domingo, 31 de maio de 2015

Na raça!

O Flamengo recebeu a ajuda de praxe -  a expulsão de Giovani foi absurda, de tão injustificável – mas por noventa minutos, pelo menos por noventa minutos, o time de guerreiros, ressuscitado, esteve em campo.

O time com Vinícius e Gerson ganha em qualidade no meio de campo. Ambos foram os responsáveis pelas melhores jogadas do Flu enquanto estiveram na partida. Por azar, Gerson sentiu uma lesão e Vinícius foi sacrificado por substituição decorrente da expulsão de Giovani.

O time tricolor, com o primeiro gol marcado no início do jogo – após pênalti bem assinalado pela arbitragem – deu campo ao Flamengo, que teve a soberania na posse de bola, mas era muito pouco eficiente na frente. O Flu, apesar da posse diminuta, criava as melhores chances. O segundo e merecido gol originou-se de outro lance iniciado por Gerson, que serviu Renato para cruzar bola que chegaria aos pés de Fred para marcar, mas o lateral rubro-negro se antecipou e fez contra.

O Flu foi mais organizado, mais eficiente e errou menos no primeiro tempo, porém, numa falha de marcação, numa verdadeira desatenção defensiva, o Flamengo chegou ao seu gol. Gol que renovou os ânimos rubro-negros para a segunda etapa.

Mas o Fluminense jogava com qualidade e, logo no início do segundo tempo, Vinícius fez ótimo lançamento para Gerson que, não sendo egoísta, fez belo lance, poderia concluir, mas serviu Fred em melhores condições para fazer o terceiro gol.

Senhor do jogo, o tricolor administrava e poderia impor ao rival uma goleada histórica. Nesse momento, porém, a arbitragem resolveu dar a injeção de ânimo que o Flamengo queria e precisava. Uma expulsão sem pé nem cabeça do jogador tricolor Giovanni. A partir daí – Gerson já havia saído lesionado e Vinícius foi sacado – passou a ser um jogo de ataque contra defesa.

Mesmo sem qualquer saída de jogo, absolutamente recuado e sujeito a intensa pressão do adversário, poucas bolas foram chutadas em direção ao gol tricolor. Com Wagner morto em campo e Fred isolado na frente, Enderson poderia ter substituído o primeiro por um jogador mais inteiro e que puxasse contra-ataques, como Lucas Gomes, por exemplo. Preferiu a entrada de Wellington Silva que, realmente, deu alguma opção de saída pelo lado esquerdo.

Ainda assim, sob forte pressão do Fla, o tricolor mantinha-se firme em suas fileiras defensivas até que num lance de lateral cobrado rapidamente, o Flamengo chegou ao segundo gol.

Foi um lance fortuito, tanto é que o Fluminense, bravamente, continuava se defendendo bem e o fez até o final da partida, garantindo um resultado importantíssimo para as suas pretensões e pela moral que ganha para as partidas vindouras.


A vitória que deveria ter vindo contra o Corinthians apareceu hoje. Merecidíssima, por sinal. Prova de que, mais importante do que um treinador conhecer uma equipe recém-treinada, é essa mesma equipe conhecer bem o treinador adversário. Cristóvão foi apenas Cristóvão, o Flamengo continuou sendo Flamengo e o Fluminense renasceu para ser um novo Fluminense. Que assim seja!


1995, meu Fla x Flu inesquecível

Há dias inesquecíveis em nossas vidas. Episódios marcantes, nem sempre bons ou ruins, mas impactantes, que deixam registros indeléveis em nossas memórias, lembranças que compartilhamos ou guardamos conosco, mas que sempre estarão ali, prontas para serem revividas e contadas.

A decisão do campeonato carioca de 1995, a 25 de junho, um domingo chuvoso no Rio de Janeiro, foi um desses momentos inolvidáveis. Para mim, tricolor, e para o outro lado também, tenho certeza.

Às vésperas dos grandes jogos, a proximidade do Maracanã, confesso, me dava um frio na barriga. O Fla-Flu, por tudo o que sempre envolveu, pelas lendas e pelos fatos, sempre foi o meu confronto preferido, o de maior expectativa e tensão. Os primeiros, acompanhado de meu pai, a quem devo as melhores histórias sobre o clássico mais imponente do Brasil, e os últimos, já sem ele, enriqueceram o meu currículo de torcedor do Fluminense Football Club.

A final de 1995, contudo, não foi apenas mais um Fla-Flu, foi o maior da era moderna, o mais sublime que vivi.

Morava na Serra Fluminense e a expectativa que antecedia a partida final do campeonato não era parecida com a da capital. No Rio, onde vivi grande parte da experiência como torcedor tricolor, os dias que precediam um grande jogo eram de imensa expectativa. O assunto, em qualquer esquina, inevitavelmente remetia ao clássico e isso acrescia em emoção à partida. Mas na Serra, minha família, que é toda tricolor, não deixou morrer esse clima. Lembro-me, inclusive, de que no sábado, véspera da decisão, fomos todos, meu pai, minha mãe, meus dois irmãos, minha cunhada e outros três amigos, jantar num restaurante de Itaipava, distrito de Petrópolis, todos uniformizados com a camisa do Fluminense. Após o jantar, despedimo-nos de meus pais e os mais jovens fomos a uma casa noturna na região. Diante da quantidade de tricolores que pretendiam acessar o recinto, aos quais juntaram-se outros dois amigos, o dono do estabelecimento proibiu a nossa entrada justificando-se pelo risco de que “poderia haver confusão”.

Isso não impediu a nossa festa. Do lado de fora, por mais de uma hora cantamos o hino tricolor, gritamos o nome de “Renato Gaúcho” e saudamos os clientes com bandeiras tricolores. A festa estava só começando e antecipava o que ainda estava por vir.

