Meu saudoso pai me dizia que um árbitro, quando
é um bom roubador, não marca lances capitais ostensivamente de forma a
prejudicar a equipe que deseja “operar”. Ele é dissimulado, e consegue seu
intento através de marcações que não “indignarão” a mídia desportiva. Por
exemplo, inverte algumas faltas, “amarela” jogadores desnecessariamente,
“picota” o jogo etc.
O senhor Vuaden, porém, useiro e vezeiro em
prejudicar o Fluminense – minha lembrança alcança um Fluminense e Vitória no
Barradão em 2008 como um dos seus primeiros descalabros – é daqueles que pouco
se preocupam em dissimular seus intentos. É ao mesmo tempo sutil e ostensivo, ladravaz
escancarado, que não se esconde atrás da embromação típica dos bons roubadores.
Mostra logo a sua cara, amarra o jogo como manda o manual do bom vigarista, mas
não se contém quando aparece aquela oportunidade de ouro, mesmo que esdrúxula,
de definir os rumos de uma partida.
Vuaden é, portanto, um péssimo ladrão. Tanto é
que naquela partida a que fiz referência em 2008, foi suspenso pela comissão de
arbitragem, presidida pelo próprio Sérgio Corrêa, por ter deixado de assinalar
dois pênaltis claríssimos a favor do Fluminense.
E de que adiantou? Sete anos depois, outras
tantas partidas e prejuízos após, lá estava Vuaden novamente para tirar do
Fluminense a oportunidade de ouro de praticamente definir a classificação para
as finais da Copa do Brasil.
E de que adiantará nova suspensão? De nada.
Porque se não for Vuaden – e não duvido de que torne a prejudicar o Flu
futuramente – será outro. Mas não quero aqui falar sobre essa arbitragem
desqualificada e tendenciosa que manipula jogos como peças num tabuleiro de
xadrez, a fim de atender a interesses outros, que são tudo, menos relacionados
ao futebol.
Prefiro enaltecer a atitude do Presidente Peter
Siensen que, logo após o jogo, fez uso de sua condição de mandatário maior do
Fluminense Football Club para repudiar, veementemente, a rapinagem que se viu
dentro de campo.
Mais do que um direito, é um dever do
Presidente fazer a defesa institucional do clube. Defesa esta que, em diversas
outras oportunidades, não foi praticada, deixando à mercê de uma mídia
hipócrita e de uma turba ignóbil o torcedor tricolor.
E, por isso, o presidente já foi muito
criticado.
As suas palavras após o jogo contra o
Palmeiras, portanto, surpreenderam a muitos, inclusive a mim. Uma surpresa
positiva, por certo. Peter deixou de lado a sua habitual fidalguia, a sua
excessiva parcimônia, para esbravejar, com a mais absoluta razão, contra o
senhor Vuaden e a arbitragem comandada pelo senhor Sérgio Corrêa, o mesmo que
suspendeu o “apitador” de Flu e Palmeiras há longínquos sete anos.
Penso que as palavras do presidente, de tão
eloquentes, possuirão muito mais efetividade do que representações ou
suspensões inócuas. Vale lembrar que o próprio Vuaden já foi suspenso por
prejudicar o Fluminense e parece que a reprimenda apenas serviu para reverberar
nele ainda maior rancor em relação ao clube das Laranjeiras.
Não percebi, na entrevista, qualquer
desequilíbrio ou abuso, senão um desabafo sincero de um presidente, que antes
de tudo é um torcedor, sobre os reiterados erros de arbitragem de que o
Fluminense tem sido vítima. Vuaden foi apenas a gota d’água nesse turbilhão de
malfeitos contra o Tricolor das Laranjeiras.
Alguém poderia sugerir que a posição de um
presidente de um clube como o Fluminense deveria ser mais equilibrada, comedida
e que Peter talvez pudesse agir através dos meios legais e administrativos que
têm à disposição como mandatário do clube. Não discuto que outras medidas
possam e devam ser adotadas contra esse árbitro e essa comissão de arbitragem,
mas tolher o seu direito, melhor dizendo, dever, de defender a instituição
Fluminense, seja por que via for, não me parece o melhor entendimento.
Peter Siemsen não é o presidente de uma empresa
como a Avon, Boticário, Panco etc. Peter Siemsen é presidente do Fluminense
Football Club, cujo CNPJ exprime muito mais do que um cadastro de pessoa
jurídica, externa a paixão de milhões de torcedores ávidos por uma defesa plena,
célere e efetiva do clube contra todos os descalabros de que é vítima.
Certamente será punido por suas palavras,
punição esta que não afetará em nada o desempenho da equipe dentro de campo.
Também não se deve argumentar que a manifestação do mandatário tricolor possa
trazer outros malefícios ao Fluminense, como perseguições da CBF ou da comissão
de arbitragem. Ora, isso já ocorre há tempos e era preciso que alguém se
insurgisse, e ninguém melhor do que a figura mais importante do clube.
Pior do que está não pode ficar e, no mínimo,
Peter Siemsen deixou consignado para milhões de pessoas o absurdo que é a
arbitragem nacional hodierna. Talvez nada se modifique, Peter será sancionado,
o Flu continuará a ser surrupiado, mas o presidente não perdeu a oportunidade
de agir como presidente. Cumpriu seu papel institucional e orgulhou uma torcida que ansiava há tempos por vê-lo
defender o Fluminense como defendeu na última quarta-feira.
Que o arsenal do nosso presidente não tenha se
esgotado, porque o Fluminense e a sua torcida precisam de quem os defenda
sempre.