O mundo deu adeus a Johan Cruyff, um dos
maiores jogadores do futebol mundial, ícone do carrossel holandês de 1974 e ídolo
como atleta e treinador no Ajax e no Barcelona. Sem dúvida, um dos maiores
pensadores do futebol moderno.
Com a morte de Cruyff, morre também um pouco do
futebol, daquele futebol romântico que já vem morrendo aos poucos ao longo dos
últimos anos.
Mas o que tem Johan Cruyff com o Fluminense?
Segundo o blog de Mário Magalhães, no UOL, o
craque holandês, que era comentarista esportivo durante a Copa de 1982, entrevistou
Telê Santana, oportunidade em que o mestre tricolor ouviu do holandês queixas
sobre o exercício da profissão de treinador em seu país, que exigia diplomas e
certificados. Era desejo de Cruyff, após pendurar as chuteiras, exercer a
profissão de treinador.
Telê, que sempre teve em seu coração o
Fluminense, diante daquela pérola em busca de emprego, tratou de providenciar
que o craque iniciasse no Clube das Laranjeiras a nova profissão.
Algumas tratativas foram feitas com os cartolas
tricolores de então, mas não houve acordo quanto às bases salariais, inferiores
ao que pretendia Cruyff. Soube-se, posteriormente, que por detalhes o acordo
não foi fechado, mas e se tivesse sido?
Imagino o quanto poderia ter sido importante para
o futebol brasileiro – e nesse momento é preciso pensar mais do que no próprio
Fluminense – se o holandês tivesse aportado em terras brasileiras para comandar
o escrete tricolor.
Provavelmente seu conceito tático de jogo ofensivo,
incisivo, vistoso e eficiente, que pregava a polivalência dos jogadores dentro
de campo, posse de bola e domínio avassalador sobre os adversários e que mais
tarde foi aplicado com sucesso no Barcelona, pudesse ter revolucionado o
futebol brasileiro.
Talvez o 7 a 1 pudesse ter sido evitado, talvez
seus conceitos influenciassem gerações de treinadores, talvez não tivéssemos
que conviver com Drubscks, Endersons, Baptistas, Cristóvãos e muitos outros
impostores.
Infelizmente Cruyff não veio. Foi ser treinador
do Ajax em 1986 e depois no Barcelona de 1988 a 1986, criou a filosofia que
nos encanta até hoje e que tornou o time catalão um dos mais vitoriosos do
mundo.
O Fluminense não foi o laboratório da sua arte
por pouco. Perdemos todos os brasileiros amantes do futebol.
Mas a vida por aqui seguiu sem o holandês e o
sonho da laranja mecânica tupiniquim morreu naquela já distante década de 1980.
De lá para cá temos assistido de camarote ao futebol europeu sobrepujar o
nosso, preço que se paga pela acomodação de quem um dia já teve o status de melhor futebol do mundo, mas
jamais buscou a evolução.
O futebol brasileiro estagnou-se no tempo e
perdeu-se na vaidade, orgulho e corrupção de seus dirigentes.
O Fluminense não formou seu carrossel, mas
sobreviveu às intempéries do futebol, inclusive com cinco títulos nacionais, e
à sua própria incompetência que, em certos momentos, quase o levou à ruína.
Águas passadas, porém, não movem moinhos.
Hoje temos Levir, a quem minimamente devemos um
sentido de organização numa equipe vilipendiada por tanto tempo de descaso e a
classificação para a disputa da final da primeira liga Rio-Sul-Minas. Muito
ainda será feito. O caos leva tempo para ser corrigido e Levir, paulatinamente,
encontrará um padrão para o Flu.
Uma nova história precisa ser contada e o ano,
que parecia fadado ao insucesso, nos concede a esperança de sonhar com dias
melhores. Então sonhemos.