domingo, 27 de março de 2016

O Fluminense e Cruyff

O mundo deu adeus a Johan Cruyff, um dos maiores jogadores do futebol mundial, ícone do carrossel holandês de 1974 e ídolo como atleta e treinador no Ajax e no Barcelona. Sem dúvida, um dos maiores pensadores do futebol moderno.

Com a morte de Cruyff, morre também um pouco do futebol, daquele futebol romântico que já vem morrendo aos poucos ao longo dos últimos anos.

Mas o que tem Johan Cruyff com o Fluminense?

Segundo o blog de Mário Magalhães, no UOL, o craque holandês, que era comentarista esportivo durante a Copa de 1982, entrevistou Telê Santana, oportunidade em que o mestre tricolor ouviu do holandês queixas sobre o exercício da profissão de treinador em seu país, que exigia diplomas e certificados. Era desejo de Cruyff, após pendurar as chuteiras, exercer a profissão de treinador.

Telê, que sempre teve em seu coração o Fluminense, diante daquela pérola em busca de emprego, tratou de providenciar que o craque iniciasse no Clube das Laranjeiras a nova profissão.

Algumas tratativas foram feitas com os cartolas tricolores de então, mas não houve acordo quanto às bases salariais, inferiores ao que pretendia Cruyff. Soube-se, posteriormente, que por detalhes o acordo não foi fechado, mas e se tivesse sido?

Imagino o quanto poderia ter sido importante para o futebol brasileiro – e nesse momento é preciso pensar mais do que no próprio Fluminense – se o holandês tivesse aportado em terras brasileiras para comandar o escrete tricolor.

Provavelmente seu conceito tático de jogo ofensivo, incisivo, vistoso e eficiente, que pregava a polivalência dos jogadores dentro de campo, posse de bola e domínio avassalador sobre os adversários e que mais tarde foi aplicado com sucesso no Barcelona, pudesse ter revolucionado o futebol brasileiro.

Talvez o 7 a 1 pudesse ter sido evitado, talvez seus conceitos influenciassem gerações de treinadores, talvez não tivéssemos que conviver com Drubscks, Endersons, Baptistas, Cristóvãos e muitos outros impostores.

Infelizmente Cruyff não veio. Foi ser treinador do Ajax em 1986 e depois no Barcelona de 1988 a 1986, criou a filosofia que nos encanta até hoje e que tornou o time catalão um dos mais vitoriosos do mundo.

O Fluminense não foi o laboratório da sua arte por pouco. Perdemos todos os brasileiros amantes do futebol.

Mas a vida por aqui seguiu sem o holandês e o sonho da laranja mecânica tupiniquim morreu naquela já distante década de 1980. De lá para cá temos assistido de camarote ao futebol europeu sobrepujar o nosso, preço que se paga pela acomodação de quem um dia já teve o status de melhor futebol do mundo, mas jamais buscou a evolução.

O futebol brasileiro estagnou-se no tempo e perdeu-se na vaidade, orgulho e corrupção de seus dirigentes.

O Fluminense não formou seu carrossel, mas sobreviveu às intempéries do futebol, inclusive com cinco títulos nacionais, e à sua própria incompetência que, em certos momentos, quase o levou à ruína.

Águas passadas, porém, não movem moinhos.

Hoje temos Levir, a quem minimamente devemos um sentido de organização numa equipe vilipendiada por tanto tempo de descaso e a classificação para a disputa da final da primeira liga Rio-Sul-Minas. Muito ainda será feito. O caos leva tempo para ser corrigido e Levir, paulatinamente, encontrará um padrão para o Flu.


Uma nova história precisa ser contada e o ano, que parecia fadado ao insucesso, nos concede a esperança de sonhar com dias melhores. Então sonhemos.

domingo, 20 de março de 2016

Pondo ordem na casa

Levir Culpi chegou ao Flu para ser a esperança por dias melhores depois de sucessivos equívocos praticados pelo Departamento de Futebol Tricolor. Foram tantos equívocos nas escolhas de seus antecessores, e tão graves, que o próprio Levir, há doze dias no comando do Fluminense, admitiu que ainda levará tempo para encontrar uma identidade para a equipe.

Quando Levir diz que levará tempo para encontrar uma identidade para o time, utiliza-se de um eufemismo para dizer que encontrou uma verdadeira bagunça e precisará reorganizar a casa.

Essa avaliação do nosso treinador revela que todo o planejamento do ano foi desperdiçado com a equivocada manutenção de Eduardo Baptista para a temporada de 2016. Foi ele quem participou da pré-temporada e auxiliou na escolha de nomes para compor o elenco tricolor. A sua saída, que já era esperada em virtude da sua inaptidão para a função que exercia, corrigiu, ainda que tardiamente o equívoco, mas trouxe um enorme prejuízo para o ano tricolor.

