segunda-feira, 30 de março de 2015

Um tiro no escuro

(Publicado no site Panorama Tricolor em 29.03.2015)

Por mais que possa parecer maçante, o assunto Ricardo Drubscky ainda é recorrente no seio da torcida tricolor. Tentei, é verdade, desviar do tema, mas a semana é dele e eu não me conformaria se não expusesse aqui, no Panorama Tricolor, o que penso sobre a sua contratação como técnico do Fluminense.

Nunca acompanhei o trabalho de Ricardo Drubscky e desconheço seus dois livros publicados sobre futebol; enfim, sei pouquíssimo sobre a sua carreira. Treinador de clubes como Atlético Paranaense, Goiás e Vitória, além de outros de menor expressão, e campeão apenas do campeonato paraibano de 2002 e da sére D do Brasileiro em 2011, seria surpreendente se eu, ou qualquer um dos amigos leitores, mortais torcedores, soubéssemos mais sobre o ilustre desconhecido da torcida tricolor.

Exatamente por isso, por não conhecê-lo, qualquer prognóstico sobre a sua futura “experiência” como treinador de um clube da grandeza do Fluminense é temerário e pode até chegar a ser leviano, quando se antecipa a sua incapacidade de dar ao Tricolor o que ele efetivamente merece, um comandante que organize taticamente o time, dê sentido de equipe e, principalmente, ajude a trazer os títulos que a torcida anseia. Essa percepção negativista de grande parte da torcida ao seu anúncio como substituto de Cristóvão Borges se lastreia no seu currículo de mais de vinte anos como treinador, um currículo que, evidentemente, não está à altura de quem se credencia a comandar um grande clube do futebol nacional, mas, sobretudo, em virtude de não ser, quanto à sua reputação futebolística, muito diferente do seu antecessor que não deu certo.

Muito embora seja limitada em expressividade a sua vida profissional como técnico de futebol, não será apenas o seu passado que dirá o que poderá fazer no presente. Se fosse por isso, outros tantos nomes reconhecidos no cenário futebolístico nacional jamais teriam tido a oportunidade de despontar nesse universo. Não se pode antecipar o seu sucesso, tampouco o seu fracasso. Como homem digno que se apresenta, deve-se dar tempo para que desenvolva o seu trabalho e mostre o quanto pode ou não ser útil ao Fluminense, independentemente da sua parca notoriedade como treinador de futebol, o que não significa, necessariamente, que seja incompetente. Talvez seja apenas questão de não ter tido as oportunidades certas.

Isso não quer dizer, contudo, que a diretoria agiu acertadamente ao contratá-lo. Drubscky é um “tiro no escuro”, uma aposta que pode ou não dar certo, enquanto o Fluminense, enorme que é, não deveria mais se submeter ao acaso, sobretudo no que concerne ao comando técnico de seu futebol. Verdade seja dita, o Tricolor não é clube que seja desafio para ninguém, pois desafios sugerem incertezas. Quando um novo jogador ou treinador afirma, no momento em que dá a sua primeira entrevista como recém-contratado, que o clube será um desafio em sua carreira, podemos esperar alguém que dará o seu máximo, mas nem sempre esse “máximo” será o suficiente para as expectativas de quem contratou.

O Fluminense, por tudo que representa, sempre deverá procurar os melhores profissionais. Assim como reconheceu a Fred a sua merecida importância, dando-lhe um novo contrato em elevados valores, também deveria reconhecer igual relevância ao técnico de futebol, uma vez que é o estrategista, o organizador, o pensador e, por vezes, até o psicólogo da equipe. E é ele quem, também, indiscutivelmente, perde ou ganha jogos.

Não foi isso, porém, o que aconteceu. A direção tricolor, mesmo após a malsucedida investida em Cristóvão Borges, tornou a acreditar que a solução para os problemas do Flu viria novamente do “bom, bonito e barato”. O que trouxe Drubscky ao Fluminense foi menos o seu perfil de estudioso do futebol do que o seu preço. Isso ficou bastante claro quando foi dito que o treinador se adequava à nova realidade salarial tricolor, o que significa, na prática, que esse profissional fundamental, o verdadeiro comandante do elenco, responsável pela postura tática do time dentro de campo, foi relegado a um segundo plano.

Frise-se que não discuto a capacidade técnica ou a idoneidade profissional de Drubscky, as quais serão submetidas à prova de fogo durante sua permanência no Fluminense. O que eu questiono é o tratamento que a alta administração tricolor deu a um cargo que deveria ser prioritário, escolhendo um nome desconhecido, não porque seja simplesmente desconhecido, mas porque foi apenas barato.

Depois do biênio 2013/2014, fica difícil para a torcida aceitar mais essa imposição elucubrada pelas mentes brilhantes da alta administração tricolor. Drubscky é um tiro no escuro que, para dar certo, precisará acertar pelo menos um alvo: ou a Copa do Brasil ou o Brasileiro; poderá ser tolerado, mesmo que não traga qualquer das taças, se der ao time padrão de jogo e competividade capazes de fazê-lo disputar as competições com chances de vitória o que, no campeonato brasileiro, significaria a vaga na Libertadores.

Afora isso, Drubscky será apenas mais um erro de uma administração que demonstra dia após dia entender menos de futebol do que deveria, o que poderá, se não corrigido a tempo, fulminar as pretensões políticas de Mário Bittencourt e, mais do que isso, frustrar novamente as esperanças da torcida tricolor em ver novamente o Fluminense campeão.

