segunda-feira, 26 de outubro de 2015

CNPJ tricolor

Meu saudoso pai me dizia que um árbitro, quando é um bom roubador, não marca lances capitais ostensivamente de forma a prejudicar a equipe que deseja “operar”. Ele é dissimulado, e consegue seu intento através de marcações que não “indignarão” a mídia desportiva. Por exemplo, inverte algumas faltas, “amarela” jogadores desnecessariamente, “picota” o jogo etc.

O senhor Vuaden, porém, useiro e vezeiro em prejudicar o Fluminense – minha lembrança alcança um Fluminense e Vitória no Barradão em 2008 como um dos seus primeiros descalabros – é daqueles que pouco se preocupam em dissimular seus intentos. É ao mesmo tempo sutil e ostensivo, ladravaz escancarado, que não se esconde atrás da embromação típica dos bons roubadores. Mostra logo a sua cara, amarra o jogo como manda o manual do bom vigarista, mas não se contém quando aparece aquela oportunidade de ouro, mesmo que esdrúxula, de definir os rumos de uma partida.

Vuaden é, portanto, um péssimo ladrão. Tanto é que naquela partida a que fiz referência em 2008, foi suspenso pela comissão de arbitragem, presidida pelo próprio Sérgio Corrêa, por ter deixado de assinalar dois pênaltis claríssimos a favor do Fluminense.

E de que adiantou? Sete anos depois, outras tantas partidas e prejuízos após, lá estava Vuaden novamente para tirar do Fluminense a oportunidade de ouro de praticamente definir a classificação para as finais da Copa do Brasil.

E de que adiantará nova suspensão? De nada. Porque se não for Vuaden – e não duvido de que torne a prejudicar o Flu futuramente – será outro. Mas não quero aqui falar sobre essa arbitragem desqualificada e tendenciosa que manipula jogos como peças num tabuleiro de xadrez, a fim de atender a interesses outros, que são tudo, menos relacionados ao futebol.

Prefiro enaltecer a atitude do Presidente Peter Siensen que, logo após o jogo, fez uso de sua condição de mandatário maior do Fluminense Football Club para repudiar, veementemente, a rapinagem que se viu dentro de campo.

Mais do que um direito, é um dever do Presidente fazer a defesa institucional do clube. Defesa esta que, em diversas outras oportunidades, não foi praticada, deixando à mercê de uma mídia hipócrita e de uma turba ignóbil o torcedor tricolor.

E, por isso, o presidente já foi muito criticado.

As suas palavras após o jogo contra o Palmeiras, portanto, surpreenderam a muitos, inclusive a mim. Uma surpresa positiva, por certo. Peter deixou de lado a sua habitual fidalguia, a sua excessiva parcimônia, para esbravejar, com a mais absoluta razão, contra o senhor Vuaden e a arbitragem comandada pelo senhor Sérgio Corrêa, o mesmo que suspendeu o “apitador” de Flu e Palmeiras há longínquos sete anos.

Penso que as palavras do presidente, de tão eloquentes, possuirão muito mais efetividade do que representações ou suspensões inócuas. Vale lembrar que o próprio Vuaden já foi suspenso por prejudicar o Fluminense e parece que a reprimenda apenas serviu para reverberar nele ainda maior rancor em relação ao clube das Laranjeiras.

Não percebi, na entrevista, qualquer desequilíbrio ou abuso, senão um desabafo sincero de um presidente, que antes de tudo é um torcedor, sobre os reiterados erros de arbitragem de que o Fluminense tem sido vítima. Vuaden foi apenas a gota d’água nesse turbilhão de malfeitos contra o Tricolor das Laranjeiras.

Alguém poderia sugerir que a posição de um presidente de um clube como o Fluminense deveria ser mais equilibrada, comedida e que Peter talvez pudesse agir através dos meios legais e administrativos que têm à disposição como mandatário do clube. Não discuto que outras medidas possam e devam ser adotadas contra esse árbitro e essa comissão de arbitragem, mas tolher o seu direito, melhor dizendo, dever, de defender a instituição Fluminense, seja por que via for, não me parece o melhor entendimento.