E o prejuízo se nota bem claramente agora, quando Levir, na segunda quinzena de março, reconhece que precisará de mais tempo para reorganizar o time, dando-lhe a sua própria identidade. Praticamente nada do que foi feito pelo antigo treinador poderá ser aproveitado, senão seus muitos erros que devem servir para que Levir siga por outros caminhos.

Esse atraso, ou melhor, retrocesso, só teve uma consequência prática: impedir que o Fluminense largasse para a temporada em condições de igualdade com as demais equipes do futebol brasileiro.

Hoje, no Fla x Flu, Levir fará a sua terceira partida à frente do Tricolor e terá a oportunidade de sentir a equipe com a presença de Fred. Ele já sinalizou que há carências e que fará mudanças, algumas já percebidas hoje, mas a principal será dar ao Fluminense alternativas ofensivas fugindo das monossilábicas estratégias de seus antecessores, que tinham em Fred a opção única e inalterável de ataque.

O novo treinador, que de bobo não tem nada, sabe que os passes longos e os chuveirinhos para Fred podem funcionar em algumas oportunidades, mas não funcionam sempre, sobretudo quando a equipe é marcada sob pressão e o artilheiro sofre vigilância individual. Criar alternativas a essa estratégia frágil passa então a ser uma necessidade, mesmo e principalmente com a presença de Fred em campo.

Surpreender o adversário com o avanço dos meias e retirar do Flu aquela pecha de previsibilidade não será uma tarefa das mais fáceis, pois a equipe está acostumada a jogar para Fred, que é, há muito tempo, a única referência na frente.

Se não houver entraves, creio que Levir encontrará a melhor solução. Mas é preciso de tempo para por ordem na casa e em todos os setores da equipe, porque uma estrutura que foi relegada a segundo plano nesses últimos dois anos não será reorganizada em poucos dias. Este será o seu terceiro teste (o segundo com a equipe principal) para encontrar um padrão tático definido e reconstruir o Fluminense como equipe, reagrupando peças, formulando novas estratégias e injetando moral no grupo.


E eu acredito que este Fla X Flu na terra da garoa será o marco inicial para que o Fluminense torne a ter novamente a cara de um time vencedor. Temos um treinador, temos um time, falta voltar a vencer um clássico e, principalmente, mostrar ao torcedor que a equipe pode se renovar em espírito sob o comando de Levir Culpi. Se vencer o Flamengo hoje, e com bom futebol, o Fluminense dará um importante passo para recuperar sua autoestima e realinhar-se na busca de melhores dias, sendo protagonista e não mero coadjuvante das principais competições nacionais.

domingo, 13 de março de 2016

Fla-Flu na pauliceia

Aleluia! Depois de tanta insensatez, a nossa vetusta FERJ agiu com bom-senso. O Fla-Flu na terra da garoa é uma bola dentro.

Sem estádios próprios para disputar jogos oficiais, sem o Maracanã e o Engenhão, sobram as alternativas de sempre para que a dupla mande seus jogos: Moacyrzão, Estádio da Cidadania, Giulite Coutinho. Nenhum desses, porém, apto a suportar a grandeza do clássico.

Fora do Rio, as opções de Juiz de Fora e Vitória seriam viáveis. Mas, São Paulo é São Paulo. Um Fla-Flu na Terra da Garoa seria uma atração e tanto para o povo paulistano, para os tricolores e rubro-negros que moram por lá e para os turistas. Nesse combalido campeonato carioca, talvez seja o jogo mais interessante de se assistir, justamente por ser sediado na capital paulista.

O Pacaembu é um estádio tradicional, bem localizado e seu gramado é um tapete. Imagino o paulistano que deseje um programa diferente após aquela bela macarronada de domingo. Nada melhor do que assistir ao clássico mais tradicional do Brasil em sua própria casa. Assim, quem sabe, não angariamos alguns simpatizantes por lá.

O Santos já fez muito disso aqui no Rio na década de 1960. O Corinthians já mandou jogos no Maracanã mais recentemente. Essa interação, independentemente da rixa futebolística entre paulistas e cariocas, é salutar para o futebol brasileiro. O meu saudoso pai, tricolor de quatro costados, tinha o Santos como o seu segundo time e me contava que o Maraca lotava para assistir ao escrete da Vila Belmiro de Pelé e cia.

São outros tempos, sem o glamour de outrora, mas parece de bom alvitre que, vez por outra, essa conexão possa ser realizada entre as cidades irmãs.