 Imagem: Lancenet.



domingo, 29 de março de 2015

Vitória que não apaga os erros

O placar de quatro gols a dois para o Fluminense não diz o que foi o jogo, pelo menos até os 30’ da segunda etapa, quando o Tricolor sustentava uma magra vitória por dois tentos a um, mas sendo muito menos perigoso do que o adversário do Sul Fluminense.

Depois do primeiro gol do Barra Mansa, após uma falha de marcação de Gum, o Tricolor impôs o seu ritmo e virou a partida com gols de Fred e Kennedy. A vitória parcial, porém, que deveria servir para dar tranquilidade ao time, teve efeito contrário. O Flu partiu desenfreadamente para o ataque e deixou muitos espaços atrás. Abriram-se verdadeiros claros no meio de campo por onde o Barra Mansa chegava com facilidade ao gol tricolor.

No segundo tempo o panorama não se modificou. O time adversário foi ainda mais incisivo nos contra-ataques e só não empatou a partida devido a algumas ótimas intervenções de Cavalieri. Mesmo vencendo, o Flu jogava mal defensivamente e a vitória, até então, poderia ser creditada a maior categoria de nossos jogadores de ataque e ao goleiro tricolor, em noite iluminada.

Faltava compactação ao Fluminense, uma vez que as bolas chegavam rapidamente e com muito perigo ao nosso gol. A partir dos trinta minutos finais, coincidentemente após a entrada de Vinícius, o Tricolor passou a tocar melhor a bola na frente e logo fez mais dois gols, com Fred, novamente, e Gerson. Com a vitória garantida, o Tricolor administrou a partida tocando a bola no campo de ataque e tentando com mais tranquilidade mais uma ou outra jogada na frente, o que não impediu o Barra Mansa, após muita insistência, de marcar o seu segundo gol já no fim do jogo.


Drobscky terá uma semana para tentar corrigir os erros de posicionamento da equipe, erros que não foram fatais contra o frágil adversário desta noite, mas que poderão sê-los contra o Flamengo no próximo domingo, sobretudo porque teremos a importante ausência de Wellington Silva na lateral direita. Veremos, então, se o novo treinador consegue, ainda em início de trabalho, interferir positivamente na equipe, corrigindo falhas que ficaram bastante explícitas hoje.

Imagem: Lancenet.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Alívio para Drubscky

A vitória de hoje ainda não teve a cara de Drubscky, mas já começou a apagar a de Cristóvão. Reconhecer que Fred e Walter não produzem juntos, e que este é reserva daquele, já foi um primeiro passo. 

Mesmo sem se esforçar muito, o Flu venceu a Cabofriense por três gols a zero - Gerson, Edson e Fred - e conseguiu, pelo menos, ante o empate do Madureira ontem, aproximar-se do adversário direto pela vaga nas semis do campeonato carioca. Outra boa consequência foi a retirada de um peso enorme dos ombros de Drubscky, pois se o resultado fosse outro que não a vitória, certamente a responsabilidade ser-lhe-ia imputada.

A vitória não é sua obra, mas uma derrota provavelmente seria. O julgamento popular é implacável, inexorável.

Como eu já disse, vamos dar tempo ao tempo e tempo ao Drubscky. Se Cristóvão teve a paciência e a resignação da diretoria tricolor a seu favor, não seria justo que nós, torcedores, retiremos de Drubscky aquilo que Cristóvão teve de sobra.

Deixemos o novo comandante trabalhar e vejamos se a diretoria tricolor errou ou acertou ao contratar um treinador de baixo orçamento, cujo currículo não é compatível com a grandeza do Fluminense. Se acertar, ótimo para todos nós. Se errar, o preço pode ser alto demais, seja para o nosso Fluminense, seja para as pretensões políticas de Mario Bittencourt. ST

terça-feira, 24 de março de 2015

Quem é Drubscky?

Quem é Drubscky?

Eu não sei. Chegou ao Fluminense sob uma pressão enorme, rejeição explícita nas redes sociais ao seu nome, ao seu currículo...Mas quem é Drubscky? Continuo sem saber.

Sabe aquele que não come de certa comida porque sua aparência não é boa? Pois é. Para saber se é bom tem que provar do prato.

Ainda não provamos do prato chamado Drubscky. Pode ser que nos dê uma tremenda indigestão. Sinceramente, penso até que a tendência seja essa, até porque a sua contratação atendeu apenas ao critério financeiro.

Não adianta a diretoria dizer que foi contratado porque é um estudioso. A grande verdade é que o Flu foi atrás, novamente, do bom, bonito e barato, como houvera feito com Cristóvão Borges. Este não deu certo e talvez Drubscky também não dê, mas não serei leviano de prejulgá-lo.

Vamos deixar que mostre a que veio, retirar essa carga enorme que já foi colocada sobre os seus ombros logo na sua apresentação. Quem sabe ele não nos surpreenderá?

E se ele for, de fato, o que a maioria de nós imagina que seja, cobremos, antes de tudo, da diretoria e não do pobre Drubscky, que é um profissional que apenas tenta mostrar, dignamente, o seu trabalho. ST

segunda-feira, 23 de março de 2015

A FERJ e o abuso de direito

(Publicado no site Panorama Tricolor no dia 22.03.2015)

O campeonato carioca, não de hoje, é uma competição deficitária e desinteressante para os grandes clubes do Rio de Janeiro, exceto para a Federação de Futebol do Rio. Eduardo Vianna e Rubens Lopes, este desde 2006, trataram de destruir o pouco que sobrava de romantismo e credibilidade da disputa que, outrora, já teve valor imensamente maior, inclusive no cenário nacional. Muito embora claudicante, marcado por erros crassos de arbitragens e repleto de estádios vazios e gramados mal cuidados, a sua má condução era atribuída principalmente à péssima administração de seus gestores.