Peter Siemsen não é o presidente de uma empresa como a Avon, Boticário, Panco etc. Peter Siemsen é presidente do Fluminense Football Club, cujo CNPJ exprime muito mais do que um cadastro de pessoa jurídica, externa a paixão de milhões de torcedores ávidos por uma defesa plena, célere e efetiva do clube contra todos os descalabros de que é vítima.

Certamente será punido por suas palavras, punição esta que não afetará em nada o desempenho da equipe dentro de campo. Também não se deve argumentar que a manifestação do mandatário tricolor possa trazer outros malefícios ao Fluminense, como perseguições da CBF ou da comissão de arbitragem. Ora, isso já ocorre há tempos e era preciso que alguém se insurgisse, e ninguém melhor do que a figura mais importante do clube.

Pior do que está não pode ficar e, no mínimo, Peter Siemsen deixou consignado para milhões de pessoas o absurdo que é a arbitragem nacional hodierna. Talvez nada se modifique, Peter será sancionado, o Flu continuará a ser surrupiado, mas o presidente não perdeu a oportunidade de agir como presidente. Cumpriu seu papel institucional e orgulhou  uma torcida que ansiava há tempos por vê-lo defender o Fluminense como defendeu na última quarta-feira.


Que o arsenal do nosso presidente não tenha se esgotado, porque o Fluminense e a sua torcida precisam de quem os defenda sempre.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Foco e paz

Embora possa não parecer, eu gosto tanto de futebol quanto de política. São assuntos que, invariavelmente, ocupam parcela considerável das minhas elucubrações diárias. Mas tanto um quanto outro eu trato de forma reservada. Futebol, só com tricolores e, política, apenas com a minha consciência ou com um ou outro que me procure reservadamente.

Digo a política “política”, aquela que, gostemos ou não, vivenciamos no dia a dia e que, desde sempre, nos causa, com ou sem razão, enorme abjeção. Tramoias, negociatas, esquemas obscuros, corrupção, falsidades e outras manifestações nefastas que, justa ou injustamente, estão indissociavelmente relacionados aos políticos e às suas atividades.

Eu acreditava, porém, que essa “política rasteira” jamais pudesse se misturar ao futebol, ao ambiente clubístico e suas disputas eleitorais, uma vez que as eleições, em regra, e especificamente em relação ao Fluminense, sempre foram restritas aos seus sócios-proprietários, o que não extrapolava um quadro bastante restrito de eleitores.

As campanhas, assim, se desenvolviam de forma “mais ou menos” harmônicas, oportunidade em que as intrigas, as acusações levianas ou mesmo as fundamentadas, restringiam-se às discussões nas áreas sociais do clube sem maiores repercussões extramuros.

Ocorre, contudo, que as próximas eleições presidenciais do Fluminense ocorrerão daqui a aproximadamente um ano e dela poderão participar, por disposição contratual e estatutária, mais de vinte mil sócios, incluindo-se, aí, os da categoria sócio-torcedor.

Essa expansão abrupta do número de eleitores trouxe duas consequências imediatas: democratizou o processo eleitoral, proporcionando ao torcedor “comum” (leia-se aquele que não era sócio-proprietário ou contribuinte do clube) a oportunidade de decidir os rumos do Fluminense, mas, por outro lado, trouxe aquilo que há de pior na política cotidiana para a disputa eleitoral.

Com um colégio de eleitores que ultrapassa o de muitas cidades no Brasil, situação e oposição precisam mostrar serviço. Talvez por isso, a disputa eleitoral já esteja em plena efervescência há meses. E o pontapé inicial coube ao nosso atual presidente, que deixou clara a sua predileção pelo atual vice de futebol, Mario Bittencourt, para substituí-lo em 2016.

Transformou-o, de um dia para o outro, de advogado do clube a vice de futebol. Seria como, por exemplo, um prefeito que desejasse fazer o seu sucessor, o indicasse para a secretaria de obras do Município Com tratores e asfalto muitos votos são conquistados.

Pois foi exatamente isso o que o presidente fez, deu a Mario asfalto, tratores e tudo o mais para que, como vice de futebol, mostrasse ao eleitor que poderia ser tão brilhante quanto o é como advogado.

