domingo, 24 de abril de 2016

A culpa é de Levir

O Fluminense é o campeão da Primeira Liga, torneio que ajudou a criar, o que revela um sabor ainda mais especial à conquista. O Flu, também, tem boas chances de avançar para as finais do carioca.

Se isso acontecer, poderemos levar duas taças para as Laranjeiras em cerca de dois meses.

Quem, num exercício de sã consciência, esperava que isso pudesse acontecer, sobretudo após o início caótico do time, comandado por um treinador inexperiente que jamais deu à equipe um aspecto coletivo e pouco ou nada explorou das potencialidades de cada jogador.

Vale lembrar que Gum e Henrique, sob a gestão anterior, era candidatos fáceis a piores jogadores do Fluminense. Hoje, porém, firmam-se como uma zaga que atua com sobriedade, bem menos vulnerável do que há poucos meses.

Não há mágica que faça um jogador transmudar-se do dia para a noite, senão a batuta – e a labuta - de um treinador que entenda do riscado.

Justamente por isso, sou reticente em criticar jogadores que, claramente, não estão sendo bem aproveitados, ou são expostos ante a fragilidade de um esquema de jogo mal montado.

Não dá para cobrar de um jogador se o seu treinador não explora a fundo suas qualidades. Um sistema de jogo organizado, cobertura, estratégia e inteligência fizeram, por exemplo, Gum e Henrique se acertarem em campo.

E o Fluminense, que era candidato a nada, recebeu um banho de competência com a acertada contratação do responsável por essa mudança quase milagrosa: Levir Culpi.

Enaltecer um treinador assim, ainda no começo de temporada, é arriscado, mas Levir já deu sinais de que é o homem de que o Fluminense precisava para novamente tornar ao rumo de sua história gloriosa.

É antes de tudo, um boa praça. Também é humilde e sincero. Além, é claro, de ser competente.

Logo depois da conquista em Juiz de Fora, Levir foi taxativo ao falar para a imprensa: “Sou um cara de sorte, estou há um mês e meio no clube e já conquistei um título. Só tenho a agradecer ao Peter. Vocês não imaginam como é a sala de troféus do Fluminense, poder levar mais um para lá é especial”.

Foi mais ou menos o que ele disse: que o Fluminense está acima dele, e isso se chama humildade.

Perguntado também sobre eventual favoritismo no clássico contra o Botafogo, revelou com sinceridade: “O Fluminense é favorito, porque joga por dois resultados”.

O futebol está cheio de profissionais que se preocupam demais com o que dizem, com medo de desagradar a um e a outro. Levir diz o que pensa, virtude rara hoje em dia, e talvez esse também seja um dos motivos de seu sucesso recente no Tricolor.

Nada como a verdade, doa a quem doer.

Não sei se alcançaremos os maiores objetivos em 2016, ainda é cedo para dizer, mas se isso acontecer terá nome e sobrenome: Levir Culpi.


quinta-feira, 21 de abril de 2016

É campeão!

O campeão da Primeira Liga é o Fluminense! A Primeira Liga, uma competição nascida da indignação contra os abusos de uma Federação perversa, é do Fluminense! Na vanguarda, como sempre, o Fluminense!

Qualquer crônica sobre o que aconteceu ontem à noite não maculará o bom estilo literário ao citar o Fluminense mil vezes. Hoje, portanto, me perdoem, mas repetirei propositalmente Fluminense tantas vezes quantas achar necessário.

O problema maior para um torcedor resenhar um jogo de decisão de seu time in loco, é que por noventa minutos ele está temporariamente cego. Não vê, apenas sente.

E foi o que aconteceu comigo ontem em Juiz de Fora. Senti a estrada, senti a chegada ao estádio, senti a torcida tomando assento, senti a tensão, senti a festa nas arquibancadas, senti o gol, senti o título!

Senti até o lacrimogêneo, mas não permitirei que isso atrapalhe o meu sentimento neste momento.

Foi uma noite de sentimentos maravilhosos, de reencontro do Fluminense com um título depois de quase quatro anos de jejum, de reencontro da torcida com o seu verdadeiro Fluminense.

Vistoso, impetuoso, decidido, imbuído, garboso, o Fluminense foi de tudo um pouco e não podia deixar de sair da Manchester Mineira sem esse título. Os sustos fazem parte do espetáculo e de uma estratégia absolutamente ofensiva que, vez por outra, deixa espaços atrás.

