domingo, 28 de fevereiro de 2016

Quem paga a conta?

Mário Bittencourt, Fernando de Simone e Eduardo Baptista já são parte do passado. Após a queda de todo o departamento de futebol do Fluminense, é preciso, porém, apontar algumas responsabilidades.

Qualquer tricolor afeito às coisas do futebol sabia que Eduardo Baptista era um treinador com prazo de validade. Não apenas ele, mas Cristóvão, Drubscky e Enderson também. Alguns lhe davam um prazo mais dilatado, outros menos. Eu, por exemplo, imaginava que fosse demitido ao fim do campeonato brasileiro de 2015. Estava claro que Eduardo Baptista era uma aposta, mais uma daquelas que não deu certo, e que não havia a mínima condição técnica para se manter no comando de um clube da grandeza do Fluminense.

Eduardo Baptista foi, enfim, demitido, mas a sua demissão, embora constitua um alento, mostra também o último dos equívocos de um departamento de futebol inepto. Vale lembrar que foi ele quem participou da pré-temporada e da escolha de alguns dos nomes do atual elenco tricolor. Mantê-lo, portanto, para a temporada de 2016, além de um grave erro técnico foi também uma terrível falha de planejamento, o que pode por em risco o trabalho de um ano inteiro.

E assim também foi com os outros três citados, equívocos crassos, gastos desnecessários, planejamentos desfeitos, três anos jogados no lixo.

Contratações caras e equivocadas de jogadores também fizeram parte do rol de malfeitos ao clube. Muito dinheiro desperdiçado de forma inconsequente que ajudaram a esvaziar ainda mais os já combalidos cofres tricolores.

E de quem é a responsabilidade?

O próprio presidente Peter justificou a saída de Mario Bittencourt da vice-presidência de futebol, aduzindo que o seu projeto pessoal não poderia ser maior do que o do Fluminense. O presidente reconheceu, assim, que tudo o que Mario Bittencourt fez desde que assumiu o futebol do clube foi pensando nele, na sua candidatura a presidência e não no Fluminense. Parece que a megalomania do ex-vice de futebol teve o seu ápice no episódio Ronaldinho Gaúcho e o festival de incompetência deu ao Fluminense, nesses últimos anos, ares de uma verdadeira “casa da mãe Joana”.

R10, certamente, foi o mais emblemático dos caríssimos equívocos. Houve outros: Breno Lopes, W. Paulista, Magno Alves, Jonathan etc, etc e etc...

Dinheiro do clube que custeou o seu projeto pessoal de se candidatar com chances de vencer as eleições para presidente do Flu. Não contava, contudo, com a sua própria incompetência nos assuntos do futebol. Tanta incompetência que resolveu dar às suas estrelas treinadores de quinta categoria, porque o que importava, na sua concepção primária de conhecedor de futebol, era que dentro de campo Fred comandasse a festa rodeado de medalhões aposentados e outras barangas que trouxe para o Fluminense.

Mas a incompetência tem limite. E o limite foi a sucessão de vexames, desmandos, equívocos a que foi submetido o futebol do clube. Ultrajes e acintes à torcida em nome de um projeto pessoal.

Mas Mario já está fora e é bom lembrar também que o presidente que hoje lava as mãos foi quem encampou esse “projeto pessoal”, durante todo esse período cinzento da história tricolor. Aliás, Mário era também um projeto de Peter para a sucessão do Fluminense. Foi assim pelo menos no início, quando deu ao advogado o cargo de vice de futebol do clube, contribuindo, assim, para tudo o que de ruim foi feito desde então.

A insustentabilidade da situação nos gramados, a pressão da Flu Sócio e da torcida certamente influíram no ânimo do presidente Peter que, apesar da sua enorme parcela de responsabilidade e, embora tardiamente, agiu.

E quem paga a conta desses despropósitos? Peter, Mario? Certamente, não. Quem paga a conta como sempre, somos nós, os que sofrem pelos achincalhes a que o nosso Fluminense tem sido submetido há anos. Quem paga também são os cofres do clube pela malversação do dinheiro tricolor.