Dia de jogo, dia do jogo. Dessa vez, ao contrário de muitas outras desde a minha infância, meu pai foi meu convidado. Ele e meus dois irmãos. Descemos a Serra com a antecedência necessária e chegamos ao Estádio três horas antes do horário previsto. O frio na barriga foi o mesmo, a expectativa de um jogaço também. Nas cercanias, vi a torcida chegando, muito mais rubro-negros que tricolores, diferença compensada pela efusividade destes últimos. O clima era propenso à vitória, o cheiro no ar dizia isso, os rostos tricolores era mais alegres e confiantes e a expectativa era de título sobre o maior rival. Acessamos o estádio como sempre – não havia nada mais espetacular do que subir as rampas do Maracanã e galgar os túneis de acesso ao anel da arquibancada, de onde se mostrava, diante de nós, a passo e passo, a torcida rival, do outro lado, já se posicionando para o jogo. Paramos à saída do túnel. Observei por um instante o gramado e o formigueiro humano que se movimentava de um lado a outro procurando acomodar-se.

Subimos alguns degraus e posicionamo-nos na direção da bandeira de córner. Era ali que meu pai costumava ficar e passou a ser, também, meu lugar preferido.

A emoção era evidente. Meu pai acompanhava pelo rádio de pilha as últimas informações e eu observava a torcida chegar. Adorava aquele movimento, aquele preenchimento de espaços vazios que, invariavelmente, me faziam calcular mentalmente o público presente ao estádio. Aos poucos lotou, como era de se esperar. A nossa torcida ocupou por completo o seu espaço, comprimindo-se até pouco antes da linha do meio de campo. Os rubro-negros eram maioria; a geral era praticamente deles, as cadeiras sob as arquibancadas também, mas a torcida tricolor fazia uma grande festa. O clima era de festa, de decisão, mais do que isso, de Fla-Flu!

Um pouco antes de a bola rolar, se não me falha a memória, morteiros disparados do lado flamenguista espocaram sobre a geral provocando intensa correria. Era o fogo amigo, uma vez que aquele espaço popular era todo vermelho e preto. Logo em seguida, os tricolores percebendo o fato, entoaram o grito de “Burros!”.

Retomada a normalidade, as atenções voltaram-se para o campo de jogo e a partida teve início. O Fluminense dominou inteiramente a primeira etapa, tanto que fez dois a zero com Renato e Leonardo e praticamente não deu chances ao Flamengo. Comemoramos muito os gols; como todo tricolor escaldado, no entanto, sabia que as aflições viriam, afinal de contas, nada foi e nunca será fácil para o Tricolor. Neste momento, protegido da chuva pelas marquises das arquibancadas, percebi, ao olhá-la se derramando contra a luz dos refletores já acesos, que, impulsionada pelo vento, molhava o lado de lá muito mais do que o nosso. Aquilo me foi um bom presságio. Alguma coisa me dizia que estávamos protegidos.

O Flamengo precisava do empate para ser campeão e, apesar da diferença de dois gols, sabia que nada estava resolvido. Sou tricolor, conheço meu clube. Veio, então, o intervalo e o imponderável aconteceu. Um tio meu, pé-frio de quatro costados, depois de muito nos procurar, finalmente encontrou. Estava aí a razão para o meu desânimo. Cumprimentamo-nos e ele acomodou-se ao nosso lado. Dali por diante – tive a convicção – o que viesse seria lucro. Meu tio tinha os pés congelados. Nunca, em sua companhia, nem mesmo pela TV, assisti a uma vitória do Flu, tanto é que sempre procurei, de forma dissimulada e a fim de evitar ressentimentos, evitar seus convites ou encontros nos dias de jogos do Fluminense.

E a partir daí, por coincidência ou não, - quem saberia? - tudo começou a mudar. O Fla começou a pressionar e mobilizou a sua torcida. Veio para cima e acuou o Fluminense. O gol era questão de tempo, pensei. E foi. Foram dois, um deles de Romário, que até então não havia marcado contra o Flu. O resultado de empate dava o título ao Flamengo. Para complicar ainda mais as coisas e aplacar as esperanças tricolores, Sorlei e outro jogador flamenguista foram expulsos após o segundo gol rubro-negro e Lira, logo depois, após falta violentíssima, deixando o Fluminense com um jogador a menos.

Sentei. Alcançar uma vitória com um jogador a menos, já na parte final do jogo, apenas por providência divina. Comecei a pedi-la. A festa, nesse momento, era toda do lado de lá. Inflamados, cantavam, sacudindo suas camisas, como se fossem lenços que davam adeus. Davam adeus a parte da torcida tricolor que, desesperançosa, já seguia, triste, o rumo de casa. Meu tio foi nessa leva, mas aí, pensei, já era tarde demais. Nem a sua ausência reverteria aquela situação.

A arquibancada esvaziou-se ao meu redor. Prenúncio de que não seria daquela vez, depois de nove anos, que o campeonato carioca seria novamente conquistado pelo Fluminense. Mas o imponderável resolveu mostrar a sua face mais uma vez, a sua outra face. Já nos acréscimos, enquanto a torcida flamenguista continuava a se despedir de nós, algum tricolor – no momento não identifiquei o jogador – riscou pela direita em zigue-zague, chutou em direção ao gol e a bola entrou. Gol do Flu, gol do título, gol do adeus aos rubro-negros. Êxtase total daqueles que ficaram e acreditaram até o fim. Permanecemos ali abraçados, eu, meu pai e meus irmãos, por alguns instantes, agradecendo aquela bênção magnífica, aquela vitória inexplicável e épica. Cantamos o hino, enaltecemos o “Rei do Rio”, Renato Gaúcho, cujo gol, que depois soube ter sido de barriga, deu ainda mais tempero à galhofa sobre o rival.