Mas a sorte, em alguns momentos, e a competência da equipe comandada por Levir Culpi, não permitiram que o Fluminense sofresse um revés que seria uma enorme injustiça. Uma injustiça também com o torcedor que saiu do Rio de Janeiro, ficou preso num engarrafamento monstruoso e entrou no estádio quase no intervalo da partida. Uma injustiça com os tricolores mineiros de Miraí, Bicas, Juiz de Fora, Varginha, da Flumineiros, da E.T. Nense, da Miraí Flu, que estavam por toda a parte do Estádio Mario Helênio e não mereciam pegar a estrada de volta para casa sem esse título na bagagem.

Quiseram os deuses do futebol, porém, que a taça ficasse nas melhores mãos e que o gol do título, aguardado há quase quatro anos, nascesse de um passe de um veterano e terminasse com a nova geração do Fluminense, a geração de Xerém, o encontro do passado com o presente fazendo a história tricolor.

Festa da torcida tricolor em Juiz de Fora e em todo o Brasil, festa do pequenino Lucas, tricolor de cinco anos, de Bicas/MG, que estava com a irmã, pais e avós ao meu lado na arquibancada e a quem fiz questão de dar uma faixa de campeão. O pequeno não podia voltar para casa sem ela e eu não podia voltar para a minha sem presenteá-lo com aquele singelo troféu.

Infelizmente, não pude tirar uma foto do tricolorzinho e de sua expressão de felicidade com a sua faixa, porque em seguida começaram a pipocar as bombas de gás lacrimogêneo atiradas por uma despreparada – como sempre – polícia militar.

Mas nem ela, a polícia, ofuscou a grandiosidade do título e a festa da torcida, uma torcida que soltou o grito de campeão engasgado há anos, fazendo-o ressoar pelos corações de cada um de nós, tricolores apaixonados.

E esse título, sejamos justos, tem três donos: Levir, que deu nova vida ao Fluminense; o time, que entendeu e aquiesceu à sua estratégia; e a torcida, que é o motivo disso tudo.

Ainda ouço os gritos de campeão. Estão impregnados em mim indelevelmente. São os meus troféus, guardados eternamente na minha alma.


Enquanto isso, o Fluminense é novamente campeão, campeão da Primeira Liga, campeão de cada um de nós. O primeiro e o último, o tudo.

Comemore, tricolor, porque hoje o dia nasceu mais bonito, porque hoje você é campeão! 

domingo, 10 de abril de 2016

Levir ou Fred?

Qualquer conversa que envolva o Fluminense deve ter por respeitada uma premissa inarredável: Nada ou ninguém é maior do que Ele.

Quando Levir Culpi assumiu o Tricolor, depois de algumas apostas que não deram certo, uma das suas primeiras marcas foi mostrar que, no clube, cada um deve ter predefinida a sua função. Simples de se entender: um treinador comanda o time, um jogador treina, joga e obedece às suas determinações.

Levir, pensando em preservar o artilheiro – após um mês fora dos campos - e, sobretudo porque Fred não poderá disputar a final da primeira Liga, optou por colocá-lo em campo não mais do que 60 min, substituindo-o ainda no início da segunda etapa.

Pensei cá com meus botões: Fred não deve estar gostando disso.

E não estava.

Não foi surpresa o seu sentimento de desaprovação, mas foi surpresa que a sua manifestação – deixando de participar de dois treinos, de viajar com a equipe para Volta Redonda e anunciar: “Ou Levir ou eu!” – tenha ocorrido às vésperas de uma importante decisão para o Fluminense.

A sua atitude demonstrou nitidamente que se preocupa mais consigo do que com o Tricolor.

Fred reinou absoluto no Flu, enquanto teve um vice de futebol e alguns treinadores que lhe fizeram todas as vontades. Encontrou, contudo, em Levir, um técnico que pensa mais no conjunto, mais no interesse coletivo e mais no Fluminense do que nele.

Todos sabemos o quanto Fred foi importante para o Fluminense e o quanto o Fluminense foi importante para o Fred. Nessa ponderação de importâncias, ninguém deve nada a ninguém.

Mas se o artilheiro não consegue aceitar que se criem alternativas a si, como Levir tem feito ao tirar o Fluminense da mesmice que era a dependência exclusiva do artilheiro, demonstra unicamente egoísmo, orgulho e vaidade que não se coadunam com o sentimento de coletividade e solidariedade que deve nortear uma equipe de futebol.

Levir Culpi não barrou o artilheiro. Apenas o substituiu no decorrer dos jogos. Imagino que Fred tenha pressentido que em breve poderia perder a vaga, mas nem isso justificaria a sua conduta, praticamente impondo ao Presidente do Clube, como num ultimato, que a sua permanência dependeria da saída do treinador.