Em 2015, porém, a má gestão deu lugar à má-fé, sobretudo no que diz respeito à relação entre a Federação e um dos seus principais filiados, o Fluminense. Sob uma dissimulada aparência de legitimidade, uma vez que as decisões do conselho arbitral da FERJ nada mais são do que reuniões fictícias para homologar a vontade do seu presidente, dando-lhe, assim, aspecto de legais, Rubens Lopes utilizou todo o arsenal de perversidades ao seu alcance para bombardear o Tricolor: primeiro determinou a fixação de preços promocionais de ingressos para toda a competição sem considerar as relações de clubes como Fluminense e Flamengo com seus sócios-torcedores; logo em seguida, reeditando no âmbito da Federação prática vetusta dos tempos ditatoriais, criou a chamada Lei da Mordaça, fixando multa a pessoa ou clube que a criticasse publicamente – a Justiça, acertadamente, suspendeu a vigência do artigo do regulamento das competições, art. 133, que previa a odiosa determinação; não satisfeito, imiscuiu-se na relação contratual entre o Fluminense e o Consórcio Maracanã referente ao posicionamento da torcida tricolor dentro do estádio em confrontos com o Vasco – o que acarretou a realização do clássico num estádio pela metade, ainda em obras, bem como o acirramento dos ânimos entre torcedores; recentemente, ainda, estipulou um preço fixo para o custo operacional do Maracanã, o que traria ao Flu despesas para utilizar um estádio que, por contrato, não lhe acarreta custo algum.

Agora, a Federação cobra uma suposta dívida do Fluminense e não tardará a cobrar algo mais, ou determinará outra medida contrária aos interesses do clube. O estoque de maldades de Rubens Lopes parece não ter fim.

A pergunta que se deve fazer, então, é o que mudou em 2015? Por que a Federação, leia-se Rubens Lopes, deixou de ser apenas desorganizada e inepta para ser, também, um instrumento de agressões gratuitas contra o Fluminense?

A resposta, e todos já devem sabê-la, atende pelo nome de Eurico Miranda, o Pança. Essa nefasta figura, responsável por incontáveis mazelas do futebol nacional, inclusive contra o seu próprio torcedor – quem não se lembra quando impediu o socorro a torcedores vascaínos feridos após a queda de alambrado no estádio de São Januário por ocasião da final da Copa João Havelange contra o São Caetano em 2001? – ressurgiu de um ostracismo compulsório imposto pelo próprio torcedor do Vasco ao preteri-lo em favor de Roberto Dinamite na presidência do Vasco.

Mas, o mal está de volta e encontrou acolhida na FERJ. Eurico não somente foi acolhido, como destituiu o seu presidente do comando, assumiu o controle da Federação e transformou Rubens Lopes em mero títere. Na prática, quem manda é o dirigente vascaíno que, não satisfeito em gerir os rumos de seu Vasco – chafurdado em dívidas; o TCU que o diga – preocupa-se em usar a Federação como instrumento de vingança pessoal contra o Fluminense e sua relação com o Consórcio Maracanã. Inveja e recalque, certamente.

Alinhado aos pequenos e ao subserviente Rubens Lopes, Eurico, presidente de fato, e seu cupincha reeditam práticas arbitrárias que não se coadunam com a modernidade e a democracia, visando claramente a prejudicar os interesses do Fluminense na competição, causando-lhe inegáveis prejuízos financeiros. O Tricolor, em contrapartida, publica notas oficiais que, se afagam o âmago de parte da torcida, não resolvem, efetivamente, a questão dos danos que vem sofrendo.

A Federação, não custa lembrar, quando interfere indevidamente na relação contratual do Fluminense com o Consórcio Maracanã, o que por via de consequência também afeta os direitos do sócio-torcedor tricolor, pratica abuso de direito, uma das formas dos atos ilícitos, com previsão no artigo 187, do Código Civil. Evidentemente, quando extrapola de suas atribuições regulamentares e legais, prejudicando terceiro, no caso o Fluminense, a FERJ está sujeita à reparação moral e material por eventuais prejuízos causados.

Não há dúvida de que o Tricolor teve diversos direitos violados, sobretudo no que concerne à sua relação com o Consórcio Maracanã, oportunidade em que dispositivos contratuais que devem ser respeitados estão sendo claramente violados pela Federação de Rubinho e Eurico. Os prejuízos já são irreversíveis e podem se tornar ainda maiores, uma vez que a sanha persecutória da FERJ parece não ter limites. Assim, é hora de deixar de lado as notas-oficiais e adotar medidas práticas de enfrentamento a essa covardia desenfreada protagonizada por uma entidade que não representa o futebol carioca, mas apenas interesses pessoais obscuros e se torna, a cada dia, mais um instrumento de vingança pessoal do que de realização de benfeitorias em prol dos clubes de futebol do Rio de Janeiro.

E a medida prática de enfrentamento é, num primeiro momento, a busca do Judiciário para impedir a continuidade dos atos ilícitos da Federação e a reparação dos prejuízos materiais e morais sofridos – neste ponto, fazer valer a força do contrato assinado; num segundo momento, o estudo da viabilidade e criação de estratégias para o surgimento de uma liga independente de futebol.

O Fluminense tem a faca e o queijo nas mãos para por abaixo anos de desmando no futebol carioca, eliminando do cenário desportivo os malefícios de uma administração futebolística destrutiva e tendenciosa, bem como entregar à Justiça os destinos dos malfeitores Rubens Lopes e Eurico Miranda.