Aguardamos a taça, enquanto víamos a torcida adversária esvair-se. Agora era a nossa vez de dizer adeus. Descemos a rampa triunfantes, como há muito tempo não ocorria. Subimos a Serra de volta, sob chuva e neblina, felizes. Ainda comemoramos com uma bela pizza e um bom vinho, para espantar o frio, numa cantina italiana.

Chegamos em casa já noite alta, ainda a tempo de recebermos uma ligação telefônica de meu tio. Meu pai atendeu. Ouvi-o perguntar se ele havia tido tempo de ver o gol antes de sair do estádio. Repetiu em voz alta a sua resposta: - “Estava no táxi”. Olhei para ele, sorri, e disse aliviado: - “Graças a Deus”.



sexta-feira, 29 de maio de 2015

O futebol está podre

A realidade do futebol – fora das quatro linhas – é podre. Pudemos sentir o cheiro fétido que dele exala, ainda que guardadas as proporções devidas, dos recentes episódios envolvendo a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Se acreditarmos, porém, que a escória que comanda o esporte bretão se resume a Rubinhos e Euricos, estaremos muito enganados.
No âmbito regional eles são – imagino – o que de pior deve haver. Mas há muito mais escroques por aí. Desde que o futebol se tornou um grande negócio, graças a João Havelange, eles se multiplicam, ávidos por dinheiro e poder. Estão nas federações regionais, nas confederações nacionais, nas continentais e até – e principalmente – na própria FIFA.
A operação deflagrada no dia 27 de maio, e que decorre de investigação iniciada nos Estados Unidos da América, é prova disso. São 14 réus – sete foram presos, dentre eles o ex-presidente da CBF, José Maria Marin – cujas acusações abarcam, em síntese, fraudes, extorsões e lavagem de dinheiro, além de “suborno” para a escolha do país sede da Copa do Mundo de 2010 – África do Sul.
Quem acompanha o futebol de perto, inclusive os seus bastidores, sabe que não há qualquer novidade nisso. Escândalos de corrupção da FIFA são antigos e vão desde o triste episódio das bagagens dos jogadores brasileiros recém-chegados dos Estados Unidos após a conquista do mundial de 1994 até o pagamento de propinas aos dirigentes por empresas de marketing esportivo, com o intuito de conseguirem elevados contratos para divulgarem competições futebolísticas e ainda passam pela “farra dos ingressos” para as competições mais importantes, bem como recebimento de suborno para aprovarem países ou cidades sedes dos campeonatos continentais, por exemplo.
Segundo a Procuradora Geral dos EUA, Loretta Lynch, a interveniência daquele país decorre da prática dos crimes em território norte-americano, ante a utilização do seu sistema financeiro e a burla da legislação local. Acrescentou que a investigação não parará por aí, deixando uma clara mensagem à FIFA e a outras instituições ligadas ao futebol de que, com eles “o buraco é mais embaixo”. Imagino que a fala da Procuradora americana deve ter produzido efeito imediato nos grandes tubarões do futebol.
Ricardo Teixeira, por exemplo, que já não vinha mais ao Brasil, talvez esteja articulando a venda de sua mansão na Flórida a fim de procurar outro recanto paradisíaco para dilapidar os milhões que usurpou enquanto presidente da CBF e membro do conselho executivo da FIFA.
sujeirada levantada pela operação do FBI é apenas a ponta do iceberg. O futebol é comandado por tubarões que se vendem para privilegiar interesses de grandes empresários ligados ao marketing, presidentes de países, sheiks etc. O futebol mesmo, esse que se joga nas quatro linhas, fica em segundo plano. O que importa é o tamanho das arenas, o preço dos ingressos, as receitas da exposição das marcas, o lucro das entidades futebolísticas.
Na verdade, os americanos poderiam ter economizado tempo e dinheiro promovendo uma investigação que durou cerca de três anos e que envolveu todo o aparato logístico e tecnológico que conhecemos dos filmes e séries trazidos até nós. Tudo o que era necessário saber tem sido divulgado há anos por um senhor escocês chamado Andrew Jennings. Responsável pelo portal Transparency in Sports (transparencyinsports.org), esse repórter investigativo é a pedra no sapato dos poderosos da FIFA. Todas as falcatruas, toda a imensa podridão que envolve o mundo do futebol foram por ele denunciadas, em razão do que recebeu a alcunha de “Inimigo número 1 da FIFA”.
Se desejarem conhecer um pouco mais sobre a sordidez que é o futebol, leiam “Jogo Sujo – O mundo secreto da FIFA”, de 2011 e “Um Jogo Cada Vez Mais Sujo”, de 2014, ambos de Andrew Jennings ou “Jogada Ilegal”, do português Luís Aguillar, que trata mais especificamente das falcatruas que envolveram as escolhas das sedes das Copas do Mundo do Qatar e da Rússia.
Eu li e o futebol acabou um pouco para mim. Não fosse a paixão tão arraigada que nutro pelo Fluminense, teria desistido.
José Maria Marin e alguns outros foram presos, mas há muito mais por aí. Trata-se de uma verdadeira organização criminosa que há anos desenvolve práticas nefastas envolvendo a malversação de quantias milionárias, o enriquecimento de seus dirigentes e a destruição do futebol. Agora que os EUA estão envolvidos, possivelmente alguns desses maiores bandidos serão capturados, dentre eles o próprio Blatter.
E se forem um pouco mais a fundo, a rede também trará Ricardo Teixeira e Havelange. Se o leitor, por acaso, acredita que Havelange é inocente de toda essa acusação de roubalheira, basta ler os livros acima indicados e fatalmente mudará a sua opinião.
Se as nossas autoridades constituídas tiverem um pouco de vontade política, aproveitam o ensejo e desencadeiam já uma ampla investigação – informação é o que não falta – que apure as responsabilidades dessa corja de dirigentes nefastos que apenas se locupletam do futebol. Poderiam começar pela federação deste Estado, averiguando-se os malfeitos praticados por Rubinho e seu cupincha Eurico Miranda, passar pelas demais Federações e atacar o tubarão-mor Ricardo Teixeira – uma vez que, segundo as informações da polícia norte-americana, as patifarias datam, pelo menos, desde o ano de 1991.
Vale lembrar que até mesmo uma CPI foi instalada em 2000/2001 para apurar os desvios de conduta de Ricardo Teixeira, não tendo obtido êxito, contudo. No caso, uma investigação isenta deveria partir do Ministério Público, sob pena de transformar-se em mais uma encenação para a mídia e para todos nós, amantes do futebol.
Os interesses de grandes corporações internacionais, como a Nike e os lobbys de políticos ligados à bancada da bola podem ser um empecilho e um caminho para a impunidade, mas não se pode deixar de tentar fazer história passando a limpo o futebol no Brasil.
As causas do malfadado 7 a 1 estão aí, para quem quiser ver. É preciso expurgar do comando do futebol nacional esses bandidos travestidos de dirigentes. E para ontem.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Acima de tudo Fluminense