Seria de bom alvitre que os dirigentes se responsabilizassem efetivamente pelos seus malfeitos administrativos. A lei que os pune, por enquanto, é letra morta, apesar de estar em vigor desde agosto de 2015 (Lei 13155/2015, Capítulo III, que trata da gestão temerária) e a moralização do futebol ainda está longe de ser alcançada.

Não é justo que esse legado seja absorvido pelo clube. Também não é justo que seja o torcedor sempre o destinatário das consequências das irresponsabilidades dos dirigentes de seus clubes e de suas gestões temerárias. É preciso moralizar o futebol a partir de uma administração clubística eficiente, responsável e comprometida com os estatutos sociais e com os anseios do torcedor. Vale dizer: é preciso profissionalismo para se remunerar bem os melhores, os que atinjam os objetivos e cobrar daqueles que, por incompetência ou má fé proporcionem prejuízos.

O presidente Peter, pressionado, corrigiu um erro que deveria ter evitado. Poderia – após duas vitórias consagradoras nas urnas e com o apoio maciço do conselho - ter sido um dos maiores presidentes da história do Fluminense, mas terminará seu mandato melancolicamente, como um administrador que embora tenha contribuído para a solução de diversos problemas financeiros do clube e reinventado Xerém, mostrou-se pusilânime na condução dos assuntos relacionados ao futebol delegando-o a pessoas de seu círculo de amizades, muitas delas sem a capacidade profissional necessária para dar um bom rumo ao mais importante departamento do Fluminense.

Mario Bittencourt, por vaidade, levará a cabo o seu projeto de ser presidente do clube, mas sem a máquina administrativa de que se serviu até ser exonerado e com um histórico de incompetência no comando do futebol tricolor. Receberá a pronta resposta do torcedor nas urnas.

Enquanto isso, livre provisoriamente da vaidade e inépcia do seu departamento de futebol, sobrevive o Fluminense à espera de novos tempos, como aqueles que se encerraram naquela tarde quente de dezembro de 2012.



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Emmanuel Coelho Netto, um herói tricolor

Emmanuel Coelho Netto, o “Mano”, morreu em 1922. O Brasil alcançava o período do modernismo cultural, quando “Mano”, ponta direita do Fluminense, entrava em campo contra o São Cristóvão e recebia uma forte pancada no abdome. Foi retirado de campo e massageado, mas como naquela época ainda não havia as substituições, mesmo sem condições físicas, tornou ao campo de jogo, agravando seu quadro, apenas para não prejudicar o seu clube do coração, permanecendo até o final da partida. Morreria 48 horas depois, no dia 30 de setembro de 1922, de infecção generalizada em decorrência do golpe sofrido. [1]

O “Mano” era o irmão mais velho  - de um total de doze – de João Coelho Netto, o “Preguinho”. Este, justamente aclamado como um dos maiores ídolos da história do Fluminense Football Club, multiatleta, campeão em oito modalidades esportivas e que, em 1925, após sagrar-se campeão de natação ajudou o seu clube a conquistar uma vitória no futebol, um verdadeiro campeão de terra e mar.

Mas a história de “Preguinho”, morto em 1979, após mais de seis décadas dedicadas ao seu clube do coração, é bem mais conhecida e reverenciada pelos torcedores, um mito que será lembrado pela eternidade como um dos maiores, senão o maior nome que já envergou a camisa tricolor em todos os tempos.

Por isso faço aqui uma exceção para falar de “Mano”, cujo sangue dos Coelho Netto honrou com galhardia, desfilando seu talento pela equipe amadora do Fluminense desde o ano de 1915 até a sua morte sete anos depois. Praticamente um desconhecido por grande parte da torcida, embora seu gesto de sacrifício supremo tenha o condão de elevá-lo ao patamar dos maiores ídolos tricolores, “Mano” é um herói que o Fluminense não pode esquecer.

