segunda-feira, 13 de julho de 2015

Obrigado, Fred.

Fred chegou ao Fluminense imaturo. Ele mesmo já admitiu isso. Contagiado pelo ambiente da cidade maravilhosa, seus primeiros anos no tricolor foram mais de festa do que de trabalho. Embora sempre tenha sido um jogador diferenciado, e importantíssimo na fuga do rebaixamento em 2009, as noitadas não lhe permitiram uma sequência em alto nível no time tricolor nos seus primeiros anos nas Laranjeiras. Fez muita falta à equipe em alguns momentos, nem tanto em outros.

Mas isso é passado. O Fluminense transformou Fred num novo homem. Reparem que eu não disse num novo jogador, disse novo homem. Hoje é um atleta muito melhor do que era em 2009 e, sobretudo, um homem muito melhor do que talvez já tenha sido algum dia em sua vida.

Em algumas oportunidades externei o meu pensamento sobre o jogador. Já o critiquei e o enalteci, já falei de sua importância para o clube e do investimento feito para que fosse mantido, mesmo após o término da parceria com a Unimed. Ele vale cada centavo.

Eu nunca falei, contudo, sobre o ser humano Fred. Por vezes, quando tratamos de futebol, o que importa é o desempenho do atleta dentro de campo. Ou seja, se é bom para o clube, nada significa o seu caráter, mesmo que seja péssimo.

Fred, portanto, além de craque, é bom caráter. É ídolo e porta-se como tal. Reinventou-se e cresceu espiritualmente dentro do Fluminense, humanizou o clube com a sua filantropia, com seu amor e respeito aos fãs, com seu cuidado e atenção com os jovens atletas de Xerém.

Hoje, Fred está ciente de que, como ídolo, deve ser exemplo a ser seguido. Não seria demais dizer que é um paizão para essa garotada carente de bons exemplos dentro do futebol.

Em entrevista logo após o jogo contra o Cruzeiro, o artilheiro demonstrou, através dos olhos encharcados e da fala embargada, o quanto ama o Fluminense, o quanto são importantes os meninos de Xerém, o tamanho de seu carinho por eles, o quanto é ídolo e o quanto é humilde.

Não imaginaria ouvir da boca de qualquer medalhão, que invariavelmente acredita ser mais importante do que o clube que representa, algo do tipo: “Agradeço ao clube pela oportunidade que me deu”. Certamente, em seu âmago, o medalhão se acha acima da instituição que o acolhe.

Já me disseram que o amor não se expressa por palavras, mas por atitudes. Então, acho que posso afirmar com bastante convição que Fred ama o Tricolor.

Não é qualquer jogador, principalmente do porte do nosso artilheiro, que diz: “Eu agradeço ao Fluminense pela oportunidade que me deu.”

Com essa afirmação, Fred foi humilde e, ao mesmo tempo, grandioso o bastante para reconhecer que é ele quem deve ao clube, que a instituição sempre será maior do que ele, que ele passa e ela permanece. Alguém poderia reconhecer essa atitude como um ato de pequenez. Ledo engando. Ser humilde é, antes de tudo, ser iluminado de espírito, ser magnificente.

E a sua magnificência reverbera nos seus companheiros, que o têm como exemplo a ser seguido. Isto é ser ídolo.

Quando os seus olhos se encheram de lágrimas e a sua voz embargou, Fred quis dizer muito além do que disse aos microfones dos jornalistas. Em verdade, ele disse que ama o Fluminense do fundo de seu coração, que Álvaro Chaves é a sua casa e que a torcida tricolor é a sua família.

Alguém poderia dizer que ele é muito bem pago para fazer o que faz, ao que eu refutaria dizendo que qualquer profissional normal se prestaria apenas a realizar o seu ofício, mas Fred, todavia, vai além, ele sente o Fluminense correr em suas veias, sofre e se enleva porque ambos são, hoje, indissociáveis, amálgama de amor, virtudes e glórias.

Fred é, assim, tão importante para o Fluminense dentro de campo quanto fora dele. Dentro, por sua liderança, seu faro de artilheiro e inteligência. Fora, por seu caráter, sua humildade e grandeza de espírito.

Que tenha longa vida no Fluminense, que continue a ser o exemplo a ser seguido pelos garotos de Xerém, que continue a ser o líder e artilheiro tricolor e que, acima de tudo, continue sendo o homem que é, digno, honrado, filantropo e altruísta.

É de homens como Fred que, mais do que o Fluminense, o mundo precisa para ser melhor.


Obrigado, artilheiro, por honrar e dignificar a cada dia o nome do Fluminense Football Club.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Deputado nota zero

Eu sou um tricolor seletivo. Depois do achincalhe público decorrente do episódio Lusagate, passei a filtrar certos textos ou mesmo declarações que maculem a honra do Fluminense. Evito, pois além de não desejar me aborrecer, tenho a firme convicção de que essas ofensas não são mais do que blasfêmias contra o meu tricolor.