Ricardo Drubscky já é passado, mas não há como deixar de tocar em seu nome quando se pretende qualificar a atual gestão do futebol tricolor: catastrófica. Drubscky foi o mais emblemático exemplo da atual falta de planejamento e descaso com as coisas do Fluminense.

Durou uma desclassificação no fraco campeonato carioca e dois jogos no brasileiro, de tão ruim que é. Nada pessoal contra o homem. Despediu-se elegantemente do clube, parece ser uma pessoa de bem, mas não está e nunca esteve à altura de dirigir o Fluminense. A sua demissão em tempo quase recorde somente serviu para corroborar o enorme equívoco que foi a sua contratação, fruto de uma gestão temerária que pouco se importa com os destinos do Flu.

Qualquer tricolor com um átimo de discernimento vaticinou que a sua saída seria questão de tempo. Na média do que vi por aí, o seu prazo de validade seria entre cinco e dez rodadas de duração. Foram duas. Quando comentei a sua contratação, publiquei aqui no panorama um texto intitulado: “Um tiro no escuro”.

Evitei a crítica contundente sobre um treinador que se apresentava ao Flu com um currículo bastante humilde, para não dizer menos. Fui benevolente a ponto de lhe dar a chance de queimar a minha e quase todas as línguas tricolores com a possibilidade de que, por um acaso, desse certo. A mesma possibilidade de se acertar um alvo com um tiro às escuras.

Não pretendo aqui me vangloriar do anunciado fracasso de Drubscky. Na verdade, desejei que tivesse êxito no comando do Fluminense, mas as chances disso acontecer eram tão ínfimas que qualquer tricolor fora de Álvaro Chaves certamente já sabia o resultado de sua desastrosa contratação.

Pois bem. A sua rápida demissão foi um alento para a torcida tricolor, um alento que durou menos de 24h.

Enquanto muitos sonhavam com Cuca, Dorival, Abel e até o velho RG, a cúpula tricolor apresenta o substituto de Drubscky: Enderson Moreira.

Da mesma forma que não fui leviano com o ex-treinador, não serei com Enderson. Não criticarei o seu trabalho antes mesmo de ter se iniciado. O que eu posso dizer, contudo, é que se Drubscky foi um tiro no escuro, Enderson é um tiro à luz opaca, aquela bem tênue, crepuscular. Com um currículo ligeiramente melhor, o novo treinador tem a chance de ter um desempenho superior ao de seu antecessor, o que não significa dizer que seja um profissional à altura do Fluminense.

Soube que cogitaram primeiramente Dorival, mas a sua pedida, de cerca de quinhentos mil mensais, foi rechaçada. A Enderson Moreira o Flu deverá pagar metade disso. Parece, então, que tudo se resume a quem cobra menos. Não há planejamento, nem o sentido de importância que tem um treinador para uma equipe.

Quando foram renovados os contratos de Jean, Wagner, Cavalieri e Fred, a cúpula tricolor deveria ter conferido a mesma relevância à contratação de um novo treinador, alguém experiente e notoriamente competente. Poderia não funcionar no comando do Flu, mas ninguém pecaria por omissão.

Drubscky cai, quase simultaneamente grassa nas redes sociais a informação de que Cuca fora demitido do seu empregador chinês. A esperança da torcida, assim, recai sobre uma eventual proposta tricolor ao melhor técnico brasileiro em atividade. Ledo engano. Dorival não seria de todo ruim, mas preferiram, novamente, como se desejassem testar a paciência da torcida, a opção pela incerteza, pela pequenez.

Enderson, assim como Drubscky, é um profissional sério. Diante, porém, do desempenho do Tricolor nos últimos anos, o Fluminense precisa de algo mais. Precisa voltar ao cenário dos líderes, precisa disputar títulos, voltar à Libertadores.

Não se trata de mera cornetagem. Trata-se da constatação de que os assuntos mais importantes estão sendo relegados a segundo plano, o que se demonstra pela contratação de técnicos de segunda categoria como Cristóvão, Drubscky e, agora, Enderson.

Assim como desejei queimar a língua com Drubscky, também desejo estar errado quanto a Enderson. Torcerei como nunca para que seja no Fluminense o que ainda não foi em outros clubes que dirigiu, porque acima de tudo sou tricolor.