A luta é justa, o direito é bom, só falta agir.



segunda-feira, 16 de março de 2015

Projeto Gerson

(Publicado no site Panorama Tricolor em 15.3.2015)

Quando um jogador da base de um grande clube surge como promessa de se tornar um craque, é muito comum ouvir a advertência feita por torcedores mais precavidos de que é preciso tomar cuidado para não se “queimar” o menino. Não deixa de ser um conselho sensato, porque, num meio movido à paixão como o do futebol, grandes atuações elevam, prematuramente, a jovem promessa ao patamar de jogador pronto para, logo depois, ante qualquer – e natural - oscilação para baixo retorná-lo ao nível de promessa que não deu certo.

Aos dezessete ou dezoito anos essas oscilações são perfeitamente normais no desempenho do atleta dentro de campo, como na sua vida fora dele, adolescente que é. Em fase de formação física e psicológica, o atleta inexoravelmente estará sujeito a mudanças em sua vida pessoal e profissional.

A culpa, claro, é nossa. Torcedores que somos, ufanistas clubísticos que, às vezes, enxergamos mais do que realmente vemos. Não é de hoje que jogadores que se mostraram com excelente potencial transformaram-se, na velocidade com que foram galgados ao topo, em atletas menos do que comuns. Esse “endeusamento” é perigoso, porque pode criar falsas expectativas no torcedor e, sobretudo, destruir a carreira de bons jogadores que, se fossem somente assim considerados, teriam pelo menos a chance de sobreviver do futebol.

Exemplo emblemático, no que pertine ao Fluminense, foi o de Toró, mais conhecido por seu epíteto, referência à “chuva de gols” de um moleque que, desde a mais tenra idade era visto dentro do clube como uma das maiores revelações da base Tricolor de todos os tempos. Não preciso dizer aqui como isso terminou.

Por que digo tudo isso? Porque por mais que eu acredite que a prudência seja necessária, não consigo conter a euforia só de imaginar a pérola chamada Gerson, de apenas dezessete anos de idade, tornar-se um craque a serviço do Fluminense. Não consigo esconder o sentimento que tive – nem falo aqui de suas excelentes atuações pela seleção sub-20, ou de outras tantas pela base do Flu – ao ver esse garoto vestir a camisa tricolor  profissionalmente com tamanho desembaraço. Em dois jogos não percebi um erro de passe sequer, deu assistências qualificadas e ainda fez dois gols dignos de quem sabe exatamente o que faz com a bola nos pés.

Ah, mas em dois jogos não dá para tirar uma conclusão, podem dizer alguns. Eu digo, entretanto, que eu tirei as minhas. Cito, para ilustrar, um programa a que assisto chamado “The Voice USA”, um talent show americano em que, nas apresentações às escuras, os jurados, sentados em quatro cadeiras, postam-se de costas para o cantor que se apresenta. Avança à proxima fase aquele que, através da sua qualidade, incentiva pelo menos um dos jurados a apertar um botão que faz a sua cadeira virar, reconhecendo, assim, o valor de sua apresentação. Num desses dias, um dos jurados apertou o tal botão ao ouvir não mais do que pouquíssimos segundos de uma apresentação. O cantor abriu a boca e dela emanou voz tão bela que a cadeira prontamente virou. Descobriu-se um talento sem que se esperasse o fim da música, porque ele se mostrou logo aos primeiros acordes.

Assim foi com Gerson. Sua habilidade e inteligência não parecem obra do acaso. Seu toque refinado indicia a qualidade que possui e que se mostrou, como no talent show, de plano. Para quem vive o futebol há décadas, a diferença entre um “cabeça-de-bagre” e um Gerson se mostra, por vezes, apenas na forma como se toca na bola.

Evidentemente, não é apenas a sua qualidade técnica que o fará ser o top de linha que esperamos que ele seja. Outros fatores concorrerão para que atinja futuramente o sucesso profissional que almeja como uma boa formação familiar, apoio do clube – inclusive psicológico -, inteligência e, principalmente, juízo.

Se esses fatores convergirem, provavelmente Gerson será o craque que hoje se esboça.

E aí também cabe à torcida certa dose de tolerância com eventuais altos e baixos, oscilações normais que acometem qualquer jogador, mormente quando se trata de um menino de apenas dezessete anos de idade, com enorme potencial, mas que não pode receber toda a carga da responsabilidade pelos desempenhos futuros do Fluminense. Afinal, não custa repetir, ele só tem 17 anos!

Eventuais más partidas não significarão que seja um mau jogador, até porque, quanto mais exposto, mais será alvo da marcação – e da truculência - dos adversários. Caberá, aí, a orientação do treinador e de companheiros mais experientes, como Fred, que já assumiu, ao que parece, a sua tutoria dentro do clube.

Gerson é uma joia que precisa ser cuidada para que não se vá antes da hora e para que não se perca pelos maus caminhos, pois renderá enormes frutos ao Fluminense, cujo esforço por mantê-lo e protegê-lo, ante o assédio que certamente ocorrerá – de clubes do exterior e das más companhias -, será recompensado.

E parece que os que cuidam de sua vida já se imbuíram da necessidade de proteger a jovem promessa. O seu pai, Marcão, criou, há quatro anos, o “Projeto Gerson” visando a dar toda a assistência necessária ao filho para que pudesse apenas se concentrar em desenvolver seu talento no futebol – recebia a ajuda de familiares para dar o mínimo necessário ao filho a fim de que o mesmo não fosse compelido a ajudar em casa com trabalho, ou mesmo que se perdesse com amizades suspeitas. O próprio Fluminense, de sua parte, estabeleceu vínculo contratual com o atleta até 2019 – com salários de cerca de R$50.000,00 mensais - e já se manifestou contrariamente à suposta proposta de dez milhões de euros da Juventus veiculada pela imprensa italiana.

