(Publicado no site Panorama Tricolor em 29.03.2015)
Por mais que possa parecer maçante, o assunto
Ricardo Drubscky ainda é recorrente no seio da torcida tricolor. Tentei, é
verdade, desviar do tema, mas a semana é dele e eu não me conformaria se não
expusesse aqui, no Panorama Tricolor, o que penso sobre a sua contratação como
técnico do Fluminense.
Nunca acompanhei o trabalho de Ricardo Drubscky
e desconheço seus dois livros publicados sobre futebol; enfim, sei pouquíssimo
sobre a sua carreira. Treinador de clubes como Atlético Paranaense, Goiás e
Vitória, além de outros de menor expressão, e campeão apenas do campeonato
paraibano de 2002 e da sére D do Brasileiro em 2011, seria surpreendente se eu,
ou qualquer um dos amigos leitores, mortais torcedores, soubéssemos mais sobre
o ilustre desconhecido da torcida tricolor.
Exatamente por isso, por não conhecê-lo,
qualquer prognóstico sobre a sua futura “experiência” como treinador de um
clube da grandeza do Fluminense é temerário e pode até chegar a ser leviano,
quando se antecipa a sua incapacidade de dar ao Tricolor o que ele efetivamente
merece, um comandante que organize taticamente o time, dê sentido de equipe e,
principalmente, ajude a trazer os títulos que a torcida anseia. Essa percepção
negativista de grande parte da torcida ao seu anúncio como substituto de
Cristóvão Borges se lastreia no seu currículo de mais de vinte anos como
treinador, um currículo que, evidentemente, não está à altura de quem se
credencia a comandar um grande clube do futebol nacional, mas, sobretudo, em
virtude de não ser, quanto à sua reputação futebolística, muito diferente do
seu antecessor que não deu certo.
Muito embora seja limitada em expressividade a
sua vida profissional como técnico de futebol, não será apenas o seu passado
que dirá o que poderá fazer no presente. Se fosse por isso, outros tantos nomes
reconhecidos no cenário futebolístico nacional jamais teriam tido a
oportunidade de despontar nesse universo. Não se pode antecipar o seu sucesso,
tampouco o seu fracasso. Como homem digno que se apresenta, deve-se dar tempo
para que desenvolva o seu trabalho e mostre o quanto pode ou não ser útil ao
Fluminense, independentemente da sua parca notoriedade como treinador de
futebol, o que não significa, necessariamente, que seja incompetente. Talvez
seja apenas questão de não ter tido as oportunidades certas.
Isso não quer dizer, contudo, que a diretoria
agiu acertadamente ao contratá-lo. Drubscky é um “tiro no escuro”, uma aposta
que pode ou não dar certo, enquanto o Fluminense, enorme que é, não deveria mais
se submeter ao acaso, sobretudo no que concerne ao comando técnico de seu
futebol. Verdade seja dita, o Tricolor não é clube que seja desafio para
ninguém, pois desafios sugerem incertezas. Quando um novo jogador ou treinador
afirma, no momento em que dá a sua primeira entrevista como recém-contratado,
que o clube será um desafio em sua carreira, podemos esperar alguém que dará o
seu máximo, mas nem sempre esse “máximo” será o suficiente para as expectativas
de quem contratou.
O Fluminense, por tudo que representa, sempre
deverá procurar os melhores profissionais. Assim como reconheceu a Fred a sua
merecida importância, dando-lhe um novo contrato em elevados valores, também
deveria reconhecer igual relevância ao técnico de futebol, uma vez que é o estrategista,
o organizador, o pensador e, por vezes, até o psicólogo da equipe. E é ele
quem, também, indiscutivelmente, perde ou ganha jogos.
Não foi isso, porém, o que aconteceu. A direção
tricolor, mesmo após a malsucedida investida em Cristóvão Borges, tornou a
acreditar que a solução para os problemas do Flu viria novamente do “bom,
bonito e barato”. O que trouxe Drubscky ao Fluminense foi menos o seu perfil de
estudioso do futebol do que o seu preço. Isso ficou bastante claro quando foi
dito que o treinador se adequava à nova realidade salarial tricolor, o que significa,
na prática, que esse profissional fundamental, o verdadeiro comandante do
elenco, responsável pela postura tática do time dentro de campo, foi relegado a
um segundo plano.
Frise-se que não discuto a capacidade técnica
ou a idoneidade profissional de Drubscky, as quais serão submetidas à prova de
fogo durante sua permanência no Fluminense. O que eu questiono é o tratamento
que a alta administração tricolor deu a um cargo que deveria ser prioritário,
escolhendo um nome desconhecido, não porque seja simplesmente desconhecido, mas
porque foi apenas barato.
Depois do biênio 2013/2014, fica difícil para a
torcida aceitar mais essa imposição elucubrada pelas mentes brilhantes da alta
administração tricolor. Drubscky é um tiro no escuro que, para dar certo,
precisará acertar pelo menos um alvo: ou a Copa do Brasil ou o Brasileiro;
poderá ser tolerado, mesmo que não traga qualquer das taças, se der ao time
padrão de jogo e competividade capazes de fazê-lo disputar as competições com
chances de vitória o que, no campeonato brasileiro, significaria a vaga na
Libertadores.
Afora isso, Drubscky será apenas mais um erro
de uma administração que demonstra dia após dia entender menos de futebol do
que deveria, o que poderá, se não corrigido a tempo, fulminar as pretensões
políticas de Mário Bittencourt e, mais do que isso, frustrar novamente as
esperanças da torcida tricolor em ver novamente o Fluminense campeão.
Imagem: Lancenet.