Por fim, faço um apelo ao torcedor. Não importam os malfeitos praticados contra o clube por quem deveria cuidar dele, não importam os resultados negativos ou um elenco aquém daquele que deveria envergar o manto tricolor, não importam os Cristóvãos, Drubsckys ou Endersons; os Peters, Marios e Fernandos. A única coisa que verdadeiramente importa é o Fluminense.

Não desista dele jamais. Seja sócio independentemente do momento vivido pelo clube para poder, com a sua ajuda, torná-lo um dia autossuficiente, e, para com o seu voto, interferir diretamente no seu destino.


Boa sorte Enderson Moreira. Boa sorte para todos nós.

domingo, 24 de maio de 2015

Competitividade é a palavra mágica

Nenhum treinador consegue mudar a natureza de um jogador. Ele é o que ele é. O que pode ser feito, e foi o que Enderson fez hoje, é mudar a postura da equipe dentro de campo.

O Fluminense foi mais organizado do que se tem visto nos últimos tempos. Avançado na marcação e disciplinado taticamente, o Tricolor começou o jogo não dando oportunidades ao adversário. Por outro lado, não foi eficiente no ataque, perdendo a sua melhor chance no primeiro tempo após um bom chute de Jean de fora da área que foi complementado por Vinícius, que acertou a trave.

De qualquer forma, no primeiro tempo, o Flu foi melhor que o Corínthians e nenhum sufoco sofre defensivamente.

No segundo tempo, o Tricolor voltou melhor e não esperou quarenta minutos para criar boas chances. Elas apareceram logo no início da segunda etapa com um bom chute de Gerson muito bem defendido pelo goleiro corinthiano. No rebote, Fred perdeu na cara do arqueiro que fez outra excelente defesa.

Dava a impressão, pelo menos foi a que tive, que o gol tricolor era questão de tempo. Afora uma bela defesa de Cavalieri num chute de fora da área, o Corínthians continuava praticamente inofensivo no ataque e o Flu passara a ir melhor na frente.

Até então o Flu vinha organizado e disciplinado, com os dois meias – Gerson e Vinicius – atuando bem pelo setor. Este último se enrolou algumas vezes na frente, quando teve a oportunidade de pensar mais rápido e definir uma jogada mais eficaz. Gerson, que começou aberto pela direita, passou a atuar pelo meio, preenchendo o setor e dando opções ofensivas.

A partir, porém, da saída de Vinícius, e logo de pois de Gerson, o Fluminense caiu de rendimento sensivelmente. Perdeu o meio de campo, pois os substitutos – Lucas Gomes e Magno Alves – não têm qualquer cacoete para atuar por aquele local e não estiveram à altura dos substituídos.

Nesse ponto, penso que Enderson errou e tirou o ímpeto ofensivo tricolor, sacrificando o seu meio de campo que tocava a bola com alguma qualidade; Até então, foram raros os “chutões” para o Fred, o que voltou a ocorrer após a saída dos dois jogadores de campo. Que se preservasse pelo menos um dos dois, ou sacasse Wagner, que pouco apareceu na segunda parte do jogo.

Mesmo assim, a melhor oportunidade alvinegra decorreu de uma falha de Gum, que contou com a colaboração do jogador que lhe deu o passe na fogueira. A defesa, aliás, portou-se bem, exceto por esse lance.

O Flu foi melhor do vinha sendo, mas ainda distante do que esperamos dele.

Como costumo dizer, o Fluminense não é muito melhor nem muito pior do que qualquer time do campeonato, mas com organização e disciplina tática ele pode ser, pelo menos, competitivo.


E é da competitividade, da entrega dentro de campo que nenhum torcedor abre mão.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Depois da tempestade não vem a bonança

Menos de 24h após a demissão de Ricardo Drubscky, o Fluminense apresenta a sua nova pérola: Enderson Moreira.

Depois das desastrosas contratações de Cristóvão Borges e do estrategista de futebol de botão, Drubscky, quando se esperava que a sequência de erros apontasse para uma decisão pensada, determinada por critérios de experiência e competência, eis que o nome de Enderson surge como novo comandante tricolor.

Quando os gestores do Flu priorizaram as renovações de contrato de jogadores como Jean, Wagner, Fred e Cavalieri, deveriam ter planejado, prioritariamente, um nome para treinador da equipe, e não qualquer nome. Afinal, se houve condições de se planejar as renovações de alguns medalhões, a mesma importância deveria ter sido dada ao nome do técnico, função relevantíssima dentro da equipe.

Mas não foi assim. Coincidência ou não, Francis Melo, assessor de imprensa de Fred, tem estreitas ligações com Enderson e seu antecessor, Drubscky.

Se a desculpa fosse a nova realidade financeira do Flu, há outros nomes com menos rejeição que poderiam ter sido sondados, como Dorival Junior, por exemplo. Nada me tira da cabeça, porém, que nem cogitaram a contratação de um treinador do nível que o Fluminense merece – e poderiam ter tentado – porque não interessava a alguns dos inimigos internos do Flu.

A incompetência no atual Fluminense parece não ter limites, ou será apenas incompetência? Não quero acreditar que exista má-fé a serviço de interesses escusos nas Laranjeiras, mas, diante das reiteradas e desastrosas ações da gestão tricolor, chego a pensar que a incompetência é apenas uma faceta de algo muito mais podre e sórdido e que corrói o Fluminense dia a dia, num processo autofágico que, se não eliminado, poderá levar a prejuízos incalculáveis.

O alívio pela demissão do estrategista de futebol de botão durou muito pouco. No Fluminense, depois da tempestade não vem a bonança.