É cedo demais para Gerson deixar o Brasil, apesar de esse não ser o desejo de seus pretendentes de fora – sua página na Wikipédia está redigida em italiano. Ao amadurecer seu futebol, será útil ao Fluminense e ainda valorizará sobremaneira o seu valor de mercado. 

O clube e a torcida, através de um novo “Projeto Gerson”, devem incentivar, cuidar e até mesmo blindar a revelação, dando o carinho e o apoio de que necessita. No mais, é preciso esperar o seu talento crescer e frutificar, porque, como ensinou o poeta renascentista francês Clément Marot, “para quem sabe esperar, tudo vem a tempo” e a paciência da torcida permitirá ao jovem atleta tricolor desenvolver livremente o seu melhor futebol e mostrar que não se enganaram ou se precipitaram aqueles que hoje, com apenas dois jogos oficiais pelo Flu no profissional, o tem como futuro craque.


domingo, 15 de março de 2015

A gangorra tricolor

É certo que os desfalques, principalmente de Giovanni, Kennedy e Fred fizeram falta, mas não justificam a postura apática do time do Fluminense na partida contra a equipe de Macaé. O primeiro tempo foi todo da equipe do Norte fluminense, pois o Tricolor, passivo, aceitou a imposição da vontade adversária.

O Flu voltou para a segunda etapa aparentemente mais disposto, marcando mais a saída de bola do Macaé, o que não aconteceu no primeiro tempo, mas a pseudo-pressão não durou muito e logo o equilíbrio foi restaurado.

Confesso que assisti ao jogo com um olho no Flu e outro em Gerson. Se não repetiu as atuações anteriores, porque severamente marcado e posicionado inexplicavelmente mais recuado, ainda era a esperança de algo diferente, de uma jogada especial, uma assistência eficaz, quem sabe um gol...Não era o pior em campo, longe disso, ainda era o pouco de lucidez que havia na equipe, mas Cristóvão, não se sabe por que cargas d’água, resolveu sacá-lo da equipe.

Aí, os homens designados para marcá-lo tornaram-se livres. Sem qualquer outra preocupação, o Macaé passou a dominar o meio de campo e, numa falta bem cobrada, fez o gol da vitória, merecida por sinal.

Além de não saber o que se passa na cabeça do nosso treinador, me intriga o motivo pelo qual o Fluminense, diante de um Bonsucesso, decide o jogo em quinze minutos, pressionando-o de forma avassaladora e, na rodada seguinte, se entrega solenemente ao estilo de jogo do oponente.

As razões devem estar na cabeça de Cristóvão.

De volta à mesmice da irregularidade, algumas constatações devem ser feitas: apesar de os substitutos não estarem à altura dos titulares, o que determinou a derrota do Flu foi a sua postura dentro de campo: frouxo na marcação, espaços nas costas dos laterais sem a devida cobertura e um ataque de risos com Walter, a quem já elogiei em outros tempos. Hoje, porém, além de desinteressado, parece também mal intencionado; Gerson é meia-atacante, não é segundo volante. Gerson deve jogar à frente, municiando o ataque e chegando, ele mesmo, para concluir. Gerson só deve sair de campo por lesão ou expulsão.


Com a palavra, sr. Cristóvão, que vai do acerto ao erro com uma facilidade impressionante. Parece que um padrão de jogo será algo difícil de vermos nesse Fluminense, aliás algo que não se vê há tempos.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Joia rara

A impetuosidade Tricolor durou exatos 30 minutos, tempo suficiente para garantir a fácil vitória por três a zero sobre o fragílimo Bonsucesso. Gérson, com um belo gol de fora da área, Kennedy e Edson fizeram os tentos tricolores. A força ofensiva do Fluminense foi tão evidente que, durante quase cinco minutos, até o primeiro gol, o Flu manteve a posse de bola.

Logo depois da parada técnica, porém, talvez por orientação de Cristóvão, o Tricolor diminiu o ritmo, tocando a bola para esperar um Bonsucesso que não veio. E como o Flu não foi, o jogo tornou-se chato. Sob controle, mas chato.

Na segunda etapa, o panorama não foi muito diferente. O Fluminense dominava as ações, mas não se arriscava, parecendo satisfeito com o resultado. Pareceu bem clara a estratégia de Cristóvão de garantir a vitória e só sair na boa. Num campeonato em que uma vaga pode ser decidida no saldo de gols, não me pareceu, contudo, a melhor opção. Talvez, quem sabe, forçar um pouco mais, fazer cinco ou seis e, aí, sim, sentar-se sobre o resultado. Estava fácil, bastava continuar a pressão inicial por mais quinze ou vinte minutos.

Quem vai entender a cabeça de Cristóvão!?

De toda a sorte, o Flu mostrou naqueles quinze minutos iniciais o mesmo padrão do jogo anterior, o que já é um avanço e um indicativo de que a formação ideal parece ter sido encontrada.

Quanto aos setenta e cinco minutos restantes vale falar sobre um jogador que, aos dezessete anos, pode vir a ser uma das maiores revelações recentes do nosso futebol. Seus passes qualificados, sua visão de jogo e sua propensão a marcar gols indicam que é um atleta habilidoso e inteligente e que, para um dia tornar-se um craque, basta ter a cabeça no lugar.

Não quero me precipitar – em que pese ser esse um pecado permitido ao torcedor -  mas essa jovem promessa tricolor, como já antecipou o Fred, vestirá brevememte as cores da seleção principal. Por isso, uma vez que já chama a atenção da mídia, deverá ser especialmente cuidado, sobretudo quanto ao seu vínculo contratual com o Tricolor para que não seja mais um a partir das Laranjeiras por qualquer trocado.