Acontece que o asfaltamento esburacou rapidamente e os planos de mostrar Mario Bittencourt como candidato imbatível à sucessão presidencial mostraram-se precipitados e irresponsáveis.

Crises, desmandos e outras turbulências foram a tônica da gestão do atual vice de futebol, situações que interferiram diretamente no desempenho do time dentro de campo.

O Fluminense tornou-se, então, campo fértil para que parte da oposição pudesse trazer à tona deslizes administrativos e criticar, construtivamente ou não, com razão ou não, os desmandos da atual administração.

Transmudaram-se, assim, todas aquelas práticas nefastas para o ambiente eleitoral do clube. A máquina administrativa trabalhando a todo o vapor pelo seu candidato e, parte da oposição, torcendo para o “quanto pior melhor”.

Ninguém pode antecipar quem levará a melhor nessa disputa, mas o que se pode dizer, de antemão, é que as disputas internas pelo poder no clube trazem ao futebol os reflexos das mazelas dessa guerra política, interferindo direta e negativamente nos resultados dentro de campo.

Se alguém auferirá frutos nas urnas dessa derrocada tricolor nos últimos anos, também não se pode prever. Há que se considerar, no entanto, que o Fluminense tem boas chances de conquistar mais um título nacional daqui a poucas partidas e, independentemente do que a conquista dessa competição possa acarretar em termos políticos, é preciso que situação e oposição estejam imbuídas de que o importante neste momento (e deveria sê-lo em todos os outros também) é o Fluminense.

Menos vaidade à situação, mais consciência à parcela da oposição é tudo de que o Fluminense precisa para seguir adiante o seu caminho rumo à conquista de mais uma competição nacional e à tão sonhada vaga na Libertadores de 2016.

Todos somos testemunhas de quanto as intercorrências políticas prejudicaram o desempenho tricolor nos últimos anos e ninguém, que se arvore verdadeiramente tricolor, deseja que esses conflitos internos prossigam atrapalhando os rumos do Fluminense.

O momento, portanto, é de foco na Copa do Brasil e de paz interna, nem que essa paz seja, na verdade, apenas uma trégua, porque o interesse maior sempre deverá ser o do Fluminense.




segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Vale a pensa processar Peninha?

Vale a pena processar Peninha?

Eduardo Bueno, jornalista gaúcho, a quem atribuem também o “status” de historiador – foi contratado para produzir uma série de livros sobre o descobrimento do Brasil; depois se empolgou e escreveu outros menos importantes – é também um sonoro babaca.

A torcida do Internacional já o conhece há tempos. A do Fluminense o conheceu melhor quando, no programa “Extraordinários”, do Sportv, perpetrou uma comparação esdrúxula entre a contratação de Ronaldinho Gaúcho – desafeto dos gremistas – e o Fluminense, anunciando em cadeia nacional, através daquele programa de TV por assinatura, que o Flu “é o clube mais mau caráter do Brasil” em alusão à permanência do Tricolor na série A do campeonato brasileiro em 2014.

Todos sabemos, e o senhor Peninha também sabe, que a permanência do Flu decorreu do imbróglio lusagate, a maior farsa do futebol brasileiro contemporâneo, onde a Portuguesa de Desportos foi comprada para escalar um jogador irregular e, assim, salvar o Flamengo do rebaixamento.

O senhor Peninha sabe disso, porque é um cara inteligente. Mas, tanto quanto inteligente, é um estúpido. Daqueles que vociferam asneiras apenas para tripudiar dos adversários, sem qualquer embasamento lógico ou fundamento palpável.

O problema é que as tolices do pseudo-apresentador e pseudo-historiador são engraçadas apenas para ele e para os seu séquito de bajuladores gremistas. No intuito de tripudiar, Peninha pode, eventualmente, cometer crimes, ou mesmo, praticar ilícitos civis que possam ser reparados pela via judicial.

É um risco que se corre.

Ao se referir ao Fluminense como “o clube mais mau caráter do Brasil”, o senhor Peninha se afasta da esfera da liberdade de expressão para praticar uma ofensa com repercussão na reputação ilibada do Fluminense Football Club. E essa ofensa gera um prejuízo moral – empresas, clubes, pessoas jurídicas têm reputação a ser protegida – que pode e deve ser perquirido pela via judicial.