E a pergunta que fica é: até quando Enderson Moreira? Não tenho dúvidas de que será mais um aposentado às custas do Fluminense e não demorará muito a vestir seu pijama, infelizmente.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Somos todos Fluminense?

Alguns torcedores se mobilizaram para realizar uma grande festa, a fim de receber o time na partida inaugural do campeonato brasileiro contra o Joinville.

Foi uma manifestação espontânea de torcedores apaixonados que entenderam que a situação atual do clube é difícil, política e financeiramente, e que somente com o apoio integral da torcida, o Fluminense pode almejar algo melhor nesta competição.

Também foi uma espécie de desagravo por tudo o que impuseram ao Tricolor no finado campeonato carioca, com o propósito de demonstrar à equipe que as atrocidades praticadas contra o Flu em virtude da sua posição de contrariedade aos desmandos da FERJ já faz parte do passado e que agora se inicia uma nova competição, sem – espera-se – a interferência nefasta de dirigentes inescrupulosos.

Os abnegados organizadores gastaram preciosos tempo e dinheiro para promover o evento, tudo por amor ao Fluminense e sem esperar nada dele.

Passada a rodada inicial, porém, a festa deve continuar. O movimento se ampliou, outros torcedores encamparam a ideia e agora se organizam para que os jogos do Fluminense em casa sejam sempre um grande evento, com o objetivo de que a torcida compareça e, além de ser o décimo segundo jogador da equipe, encha os combalidos cofres do clube do dinheiro que anda tão escasso por estes tempos.

O propósito é louvável e não poderia partir de outra torcida que não a tricolor.

Ocorre que o sucesso do evento depende do cumprimento de alguns pressupostos. O primeiro deles diz respeito ao torcedor, pois sem ele não há festa e o clube deixa de arrecadar.

A torcida tricolor precisa imbuir-se de que ela é a força motriz do Fluminense, pois é o seu canto que faz vibrar o jogador e é o seu maciço comparecimento o maior incentivo ao atleta dentro de campo. A presença do torcedor é sempre importante, mas em tempos de vacas magras, ela é fundamental.

Por isso, é preciso abandonar a tradição vetusta de que o torcedor somente apoia o time quando este está num bom momento. Hoje o tricolor vai ao estádio quando a equipe está bem, mas é preciso que ele entenda que deve ir para o time jogar bem. Além da contribuição financeira, a presença da torcida influencia no fator psicológico do jogador, incentivando-o a desempenhar um melhor futebol e a buscar a vitória com motivação redobrada.

O sucesso da empreitada também depende da ajuda do principal interessado, o Fluminense.

Como eu disse, foram abnegados torcedores que planejaram e organizaram a mobilização para a primeira partida do campeonato e que, agora, pretendem dar continuidade ao movimento de aproximar clube e torcida durante todo o restante da competição.

Não soube de qualquer interferência do clube no assunto, quando este deveria ter sido o principal interessado em trazer o torcedor para perto de si, colhendo os resultados financeiros desse apoio.

Mas o que esperar de um departamento de marketing inepto que, deitado em berço esplêndido, observa o árduo trabalho de torcedores que trabalham pelo Flu apenas por amor ao seu clube de coração. Por que não cria, por que não pensa e, sabedor de que a mobilização se articula no seio da torcida, por que não ajuda? A resposta é simples: porque não tem compromisso com o Fluminense, apesar de seus membros serem remunerados – e bem – pela instituição.

Eu imagino que o esforço do torcedor em atrair público para o Maracanã poderia atingir seu fim de uma forma bastante efetiva se o Fluminense, através de seu departamento de marketing, contribuísse para o sucesso da empreitada. Afinal, o interesse maior é o do clube, em dinheiro e motivação, para que o time alcance boas posições na tabela, o que, invariavelmente, também se reverte em lucros futuros.

As campanhas disseminadas pela internet teriam maior alcance se veiculadas pelos canais oficiais do Fluminense, e até mesmo pela grande mídia esportiva; além disso, promoções poderiam ser criadas para ajudar a levar o torcedor ao estádio, como o sorteio de prêmios atrativos.

Não seria nada irrazoável pensar em prêmios como automóveis e viagens pelo Brasil e exterior. Retira-se da parte da renda que cabe ao clube – inflada pela presença maciça da torcida – trinta ou quarenta mil reais, o que não é um absurdo e pode, inclusive, ser subsidiado pela empresa fornecedora do produto através da sua visibilidade, e se garante ao torcedor a possibilidade de voltar para casa duplamente feliz: por ter assistido ao seu time do coração e ganhado um excelente presente.

Infelizmente, contudo, a torcida age por si só, movida apenas pelo sentimento de amor, enquanto quem é pago para pensar e produzir para o clube permanece inerte, sob a complacência inexplicável de seus administradores.

Portanto, é bastante provável que o voluntarioso torcedor continue a sua luta inglória de tentar convencer a torcida a comparecer ao Maracanã durante o restante do campeonato, enquanto o Fluminense assiste a tudo de braços cruzados.

Não sei se é vaidade, ou simplesmente pura incompetência. O fato é, porém, que clube e torcida devem trilhar o mesmo rumo, sobretudo quando esse caminho leva a um único objetivo que é o engrandecimento do Fluminense.

A cúpula Tricolor precisa se livrar das travas que impedem o Fluminense de crescer, expurgar seus inimigos internos e atuar sem vaidades sempre em prol da Instituição. A torcida é a alma do Fluminense e sempre será a sua mais fiel parceira. E é esse mutualismo que deve nortear as ações institucionais entre torcedor e clube, porque sem a torcida ele será apenas um corpo sem espírito, um número de cadastro de pessoa jurídica ou um nome sem história.

