o Botafogo no primeiro turno, a
acachapante goleada sofrida para o Chapecoense dentro do Maracanã, os vinte e
tantos pontos perdidos para times de menor investimento e o “correr para não
chegar” no campeonato brasileiro.
Ao que parece, estão todos
satisfeitos pela bagatela do não rebaixamento. Todos, inclusive nossos
mandatários – que o diga Mario Bittencourt.
Um leigo que ouvisse as
lamúrias desses jogadores chegaria a acreditar que o Fluminense lhes impõe a
penúria completa, que andam em andrajos e que moram em barracos no meio do
esgoto a céu aberto. Pobres milionários!
O Fluminense hoje é um clube
em crise de identidade, ou melhor, de governabilidade. Não se sabe quem, de
fato, manda e quem obedece. Por vezes, quem deveria obedecer manda, e quem
deveria mandar obedece.
A história tricolor não se
coaduna com mandatários pusilânimes, nem amadorismo. Para conduzir o Clube
novamente ao caminho das glórias é preciso, além de vivê-lo intensamente, pulso
firme na administração de seus interesses.
Hoje o Fluminense é um
verdadeiro mafuá. Que amanhã torne a ser novamente um clube de futebol, exemplo
de correção, casa de tricolores comprometidos e apaixonados.