Emmanuel Coelho Netto foi um desportista tricolor que honrou a camisa de seu clube e, literalmente, morreu por ele. Era outra época, por certo, uma época romântica, onde o amadorismo era a fiel expressão de que os atletas competiam por amor aos seus clubes.

Impensável hoje em dia, afinal de contas o profissionalismo, que tanto impulso deu ao futebol, também foi o responsável pelo sepultamento do “amor à camisa”. Apesar de saudosista, não prego um retorno do futebol àquela época. São outros tempos e o profissionalismo, para o bem ou para o mal, está fincado em raízes tão profundas que jamais poderia ser arrancadas.

Quando penso em “Mano”, porém, assim como quando penso em “Preguinho”, Castilho, Telê, por exemplo, penso em heróis. Heróis de carne e osso, gente que deu o suor, deu o sangue, deu a vida pelo Fluminense sem esperar nada em troca, senão a vitória dentro de campo. Penso no exemplo desses homens para as gerações futuras, penso que suas histórias deveriam ser transmitidas de pai para filho, penso que o clube deveria fomentar a divulgação desses belos exemplos de amor incondicional ao clube do coração entre seus atletas.

O exemplo arrasta, já se disse. E, conquanto os grandes ídolos tricolores já não estejam mais entre nós para contar suas histórias de amor ao Fluminense, seus exemplos permanecem vivos, como o do dedo amputado de Castilho, do contrato de “um tostão” firmado por “Preguinho” para se profissionalizar – profissionalismo que se negou a aceitar por toda a sua vida como  jogador do Fluminense, porque para ele era impensável receber para defender as cores do clube amado – e, sobretudo, o da própria existência de “Mano”, sacrificada por seu desejo incontido de defender o Fluminense, mesmo após grave lesão sofrida em campo de jogo.

São os exemplos desses heróis que devem ser contados todos os dias. Há muitos dentro do Fluminense que precisam conhecê-los. Gente que se locupleta do clube, que pratica malfeitos e de outros, ainda, que se arvoram maiores do que a instituição.

Voltar no tempo é uma quimera, mas trazer os bons exemplos de volta é uma medida que pode não curar os males do Fluminense atual, mas fará aqueles que ainda têm um pingo de consciência repensarem suas atitudes: funcionários, dirigentes e jogadores, além de dar ao torcedor um paradigma a seguir a fim de que possa reconhecer quem serve ao clube e quem se serve dele.

“Mano”, por ocasião dos cinquenta anos de sua passagem, em 1972, teve uma placa de bronze oferecida pelo clube em sua homenagem. A placa eternizou o herói. Que o eternizemos, também, não deixando que o seu exemplo morra em nossas lembranças e corações.



[1] BARBOSA JR. WALDIR, Preguinho – Confissões de um Gigante – Depoimentos do atleta João Coelho Netto ao Jornalista Waldir Barbosa, Edição do autor, Rio de Janeiro, 2013.


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Treinadores ou fantoches?

O comando do departamento de futebol do Fluminense, leiam-se Mario Bittencourt e Fernando Simone, mantém, reiteradamente, a estratégia de investir em treinadores de baixo custo para o clube e qualidade pra lá de duvidosa.

No começo, a desculpa foi a saída da Unimed, a perda do poder econômico e a aposta no “bom, bonito e barato”.

Para ser sincero, nunca acreditei nesse pretexto. As milionárias renovações dos contratos de Fred, Wagner, Jean e Cavalieri, por exemplo, não permitiram. Havia dinheiro, certamente não oriundo de uma torneira que o despejava de forma tão profusa nas Laranjeiras, mas ele existia.

E ainda houve a contratação estapafúrdia de Ronaldinho Gaúcho, outro desbarato da atual administração.

Para a atual temporada, nomes como Diego Souza e Henrique, cujos salários atingem somas elevadas, além de outros tantos que, mesmo imerecedores das vultosas quantias que recebem, continuam onerando os cofres do clube e oferecendo muito pouco ou nenhum retorno, são a prova cabal de que o Fluminense, em regra, gasta muito e gasta mal nas suas contratações.