Somos todos Fluminense? Parece que, infelizmente, essa regra tem exceção na Álvaro Chaves, 41.



terça-feira, 12 de maio de 2015

O Fluminense é enorme

Euclides da Cunha, em seu épico livro “Os sertões”, relata minuciosamente a saga de Antônio Conselheiro, seus fiéis seguidores e a ascensão e queda do arraial de Canudos no sertão da Bahia, no fim do século XIX. Jagunços, mulheres, idosos, crianças, ex-escravos e toda a sorte de estropiados sertanejos vítimas da fome, da exclusão social e da seca na região aglutinaram-se em torno da figura mítica do Beato Conselheiro em busca da salvação espiritual na localidade da antiga Fazenda Canudos, onde construíram o arraial de mesmo nome.

Latifundiários e outros poderosos da região, incomodados com o nascimento do novo Arraial e com a influência de Antônio Conselheiro sobre o povo pobre do sertão, passaram a reclamar a presença do Governo Federal a fim de que aquele movimento a que se chamou por parte da imprensa da época de uma tentativa de se restabelecer a Monarquia no Brasil – o que nunca se provou ser verdade – fosse debelado. Foram enviadas, então, três expedições de tropas regulares do Exército para destruir Conselheiro e seu Arraial, tarefa que parecia simples, ante a desproporção de forças, treinamento militar e armamento.

Os sertanejos, contudo, armados de enxadas, foices, alguns bacamartes velhos e muita fé – a partir da segunda investida passariam a utilizar as armas confiscadas dos soldados mortos -, rechaçaram as três primeiras expedições militares do Governo Federal, tendo sucumbido apenas na última, a quarta, quando o Exército conseguiu esmagar o Arraial após receber reforços de milhares de soldados, embora tenham encontrado feroz resistência dos seguidores de Conselheiro, que lutaram, literalmente, até o último homem.

O Fluminense não é uma tropa de decrépitos. Longe disso. Se não tem o glamour – nem sempre, porém, sinônimo de eficiência – de outros tempos, ainda se pode dizer que possui um elenco respeitável se comparado às demais forças do futebol nacional.

E se não há a fé que moveu milhares de almas desesperadas à morte em busca da salvação, há a tradição, a glória e a história que impregnam a camisa tricolor e que obrigam, quem a enverga, a almejar sempre a vitória.

Aliás, diversos “timinhos” tricolores de outrora, desacreditados a princípio, foram responsáveis por importantes conquistas na história do Fluminense. Por isso, causa estranheza que o nosso treinador Ricardo Drubscky tenha dito isto sobre as pretensões do Flu no campeonato:

“Não faço essa projeção de título. Temos oito, nove ou dez bons candidatos para conquistar o Campeonato Brasileiro. É diferente do que qualquer país no mundo. Sem dúvida nenhuma, o Fluminense arranca em 2015 sem pleitear a conquista de título e sem ser favorito por questões das mais diversas. Está mudando a sua realidade administrativa, refazendo o seu norte. Mas, sem dúvida, é um clube que nunca vai deixar de estar entre os grandes. O Fluminense sai com essa vantagem, eu diria, de ser descartado como favorito ao título”. (R.D)

Ele, provavelmente, pretendeu dizer que o Fluminense, em 2015, será um “azarão”. Pode ter sido essa a sua intenção, mas não foi isso o que disse. Ele declarou, literalmente, que não projeta o título. E é essa a mensagem que fica.

Eu mesmo acredito que o Fluminense deste ano “corre por fora” na disputa pela conquista da competição; realmente não é o favorito como já fora em outros tempos, e talvez isso nem seja ruim, pois os holofotes mudam seu foco e a pressão diminui. Imagino que as chances existem se formos aplicados, contarmos com sorte e com a incompetência dos adversários. E se não der, quem sabe uma vaga na Libertadores...

Mas, voltando a Drubscky, ele afirmou que não projeta o título, ou seja, o título não faz parte dos seus planos, para ser mais claro. Talvez em decorrência de sua origem humilde no futebol, acostumado a dirigir clubes de menor expressão e de repetir essa mesma ladainha em todo começo de competição, Drubscky tenha sido traído pela “força do hábito”. De qualquer forma foi uma infeliz declaração.

O Fluminense - e Drubscky deve se acostumar com isso - é um clube enorme. De uma grandeza tal que ofusca, quase cega, aqueles que travam contato com a sua história de glórias pela primeira vez. É provável que Drubscky tenha tido a sua visão ofuscada ante o brilho fulgurante que emana do centenário clube de Álvaro Chaves. Não o condeno, pois essa cegueira sói acontecer com bastante frequência.

Portanto, você está perdoado, Drubscky. Mas é bom que saiba que o Fluminense disputa qualquer competição para vencer, não importa se o time é tecnicamente fraco, se o momento é de crise, ou se o mundo está acabando. O Fluminense, em respeito à sua história de glórias e à sua torcida, sempre lutará pelo lugar mais alto do pódio.

No entanto, li um e outro tricolor afirmarem que a declaração do nosso treinador foi sensata, pois ele não poderia – com o elenco que tem à disposição – iludir a torcida quanto à pretensão de título. Discordo desse posicionamento. A torcida tricolor é calejada demais para se iludir com verborragias de quem quer que seja. Ela sente o seu time, o  seu momento e o que pode advir dele, afinal de contas, apenas quem é tricolor tem a sensibilidade aguçada o suficiente para perceber se o time pode ter sucesso ou não numa competição. Nem sempre acerta o seu prognóstico, mas não se engana com bravatas de quem quer que seja.

As palavras de Drubscky só causaram na torcida o sentimento da revolta ante o desconhecimento do comandante sobre a tradição do clube. Não serviram para dar um choque de realidade em ninguém. Esse choque, nós, os mais experientes, já experimentamos há muitos anos.