Fred é o terceiro maior artilheiro da história do clube. Foi imprescindível nas campanhas de 2009, 2010 (em certa parte) e sobretudo em 2012, mas se o seu ego não admite que seja contrariado, ainda que para o bem do Fluminense, que vá ser feliz n’outro lugar.

Será difícil ver o artilheiro vestindo outra camisa, especialmente no Brasil, mas é assim que funciona o futebol moderno. Não há romantismo, há interesses, e quando esses não se combinam mais, resta a rescisão, se possível amigável.

Hoje, Levir resolve dois problemas no Fluminense: primeiro a faz jogar futebol e, segundo, mostra que treinador de pulso não se submete a caprichos de quem quer que seja.

Ao contrário de Fred, Levir sabe que o Fluminense é muito maior do que ele.

De toda a sorte, seria muito melhor para o clube, neste momento, que o artilheiro repensasse o seu gesto, pedisse desculpas e ambos contribuíssem, cada qual com suas virtudes, para um Fluminense melhor e maior.


Seria uma atitude honrada e digna de um ídolo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Fluminense vs Tombense

A Copa do Brasil é uma competição única, especial em relação às demais. Não apenas porque é o caminho mais curto para a Libertadores da América, mas porque é democrática no sentido de proporcionar aos clubes modestos do interior deste imenso Brasil, como o Tombense, a chance de enfrentarem os maiores clubes nacionais.

E isso me traz um prazer especial, que é saber que aquele torcedor tricolor que talvez nunca tenha assistido ao seu clube do coração in loco, tem a chance de sentir de perto essa inefável emoção. É isso o que sinto quando a câmera percorre a arquibancada e estampa aqueles rostos que não escondem a alegria de estar vivenciando essa paixão.

Hoje foi a torcida tricolor de Muriaé e de outras cidades da Zona da Mata mineira que teve essa feliz experiência, a oportunidade de voltar para casa com o Fluminense ainda mais impregnado em seu coração.

O time, que a cada jogo conquista mais a confiança do treinador e da torcida, vai se consolidando numa formação definitiva. Com uma ou outra alteração, parece que essa vai ser a equipe que se encarregará de ser a base que nos dará as sonhadas alegrias em 2016. Levir, é claro, é o maior responsável por essa renovação tricolor.

Apesar disso, o Flu começou o jogo contra a modesta Tombense sofrendo sustos. De um erro de passe de Pierre, surgiram as melhores oportunidades da equipe mineira no primeiro tempo. Logo após, porém, o Tricolor se assentou em campo e passou a dominar as ações ofensivas, mesmo sem ser brilhante.

Por falar em brilhante, se o time não o foi como um todo, Scarpa e Cícero, pode-se dizer, chegaram perto disso. Cícero deu um chapéu fantástico num adversário em jogada que terminou com um gol de Scarpa bem anulado. Logo depois, com o lado de fora do pé, de um passe perfeito para Gerson fazer o primeiro gol tricolor.

Scarpa, por sua vez, foi onipresente dentro de campo. Fez de tudo e com muita qualidade, constituindo-se figura imprescindível para esse novo Fluminense.

Marcos Junio deu números finais ao primeiro tempo após belo cruzamento de Jonatham que aproveitou, em total liberdade, para marcar de cabeça.

O Tricolor reduziu o ímpeto na segunda etapa, dando campo ao adversário com o nítido propósito de explorar os contra-ataques e os erros do adversário.

Edson e Magno Alves substituíram Gerson e Fred e o time ganhou mais velocidade. Aliás, o Fluminense tem agora um treinador que não teme sacar o artilheiro quando é necessário, porque Levir deu ao time alternativas à única jogada ofensiva tricolor vigente nas últimas temporadas.

Marcos Junio fez o terceiro tricolor, o seu segundo, após belo passe de Scarpa, e foi outro que se destacou positivamente na partida, aproveitando a oportunidade proporcionada pela ausência forçada de Osvaldo.

O Flu foi a Muriaé, não foi espetacular, mas cumpriu seu objetivo: evitou a partida de volta, que ocorreria em 25 de abril, justamente no período entre as semifinais e finais do carioca. Além disso, mostrou mais uma vez que está se consolidando como equipe competitiva: está na final da primeira liga, disputará as finais do carioca e já avançou de fase na Copa do Brasil.

Ótimas perspectivas para quem não tinha nenhuma no início da temporada.

São Levir! Campeão da Copa do Brasil com Cruzeiro e Atlético, quem sabe com o Flu?

Psicologicamente, o Fluminense já é um time renovado. Gradativamente vai também evoluindo tecnicamente. As perspectivas são outras. Tudo muda quando se trabalha com gente competente.


Sorte nossa, sorte daquela torcida mineira que voltou para casa feliz com a vitória de seu time do coração.