Não questiono, evidentemente, as acertadas renovações de contrato ao fim da parceria com a Unimed, as quais deram fôlego suficiente para que o Fluminense suportasse o complicado ano que se avizinhava.

Nem é meu propósito avaliar o acerto e desacerto de cada contratação posterior. Via de regra, foram apostas que, diante da nova realidade financeira do clube, deveriam ter sido feitas.

A questão que se põe é: se havia dinheiro para contratar jogadores, por que não se considerou a hipótese de trazer um nome experimentado e vitorioso para treinador da equipe? Um técnico à altura do Fluminense não seria garantia de que desse certo. Muitos não deram, aqui e em outros clubes, mas daria ao torcedor a certeza de que haveria independência no comando técnico da equipe.

Talvez seja essa a palavra chave: independência. Cristóvão, Drubscky, Enderson e Eduardo Baptista são treinadores pouco experimentados, sem currículo e que têm, no comando do Flu, a oportunidade de ouro de suas vidas. Garantir seus empregos, portanto, deve ter sido a primeira meta que traçaram ao aceitarem trabalhar no Tricolor.

Devo imaginar, porém, que na mente desses desprestigiados treinadores, a garantia de emprego passa invariavelmente pela subserviência.

Talvez tenha sido essa subserviência, essa dependência, que os trouxe e os manteve no Fluminense, mesmo após pífios resultados. Talvez tenha sido esse critério reiteradamente repetido, num equívoco atrás do outro, desde Cristóvão até Eduardo, não se sabendo se essa cadeia irá mais longe.

Diante da cúpula do futebol tricolor, o acatamento irrestrito às suas ordens, mesmo inúmeras vezes equivocadas, além, é claro, do respeito às ponderações do líder da equipe, Fred, tenha sido preponderante para se criar um perfil adequado de treinador para o Fluminense atual.

Um perfil adequado à diretoria e ultrajante a todos nós torcedores.

Um clube da grandeza do Fluminense não pode se submeter a títeres travestidos de treinadores que aceitam a interferência de terceiros nas suas funções. Não há outra explicação, senão a de se ter no cargo um manipulável, as contratações dos nomes anteriormente citados.

Todos têm exatamente o mesmo perfil: pouca experiência, pouco currículo e bastante docilidade.

Eduardo Baptista é o fantoche atual. O Fluminense, sob o seu comando, tem um desempenho risível de mais de vinte jogos e apenas seis vitórias, sendo uma na atual temporada. Um desempenho que não se coaduna nem mesmo com treinador de Bacaxás da vida.

Mesmo assim, contudo, continua firme a forte à frente do time, garantido pela soberba daquele para quem o ano de 2015 foi positivo.

Já disse em outros momentos que o senhor Eduardo Baptista não deveria nem mesmo ter pisado nas Laranjeiras para a temporada 2016. Foi um erro crasso de planejamento, um erro que ainda não foi corrigido porque a vaidade e a soberba de quem manda no clube não permitem, porque “dar o braço a torcer” seria o reconhecimento da incapacidade profissional desses gestores.

Será demitido em breve, logo após o próximo vexame que, espero, não ocorra contra o arquirrival em 21 de fevereiro. Que vá antes e nos poupe da galhofa e que vão também, se ainda houver hombridade, os administradores que tantos malfeitos causaram ao Fluminense nos últimos anos.

Assim, ainda poderemos sonhar com um departamento técnico profissional, eficiente e dedicado ao Fluminense, que contrate um treinador à altura do clube e não mais um fantoche. Dessa forma, quem sabe, o ano que se vislumbra sombrio possa ser iluminado pelas mentes e corações de verdadeiros tricolores, proporcionando a todos nós a esperança em dias melhores.


É preciso recuperar a dignidade perdida em algum lugar desses últimos três anos, medida que passa pela reformulação imediata e integral do departamento de futebol, antes que seja tarde demais.