Sem estádios, porque com o Maracanã nunca se sabe quando se poderá contar, o Pacaembu poderá ser mais uma opção de mando de campo de tricolores e rubro-negros futuramente.

São Paulo fica a um pulo daqui na ponte-aérea, o que significa menos desgaste para os jogadores do que se a partida fosse disputada em Volta Redonda ou Macaé, por exemplo.

Há a questão da torcida. Mas qual a diferença entre a quantidade de público que vai aos jogos do Flu nesta malfadada competição e a que irá em São Paulo? E, num clássico como esse, as famílias se ausentam temendo a violência, sobretudo quando o jogo não é no Maracanã. Além disso, tem muito tricolor que trabalha por lá que poderá antecipar o seu retorno no domingo para prestigiar o Fluminense.

São Paulo, por sua importância e grandiosidade, merece receber o maior clássico brasileiro pela segunda vez na história – a primeira foi em 1942, quando ocorreu um empate sem gols.

São Paulo merece sentir o cheiro de um Fla-Flu, viver um pouco dessa história, embriagar-se dessas cores. Certamente, o domingo, 20 de março de 2016, acrescentará a todas as virtudes paulistanas mais uma: a honra de sediar o mais importante clássico do futebol nacional.


A pauliceia desvairada de Mario de Andrade merece, e o poeta, maior amante de São Paulo, de onde estiver, sorrirá.

domingo, 6 de março de 2016

Vida nova

Acabaram as especulações. Temos um treinador: Levir Culpi. Não digo “novo” treinador, porque os seus últimos antecessores no cargo eram aprendizes, estudiosos, amadores, curiosos, qualquer coisa menos treinador de futebol. Depois de um longo e tenebroso inverno, poderemos olhar para o banco de reservas e ver alguém que tenha minimamente a capacidade de comandar a equipe. Aliás, mais do que minimamente, porque se Levir não era o sonho de consumo da torcida – e nem o meu – pelo menos tem história no futebol.
                   
Não que seja uma história de grandes conquistas, mas é incontestável que entende do que faz. O seu currículo, embora restrito a conquistas regionais, duas copas do Brasil, duas Recopas e dois campeonatos brasileiros da série B, é um currículo:

Inter de Limeira - Campeonato Brasileiro - Série B1988;
São Paulo - Campeonato Paulista2000;

E se é para apostar, que se aposte com um Levir, não com um Drubscky.

Não quero especular como será a sua relação com Fred. Para ter autonomia e desenvolver o seu trabalho, inexoravelmente, em algum momento, eles entrarão em rota de colisão. Se quiser dar à equipe uma nova forma, precisará criar alternativas ao artilheiro, mesmo quando ele estiver dentro de campo, e isso poderá desagradar o artilheiro, que tinha sobre Cristóvão, Drubscky, Enderson e Eduardo controle absoluto. Esse será um dos seus maiores problemas. O outro será acertar essa defesa.

Provavelmente indicará algum nome para o elenco, tentará inicialmente mexer pouco na equipe, mas com o tempo será necessário implementar o seu próprio estilo, o que esperamos, seja suficiente para dar ao Fluminense uma cara nova, diferente daquela cara que nunca foi a do verdadeiro Fluminense.

O tempo já foi perdido. Quando o  Fluminense optou por contratar amadores, agiu ele próprio com amadorismo. Um comandante tem que ser o líder, o estrategista e nunca deveria ter sido relegado a segundo plano. Foi um erro crasso que foi corrigido com a contratação de Levir. Se vai dar certo ou não, são outros quinhentos. Pelo menos tem nome e história para ser um treinador de uma equipe da grandeza do Tricolor.

E se temos treinador, temos também novo uniforme – enquanto escrevo esta coluna a festa de lançamento ocorre e, por isso, não posso opinar sobre o manto tricolor. A DryWorld apostou no Fluminense e o Fluminense na empresa canadense. Depois de quase vinte anos com a Adidas, o Tricolor espera ser mais valorizado. E já está sendo, pois o contrato é mais vantajoso financeiramente para o Flu. Mas também é preciso atender o varejista com presteza e quantidade suficiente para a demanda. E o principal: a a qualidade do material. É uma parceria que tem tudo para dar certo.

As esperanças renascem nos tricolores. Um treinador de verdade, novo uniforme e a expectativa de que o Fluminense torne a ser o time guerreiro de outrora. O torcedor tem saudades do time brioso e competitivo que se apresentou pela última vez já no distante ano de 2012. Levir terá a missão de resgatar o espírito daquela conquista e precisará de paz para trabalhar. Sejamos pacientes, portanto. O Fluminense agradece.





[1] Fonte: Wikipédia.