E, por entender que o Fluminense foi ofendido em sua honra, o clube ajuizou ação judicial contra o senhor Eduardo Bueno. Situação semelhante já havia ocorrido quando o Flu impetrou ação judicial de reparação por danos morais contra o presidente da Portuguesa, Ilídio Lico. Em ambas, penso, o Flu está coberto de razão.

Não que as ações judiciais apaguem a pecha que a imprensa ajudou a criar de que o Fluminense seria um clube dado às “viradas de mesa” e outras “falcatruas”. Isso não se apaga. Dependeria de um processo muito mais longo e complexo, que abarcasse reiteradas matérias jornalísticas que mostrassem o quão desacertadas e irresponsáveis foram as máculas atiradas ao nosso Fluminense durante todos esses anos.

Mas isso não é do interesse do grande mídia.

Por enquanto, como disse, o caminho é, paulatinamente, identificar e processar os detratores do Fluminense. Um processo judicial de reparação por danos morais não apaga o que foi dito, mas poderá obrigar o condenado a desembolsar uma quantia para “compensar” – essa compensação nem sempre é total – os danos morais perpetrados.

 E quando dói no bolso, pensa-se duas vezes.

Alguém poderia sugerir que um processo judicial somente daria maior repercussão ao caso e notoriedade ao ofensor, o que, nos dois casos, seria ruim para o Fluminense.

É bem certo que esse é um risco que se corre, mas são consequências menores do que a que entendo principal: o efeito inibidor, preventivo da ação.

Além de prevenir prática semelhante por parte do condenado, porque este deverá pagar ao clube indenização pelo dano moral perpetrado, servirá como uma “advertência” a terceiros que, sabedores do risco que correm de serem processados, guardarão suas “opiniões” consigo.

Recorrer ao Poder Judiciário é uma forma legítima de se buscar direitos que se acreditam violados. E nada há de mal nisso, sobretudo quando, no caso do Flu, para um juiz negar procedência à ação deverá fundamentar a sua decisão no direito do réu (Peninha) exercer livremente a sua liberdade de opinião ou ficar provado que realmente o Fluminense é o maior mau caráter do futebol brasileiro.

Entendo que a mentira, a injúria, a difamação, nem de longe justificam o exercício da liberdade de expressão e, por outro lado, para o senhor Peninha tentar provar que o Fluminense é o que disse, fatalmente provaria que os vilões são outros e que o Tricolor é apenas vítima de uma conspiração antiga que tem por objetivo torná-lo o vilão do futebol nacional.

Seria de bom alvitre que o o juiz do caso, conhecedor das “virtudes” do réu Peninha, determinasse que ele provasse as suas alegações. Afinal de contas, para um “historiador”, isto não seria muito difícil e contribuiria para mostrar a todos, como referido alhures, que as “viradas de mesa” do futebol brasileiro nunca tiveram qualquer interferência direta do Fluminense Football Club.

Sugiro, ainda, se já não o fez, que o advogado da ação, Dr. Mario Bittencourt, junte como prova número 1, o livro “Pagar o quê?”, de autoria do companheiro Andel.

Se a administração tricolor errou e acertou, talvez tenha errado mais do que acertado, dessa vez está correta. Processar os desafetos tricolores é medida que se impõe, menos pela efetiva repercussão financeira nos cofres do clube do que pela obrigação a que estará o réu impelido, podendo ser executado e ter bens penhorados, caso não cumpra a determinação judicial.

Esse é o tipo de dor de cabeça que ninguém gostaria de ter, mesmo aqueles que se acham acima do bem e do mal e que, por frequentarem programas televisivos, mesmo os de qualidade duvidosa, se arvoram no direito de dizerem de forma irresponsável o que pensam.


Não é assim que a “banda toca” pelas bandas do Laranjal, e o senhor Eduardo Bueno sentirá o “doce prazer” de sentar-se no banco dos réus. Se gostar da sensação, bastará expelir novamente de seu repertório de asneiras outra ofensa contra o Fluminense. O Judiciário está de portas abertas a quem o procura.