Vale esforçar-se por mantê-lo ao custo que for necessário. Uma joia como essa não se encontra por aí facilmente e, bem trabalhada, poderá dar frutos muito maiores ao Flu futuramente.


Eu iria até falar da arbitragem tendenciosa que amarelou o Fluminense quase inteiro, mas não vale a pena ofuscar o brilho da nossa joia com a lama desse pau mandado dos energúmenos da Federação, cujos nomes também não citarei em homenagem ao talento de Gerson.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Mais gentileza, menos intolerância

Hoje falarei sobre algo que me atormenta, principalmente porque participo ativamente da vida nas comunidades virtuais relacionadas ao Fluminense e acabei me interessando por essa relação à distância entre pessoas que, por vezes, nem mesmo se conhecem fisicamente, mas que podem se agredir por muito pouco e com a rapidez de poucos “cliques” em seus teclados.

O que me assusta nesse cenário é a falta de gentileza, a intolerância, o tratamento desrespeitoso que se vê amiúde nas redes sociais, quando discussões que deveriam ser apenas calorosas - quando muito - ultrapassam a fronteira da argumentação - quando há - e se transformam em enfrentamentos graves, com ofensas mais graves ainda.

Evidentemente, grande parte desse destempero não seria externado se as discussões fossem presenciais, mas o escudo protetor da distância transforma tímidos em desinibidos e covardes em corajosos. E a gravidade das ofensas, não raro, é inversamente proporcional ao tema posto em debate. Briga-se, ofende-se por qualquer motivo, bastando, para tanto, que opiniões seja contrariadas.

A verdade não é propriedade de ninguém, cada um tem a sua e deve expô-la com educação e respeito. Nada é mais poderoso num debate de ideias que a força do argumento e, tanto quanto ele, o respeito à opinião alheia. Dar ao seu interlocutor a oportunidade de manifestar o seu pensamento livremente para depois contraditá-lo com seus fundamentos, apenas com eles, é enriquecer o valor da contenda, é fortalecer o direito à liberdade de expressão.

Na política, na religião, no futebol, ou em qualquer outro assunto posto em discussão, o que se tem visto com espantadora frequência é a intolerância e a ofensa gratuitas. Incapazes de aceitar a opinião alheia, muitos partem prontamente para a agressão virtual – cuidado, pois também pode configurar crime – pregando o ódio contra um interlocutor que nem mesmo conhece. Essa raiva enrustida e descarregada em desabafos odiosos nas redes sociais serve apenas a um propósito: promover conflitos.

Todos somos brasileiros e queremos o melhor para o país, mas a intolerância cria barreiras instransponíveis entre dogmas criados para opor gente que só deseja viver feliz. Todos somos brasileiros e devemos respeitar o Estado laico em que vivemos, mas a prepotência faz crer que apenas a nossa religião conduz à salvação. Todos somos tricolores e devemos lutar por um Fluminense forte, mas o orgulho e a vaidade embaciam nossos pensamentos e nos tornam pretensos donos da verdade, atacando companheiros de paixão clubística. Somos todos arautos de uma verdade que é apenas relativa – porque somente nossa -, mas que desejamos impor a todos como se absoluta fosse.

Outro dia, por exemplo, desejei parabéns ao Rio de Janeiro por seus 450 anos. Alguém respondeu à minha postagem com um “Parabéns é o c...Rio cheio de bandidos, cidade de m...”. Está aí um típico exemplo de ignorância que conduz à intolerância, de ódio arraigado despejado gratuitamente. Qual seria a culpa do Rio de Janeiro pelos malfeitos de seus governantes? O autor da frase simplesmente descarregou ali a sua fúria, sem mais nem menos, sem argumentos, apenas com raiva.

É uma tese utópica, claro, mas não custa tentá-la. Assim, ao evitar transpor seus conflitos pessoais para o outro lado da tela de um computador, você estará ajudando a criar um mundo menos intolerante. Experimente, qualquer que seja o assunto discutido, discordar com educação, seja nas suas relações virtuais ou reais. Por mais veemente que seja a defesa do seu argumento e, por mais intransigente que possa parecer o seu interlocutor, ele pensará duas vezes antes de retrucar com uma ofensa. Pode funcionar, afinal de contas, como dizia José Datrino, o Profeta Gentileza, “Gentileza gera gentileza”. Não custa experimentar.

Respeite para ser respeitado, seja gentil e educado nas suas relações interpessoais. Se você acha que o mundo não ficará menos conflituoso apesar disso, pelo menos o tornará um ser humano melhor. Voltaire, na sua célebre frase Je hais vos idées, mais je me ferai tuer pour que vous ayez le droit de les exprimer, já reconhecia um dos fundamentos mais importantes da liberdade de expressão, que é o direito de expor livremente as ideias. Acrescento ao seu discurso, se isso me for permitido, que essa liberdade deve ser praticada com respeito, sob pena de transmudar-se de direito em abuso.

Refute a ideia de seu interlocutor com educação, garantindo-lhe sempre o direito de dizer o que pensa e, sobretudo, seja gentil, afinal de contas a gentileza, antes de ser uma regra de conduta social, é uma regra de civilidade.


domingo, 8 de março de 2015

Evoé*, Fluminense!

Depois de reiteradas más apresentações, sobretudo a pífia partida contra o Vasco, o Fluminense precisava se redimir. Nenhuma vitória sobre os pequenos seriviria a tal fim. Era preciso que fosse num clássico. E foi. Fluminense e Botafogo foi o melhor jogo do campeonato e o Tricolor fez a sua melhor partida na competição. Nada de exuberante, mas foi a sua melhor apresentação.