Drubscky não precisa ser um otimista contumaz, mas como comandante da tropa, precisa passar confiança, inspirar pelo exemplo e, sobretudo, criar estratégias eficientes para que a equipe possa ser equilibrada no campo de batalha. Atacar e defender com eficácia e ser ousada, jamais acovardar-se.

O campeonato brasileiro se inicia, os sonhos renascem e a esperança pela conquista do quinto título brasileiro deve ser a última a morrer. Se não der, pelo menos tentou-se. O que não se pode é abdicar da luta antes mesmo de iniciá-la. É desestimulante para a torcida e, principalmente, para o elenco que se acomodará diante das parcas pretensões de seu líder.

E se não vier o título – lutemos por ele – quem sabe não nos sobra uma vaga na Libertadores no ano que vem? Precisamos, mais do que nunca, repetir 2008, agora, com um final feliz.

O Fluminense não é muito melhor nem muito pior do que qualquer outro clube que disputará o campeonato nacional. O Fluminense é apenas o Fluminense e isso basta para que almeje sempre a vitória final. Ah, e basta também que Drubscky entenda isso.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sonho tricolor

Informo ao leitor, de antemão, que este não é um estudo de viabilidade técnico-financeira ou qualquer esboço de projeto. Não tenho conhecimento profissional para isso. É apenas – e peço permissão a você – um sonho em forma de desabafo que desejo compartilhar. 

Nos últimos anos, grandes clubes do futebol nacional têm se mobilizado para reformar ou construir modernos estádios. Um desejo inerente a todo torcedor, certamente, é ter uma casa moderna, que possa chamar de sua.

Internacional, Grêmio, Palmeiras, Corínthians, Atlético Paranaense modernizaram seus estádios ou construíram novas arenas. Não entrarei no mérito das eventuais facilidades obtidas do poder público, como por exemplo no caso da construção do Itaquerão, arena do Corinthians.

Prefiro citar o exemplo do Palmeiras que, através de uma parceria empresarial aparentemente legal, construiu a sua moderníssima arena – ao custo de 630 milhões - sobre os escombros do seu antigo estádio Palestra Itália. Trata-se de uma arena multiuso, uma tendência mundial, com capacidade para 43.600 torcedores – espectadores de futebol, para shows o público aumenta - onde o clube recebe integralmente a receita de seus jogos e a empreendedora assume todas as despesas correntes para funcionamento do estádio e aufere seus lucros da exploração da publicidade, shows, camarotes, cadeiras especiais, lanchonetes, restaurantes, lojas etc.

Gradativamente, o clube palestrino passará a receber participação também nas demais atividades geridas pela empreendedora até a integralização de todo o custo para a construção, acordo, cujo prazo final foi fixado em 30 anos; ao fim do contrato, a parceria com a empresa será encerrada e a arena definitivamente incorporada ao patrimônio do clube.

Não é preciso dizer que uma arena própria alavancaria qualquer projeto de sócio-torcedor, como se viu exatamente com o torcedor palmeirense que saltou diversas posições no ranking de associação após a construção do estádio. Além disso, o retorno financeiro é colossal. De todos os clubes das séries A, B e C do futebol nacional, o Palmeiras é o segundo no ranking de público pagante com uma média de 28.913 torcedores por jogo – perde apenas para o Corinthians, com 31.844 pagantes -, com o bilhete de entrada a uma preço médio de R$80,00, gerando uma renda bruta de R$23.325.941,00.

Em quatro meses – campeonato paulista e fase inicial da Copa do Brasil -, o Palmeiras “enriqueceu” quase 24 milhões de reais, sem contar a renda oriunda do projeto de associação. Uma previsão minimalista impõe reconhecer ganhos muito maiores durante as demais competições nacionais que, em regra, atraem muito mais público.

O torcedor sente-se estimulado a ir ao estádio, gastar em produtos do clube e associar-se, além é claro, do fator psicológico, pois jogar em sua própria casa, com a torcida praticamente inteira a favor, é sempre um obstáculo a mais para o adversário transpor.

Evidentemente, um contrato de parceria dessa envergadura precisa ser muito bem estudado a fim de que não haja conflitos, principalmente quanto às datas dos eventos comercializados pela empreendedora e as partidas de futebol, ou mesmo quanto à forma de comercialização de camarotes e cadeiras especiais.

Como eu disse, estou aqui sonhando. Já ficaria bastante satisfeito se o nosso lendário Estádio das Laranjeiras pudesse ser transformado em algo como um Craven Cottage, o também centenário e simpático estádio do Fulham F.C., de Londres, com capacidade atual para cerca de 25 mil torcedores confortavelmente instalados, após recente reforma.

Um clube da grandeza do Fluminense não pode caminhar na contramão da modernidade. Se eu fosse seu presidente, e isso é apenas elucubração, não tenho qualquer pretensão política, trataria o assunto como uma das suas prioridades e criaria um departamento exclusivo, composto de profissionais experimentados e comprometidos para alcançar uma solução viável para a construção de uma estrutura completa de futebol: centro de treinamento e um novo estádio.

O Fluminense merece um estádio moderno à altura de sua grandeza, onde exerça a sua “soberania” e não se submeta a desmandos de terceiros ou a incompatibilidades para atuar num ou noutro campo; e o seu torcedor uma casa que possa chamar de sua.


Como eu disse, trata-se apenas de um desabafo, um desejo incontido de poder um dia levar minhas filhas ao novo estádio do Fluminense e dizer: esta aqui é nossa casa, onde continuaremos a escrever uma história gloriosa, sintam-se à vontade.

Imagem: Google