E foi assim que evitei ler – uma vez que as redes sociais não nos permitem estar alheios a tudo – sobre o episódio do deputado Paulo Pimenta. Vi que a coisa teve repercussão, mas me controlei para não saber do que se tratava. Até imaginava, mas conferir in loco me faz muito mal.

De tanto que a notícia se espalhou, porém, foi inevitável o aborrecimento. E é este o assunto que, infelizmente, me faz escrever estas tão amargas e decepcionadas linhas.

Não posso, em sã consciência, demonizar o deputado. Apesar de ter sido infeliz, muito infeliz em suas declarações, sobretudo quando comparou o presidente da Câmara – deputado indiciado criminalmente por crimes de corrupção e autor de outros incontáveis malfeitos públicos – ao Fluminense, o parlamentar não agiu diferente de como agiria qualquer outra pessoa que não fosse torcedora do Fluminense ou lúcida o suficiente para não incorrer na estapafúrdida comparação.

Infelizmente, repito, a culpa não é apenas dele, devendo ser compartilhada com a imprensa leviana, desonesta e irreponsável que, durante anos, atribuiu a pecha ao Fluminense de clube useiro e vezeiro em práticas sorrateiras e imorais para se livrar dos rebaixamentos desde o longínquo ano de 1996.

O ponto culminante – se não houver outro futuramente – foi a maior fraude do futebol brasileiro ocorrida em dezembro de 2013, quando interesses financeiros e escusos relacionados ao C.R. Flamengo determinaram um novo rumo ao campeonato brasileiro daquele ano. A trama sórdida capitaneada pelo clube de regatas fez naufragar a nau lusitana para que pudesse ele próprio se salvar do iminente rebaixamento, trama esta que, por via de consequência, acabou garantindo a permanência do Fluminense na divisão principal, terceiro que nenhum envolvimento teve com a negociata.

A partir daí ressuscitou-se o estigma de “Rei do Tapetão” que, difundido e potencializado aos turbilhões pela pseudo-imprensa e, em época de redes sociais, formou uma legião incomensurável de ignóbeis títeres a repetir, transformando uma mentira em verdade, as maledicências que amiúde ouvimos desde aquele fatídico mês de dezembro de 2013.

O deputado Paulo Pimenta, em que pese a sua posição como autoridade parlamentar, é apenas mais um dentre essa turba manipulada por constantes sessões de mentiras fabricadas para dar ao Fluminense a condição de vilão do futebol brasileiro.

Repudio veementemente o que ele disse. Como torcedor, como tricolor, a minha vontade seria de processá-lo ou até de cometer injúria mais grave, se resolver problemas através da violência, fizesse parte de meu estilo de vida. Graças a Deus não faz.

Como disse, contudo, a culpa não é totalmente dele. A maior parte dessa culpa advém de quem formou a sua opinião. O restante decorre da sua ignorância.

Assim, eu só consigo enxergar uma única saída que fosse viável para minimizar essa condição que nos foi imposta pela mídia: que a investigação acerca do episódio Lusagate tivesse um termo e revelasse, de forma cristalina, os verdadeiros vilões dessa sórdida história.

Afora isso, nada do que se falar ou fizer retirará essa marca, que parece indelével, de nosso currículo. Uma injustiça perpetrada por anos e que só poderá ser removida por ação da mesma imprensa que a criou.

E o Fluminense, poderia fazer alguma coisa? Uma nota de repúdio contundente talvez fosse a única reposta viável, porque, como se sabe, o parlamentar, no âmbito do exercício de suas funções legislativas, possui imunidade material, ou seja, não pode ser processado por suas opiniões, palavras e votos.

E a torcida? Como tricolor – o verdadeiro – gaúcho quase não deve existir, nem adiantaria sugerir o boicote a uma eventual candidatura futura do deputado. Assim, parece-me que encher o seu correio eletrônico possa ser considerado um desabafo justo contra o insulto que extrapolou os limites da instituição Fluminense e atingiu cada um de nós. Embora sejam os seus assessores os destinatários dos “desabafos”, por certo o deputado terá ciência de que foi profundamente injusto e infeliz nas suas palavras.

E eu? O que eu faria? Eu remeteria ao deputado Paulo Pimenta o livro do escritor Paulo Roberto Andel, “Pagar o quê?”, com a seguinte dedicatória:


Nobre deputado, este livro é um presente sincero de um tricolor que lhe roga encarecidamente a leitura, que abrirá os seus horizontes, contribuindo para o afastamento da sua ignorância e para a descoberta da verdade; não da verdade que a mídia lhe impôs, mas daquela que ela fez questão de lhe ocultar. Ao terminá-lo, o senhor constatará – por mais que não deseje revelar isso a ninguém – que o Fluminense Football Club, em seus mais de cem anos de história, tem muito mais honra e dignidade do que a Casa que o senhor atualmente representa.”