Apesar de ter sido superior ao Botafogo durante quase todo o tempo, somente quando fez o segundo gol o Tricolor sobrou. E poderia ter feito mais, não fosse Jefferson. Até então a supremacia tricolor esbarrava no último passe e em alguns lances de azar, como o belíssimo chute de Edson, que não entrou por um milagre às avessas.

Os garotos Kennedy e Gerson fizeram os dois primeiros gols da virada e Fred, o maior artilheiro do novo Maracanã, fez o terceiro para sepultar as pretensões alvinegras.

Foi uma bela vitória, mas não me iludo com ela. Cristóvão, ano passado, nos brindou com atuações espetaculares, como contra São Paulo e Corínthians e outras risíveis, vexaminosas, como contra América de Natal e Chapecoense. Essa irregularidade tirou do Flu a vaga na Libertadores e nos eliminou da Copa do Brasil e, se o nosso treinador não der rapidamente um padrão a este time, continuarei acreditando que ele é apenas um engodo.

Não me iludo, mas comemoro. Como não comemorar o desempenho dos meninos da base, de um leão chamado Edson, de Fred superando mais uma marca? Comemoro, também, muito mais do que a vitória e os três pontos, termos colocado o Botafogo em seu devido lugar e calado a boca de quem ainda não aprendeu que o Fluminense é enorme, e que o respeito é a melhor arma para se evitar um “sapeca iaiá” como o de hoje.


Evoé, Fluminense!

* Por extensão: Expressão de entusiasmo e exaltação; excesso de alegria.

Mulher

Por nossas avós, por nossas mães, esposas e filhas; 
Por quem nos anima o dia, embeleza a vida e apazigua a alma; 
Por quem dá sentido à existência, que ama e cuida com todas as forças; 
Chora e sente em profundidade, mas não desiste nunca de se apaixonar; 
Por quem suporta as maiores dores, enfrenta os grandes desafios e sorri, 
Porque nenhum fardo é tão pesado que não possa carregar
E nenhum desafio é tão intransponível que não possa suplantar.
É por você, mulher, que digo, do fundo da minha alma, 
Que merece mais do que eu possa dar, muito mais do que eu possa imaginar, 
Mas de tudo o que poderia lhe oferecer, bastaria a ti para ser feliz
Apenas a flor mais bela do meu jardim.

Feliz Dia da Mulher

segunda-feira, 2 de março de 2015

O impostor

(Publicado no site Panorama Tricolor em 01.03.2015)

O assunto pode parecer repetitivo, maçante, mas é necessário que seja rediscutido.

Em que pese a amiga e cronista aqui do Panorama Tricolor, Crys Bruno, com o brilhantismo que lhe é peculiar, ter traçado com absoluta propriedade o perfil do treinador Cristóvão Borges na sua crônica “O perdido e o passivo”, de 25 de fevereiro, não posso me abster de, também, tecer algumas considerações sobre o nosso comandante.

Cristóvão já deveria ter sido demitido após o fim da temporada de 2014. Manteve-se no cargo após, inicialmente, ter dobrado a sua pedida salarial – de duzentos para quatrocentos mil reais mensais – e, posteriormente, ter recuado, ante a perspectiva negativa de dificuldades financeiras que se avizinhava com a notícia do rompimento unilateral do então patrocinador-master do Fluminense, a Unimed.

Talvez as novas diretrizes impostas pela necessária redução das despesas tenha dado à torcida tricolor alguma tolerância em relação à sua permanência para 2015, uma vez que, pelo menos, era um nome que já conhecia o grupo e poderia começar um trabalho desde o início da pré-temporada, circunstância que lhe daria a oportunidade de escolher nomes para compor o elenco e interagir com o grupo desde a sua formação. Além disso, aceitara manter seu salário, enquadrando-se na nova política de gastos do Fluminense.

Confesso que, diante daquele quadro sombrio, eu mesmo entendi que Cristóvão era a opção mais viável para comandar o Fluminense. Fiz vista grossa ao seu passado recente como treinador do Flu, aos vexames monumentais a que fomos submetidos na temporada passada, e aceitei passivamente a sua escolha, dando-lhe novo crédito de confiança.

O início desta temporada, porém, indicia que as suas crônicas deficiências persistirão. Embora tenha tido tempo suficiente para treinar e avaliar os recém-chegados e a vantagem de já conhecer a espinha dorsal da equipe, Cristóvão ainda não conseguiu dar ao time um padrão tático. Algumas vitórias sobre adversários fraquíssimos encobriram a sua debilidade profissional, descortinada por ocasião das duas últimas partidas, quando enfrentou a melhor equipe dentre as consideradas de menor investimento e o primeiro clássico, sucumbindo em ambas as oportunidades com um futebol abaixo da crítica.

Cristóvão é treinador de uma nota só, criador de uma estratégia defasada e previsível – bolas ao Fred -, que não foi capaz de se reinventar, de recursos escassos e que raramente consegue desconstruir a estratégia de um adversário que possua um sistema defensivo sólido ou, mesmo, alterar um panorama adverso dentro de uma partida.

O Fluminense não precisa de mais um enganador, precisa de um profissional que explore o potencial de uma equipe tecnicamente qualificada – mesmo após a saída de importantes jogadores - que não produz como poderia e deveria e que esteja à altura da sua grandeza. E esse é um problema de quem decidiu trazê-lo e mantê-lo ao privilegiar a política do “bom, bonito e barato”, política que, ao menos quanto à escolha do comandante, se mostrou equivocada e incompatível com a história grandiosa do Clube.

Aí está a chamada economia porca. Esforços foram envidados para que jogadores como Cavalieri, Gum Jean, Fred e Wagner renovassem seus contratos, mas o principal, por onde tudo começa, foi esquecido. A garantia de um Fluminense minimamente competitivo em 2015 passará, necessariamente, pela escolha de um novo treinador, qualificado o suficiente para dar ao tricolor um rumo diferente deste que vem tomando.

Neste ponto, não se prega qualquer loucura, afinal de contas, no fantasioso e inflacionado mercado do futebol, nem sempre o mais caro é o melhor. Mas, quando um Doriva, com todo o respeito ao Doriva, consegue dar a um time medíocre como o do Vasco, uma organização tática e uma disposição que não se viu nos comandados de Cristóvão, é possível acreditar que bons treinadores – e nem tão caros assim – estejam em algum lugar deste imenso país à espera de uma oportunidade para mostrar o seu valor num clube como o Fluminense.

Um bom técnico é investimento, não é despesa. Um profissional arguto, experiente, estrategista poderá aproveitar melhor o potencial de que dispomos e dar à equipe um sentido coletivo de organização dentro de campo, algo que não se vê há longo tempo.

Enquanto insistirem com Cristóvão, qualquer avaliação que se faça sobre os novos jogadores contratados poderá ser precoce e precipitada. Em boas mãos, alguns desses que hoje são questionados, podem se revelar muito mais úteis à equipe. E aí está uma das principais diferenças entre um treinador de verdade e um impostor.

Faço coro, portanto, à sua demissão como forma de dar ao Fluminense, no mínimo, esperança de uma temporada competitiva. A sua permanência nos relegará a um patamar inferior, distante daquilo que deve pretender um clube vitorioso em qualquer competição que dispute. Por outro lado, não creio que o recrudescimento do nome de Abelão, abertamente veiculado nas redes sociais após a derrota para o Vasco, seja a solução ideal. Seu estilo “paizão” e protecionista não se coaduna com a formação de uma nova equipe, em que somente ascendam à titularidade aqueles que tiverem mérito para tanto.


Imagino sangue novo. Alguém que possa dar ao Flu uma cara diferente daquela que se viu nos últimos anos. Por isso, é bom que já se pense num substituto, uma vez que este combalido campeonato carioca, se não predestina ninguém ao sucesso no restante da temporada, ante a notória fragilidade dos adversários, serve, contudo, para mostrar deficiências explícitas que, não corrigidas, poderão acarretar ônus elevados futuramente.

domingo, 1 de março de 2015

De olho no Botafogo

A vitória foi importante para recolocar o Fluminense entre os quatro primeiros colocados na tabela de classificação, mas a minha preocupação maior ao assistir à partida contra o Resende, foi tentar entender como essa equipe poderá vencer o próximo jogo, o clássico contra o Botafogo.

Como sempre costumo dizer, vencer o alvinegro carioca requer uma dose redobrada de vibração dentro de campo. Contra o Fluminense, e isso parece bem nítido, seus jogadores põem os corações nas pontas de suas chuteiras e as vitórias são sempre comemoradas como títulos de campeonato. É recalque antigo, explicável, mas que não cabe aqui reproduzir.

Assim, de olho no Botafogo, vi um Fluminense longe de ser uma equipe combativa e aguerrida como tem sido a de General Severiano. Muito embora tenhamos um elenco mais qualificado, os botafoguenses se superam em disposição, espírito coletivo e vontade de vencer – pelo menos foi isso o que se viu hoje quando venceram no seu primeiro clássivo um adversário melhor tecnicamente, o Flamengo.

A diferença, assim, está na postura dentro de campo. Postura subjetiva – vontade de vencer e objetiva – organização tática. E isso quem resolve é o treinador. Renê Simões é um técnico de terceira, talvez quarta linha, relegado ao ostracismo. Foi ressuscitado pelo Botafogo, porque deve ter cobrado uma ninharia para comandá-lo; mas, mesmo assim, consegue ser mais eficiente que o nosso combalido Cristóvão Borges e seus duzentos mil mensais.

Se o Flu jogar no domingo que vem como jogou hoje – ineficiente na frente e frágil atrás – sem jogadas ensaiadas, organização e sobretudo uma “pegada forte” não vencerá o Botafogo.

Gerson, de segundo volante, apesar de ter se saído bem, porque tem qualidade e é inteligente, é um desperdício. Kennedy, outro da base, é menos inteligente que o seu companheiro. Vai bem por certo tempo, mas não consegue dar seguimento à maioria das jogadas. Quando saiu para a entrada de Walter o time foi mais efetivo e, de um lance do gorducho saiu o gol tricolor marcado por Wellington Silva.

Com Cristóvão no comando penso ser temerária qualquer avaliação técnica sobre os novos contratados. Vejo qualidades em alguns deles, mas todos me parecem, ainda, pouco explorados em seus potenciais. Além da sua debilidade notória para mudar o panorama de uma partida, Cristóvão não consegue nem mesmo criar alguma estratégia alternativa aos bloqueios impostos pelos adversários ao seu monossilábico esquema de jogo.

A vitória foi suada, importante e até merecida, mas as deficiências da equipe, e que se repetem desde o início do campeonato – para não ir mais longe – indicam que ou o Fluminense muda radicalmente seu modo de jogar ou não irá muito longe na competição.


Para vencer o Botafogo e sonhar com algo mais, será preciso superá-lo em força, determinação e organização. Ah, já ia me esquecendo: e evitar faltas próximas à área, uma vez que eles têm bons cobradores e nós, não. Será que conseguiremos?