domingo, 31 de julho de 2016

Em busca do novo torcedor

Simone de Beauvoir afirmava que ninguém nascia mulher, tornava-se mulher. Parafraseando-a, com muito mais segurança, posso dizer que ninguém nasce torcedor, torna-se torcedor.

Normalmente essa escolha, que acompanhará os mais fiéis por toda a vida, é feita na infância, por influência do pai, da mãe, dos avós, de um padrinho, de um amigo da escola e até mesmo por vontade própria.

Eu sou tricolor por meu pai. Minha filha o é por mim. Em algum momento, porém, esse ciclo pode ser rompido, surgindo daí o desgarrado, aquele ou aquela que seguirá outras influências e torcerá por outro time ou mesmo não torcerá por time algum.

Há também aqueles ou aquelas que pela total abstinência futebolística em seus meios sociais nunca se apegaram ao futebol a ponto de torcer por qualquer clube, manifestando-se, eventualmente, nas grandes competições internacionais de que participa a seleção brasileira como torcedores sazonais que só se aproximam do futebol nesses períodos.

Está aí um filão que precisa ser melhor explorado. Não digo apenas pelo Fluminense, mas por qualquer clube que deseje criar vínculos com esse desapaixonado, esse desgarrado que, por qualquer motivo, não tem o futebol como primeiro esporte ou não o tem como esporte algum.

É certo que, diante das recorrentes falcatruas que envolvem o cenário do futebol –nacional e internacionalmente – essa aproximação torna-se cada vez mais difícil, mas, por outro lado, a tentativa é válida na medida em que agregar mais fãs ao clube significa trazer mais receitas para seu cofre.

Não digo apenas direcionar o marketing para aquele torcedor que já torce para o clube, fortalecendo-o. Isso é importante e tem sido feito pelo próprio Fluminense no projeto Tricolor em Toda Terra, mas é preciso mais: buscar a ovelha desgarrada, ou seja,  além de manter, acrescer.

Grandes clubes do futebol europeu, como Real Madrid, Barcelona e Manchester United já possuem escolinhas de futebol no país. Aqui na minha cidade, houve até pouco tempo, uma escolinha do Cruzeiro. Imagino que os primeiros, pela força transnacional que possuem, angariam pequenos torcedores em todos os cantos do planeta, mas os clubes nacionais também podem seguir esse caminho, caminho que, por sinal, trilha muito bem o Fluminense.

O Projeto “Guerreirinhos” de escolinhas de futebol do Fluminense é o melhor exemplo dessa expansão que pode gerar frutos inestimáveis para o clube: jogadores para a sua base, receita e novos pequenos torcedores. Com mais de cinquenta unidades pelo Brasil, em diversos municípios do Estado do Rio, em Brasília, Espírito Santo, Alagoas, Ceará e em breve na Paraíba, além de escolas também no exterior, em Córdoba, Santiago e com tratativas para um novo centro nos Estados Unidos, o projeto é um alento para o futuro tricolor.

O Fluminense dá um passo importante, mas outros podem ser dados. Um novo torcedor significa mais dinheiro para o clube – inclusive as importantes receitas televisivas - e o Flu tem um potencial inesgotável de valorização de sua marca e visibilidade que podem e devem ser explorados pelo seu marketing.

Lembro-me de que há algum tempo sugeri numa rede social que o clube poderia investir naquele turista que chega ao Maracanã aos borbotões trazido por guias para cumprirem o ritual de assistirem a uma partida no ex-maior do mundo. Um kit com uma revista contando a história do clube em inglês, uma flâmula, um boton...pronto, lá vai o turista de volta para o seu país de origem com o Fluminense na bagagem. Um marketing que pode ser efetivo e é barato.

Não me parece que o Projeto Guerreirinhos tenha sido criado com o objetivo principal de alavancar o crescimento da torcida tricolor, mas indiretamente, essa será uma consequência. Portanto, é preciso também pensar em outras ações que sejam específicas visando a criar no torcedor o gosto de torcer pelo Fluminense; afinal de contas, a maioria da população brasileira - 19,4%, segundo o Instituto Paraná Pesquisas - não torce por time algum e esse percentual precisa ser melhor explorado.

As eleições se avizinham e seria importante que o novo presidente pensasse preponderantemente num marketing ativo e eficiente para o Fluminense, justamente para que sejam criadas campanhas de crescimento da torcida, o que se faz com boas ideias e títulos.

Mesmo as boas ideias, contudo, não sobrevivem por muito tempo sem a formação de times competitivos e vencedores, de preferência sob a regência de um ídolo.


Assim, é preciso fomentar o gosto de se torcer para o Fluminense, manter o fã tricolor, evitando-se o esvaziamento da torcida e estimular ainda mais a parceria do torcedor fiel, porque a torcida é e sempre será a maior parceira e patrocinadora de qualquer clube.

domingo, 24 de julho de 2016

Obrigado, Panorama Tricolor

Hoje completo a centésima primeira coluna no Panorama Tricolor com um orgulho que não cabe dentro de mim. Escrever sobre o Fluminense já seria motivo suficiente de satisfação, mas escrever sobre o Fluminense num espaço tão democrático, cultural, crítico, visionário e eclético, cercado de algumas das mais distintas inteligências tricolores, é mais do que uma satisfação, é uma imensa honra.

Não imaginei, cem colunas atrás, após o convite feito pelo escritor Paulo Roberto Andel, que hoje ainda estaria escrevendo com a efusividade da primeira vez, mas o amor pelo Fluminense tem dessas coisas, renova-se diariamente, cada vez com mais intensidade.

Mesmo após as inconsoláveis derrotas, mesmo nos dias menos inspirados, o Fluminense se reinventa como uma chama que enfraquece, mas nunca morre, tornando-se sempre a maior fonte de inspiração que se possa ter. Inspiração para se escrever, inspiração para se viver.

E se nos dias ruins o Fluminense é inspirador, imaginem vocês nos dias bons.

É por isso que a cada linha contada da história do Fluminense nesta Casa imagino-me fazendo parte dessa própria história, porque não há como dissociar o Panorama Tricolor – e sua excelência literária – da trajetória recente do Fluminense Football Club.

No Panorama, vê-se o Fluminense também sob outro viés, não aquele que se percebe apenas do aspecto literal de um texto, mas literariamente, metaforicamente, uma forma diferente e, acredito, pioneira, de se produzir conteúdo sobre um clube de futebol.

E não apenas isso. Também é um bastião da defesa democrática dentro e fora do clube e um guardião de seus interesses e os de sua torcida. Quem não se lembra de 2013?

Fica aqui, portanto, o meu agradecimento ao Panorama Tricolor por tudo o que representa para o Fluminense e para o futebol nacional e, sobretudo pela oportunidade que me foi dada de cerrar fileiras com tão dignos representantes da torcida tricolor na lida diária de levar o nosso amado clube, de uma forma diferenciada, a milhares de leitores.

Aproveito a oportunidade homenagear a causa primeira, a origem de tudo, com este singelo poema:



Obrigado, Fluminense


Amo-te em silêncio e efusivamente
penso-te diariamente
como quem pensa com a razão
e com o coração.

Sou grato à tua existência
porque se não existisses
eu seria menos eu
seria menos um pouco
de cada coisa que já fui.

Seria mais, certamente,
o insuportável fruto
de um destingido
e imprestável
destino.

Agradeço, também, às lembranças
proporcionadas em cores nítidas
em três cores bem vivas
embaciadas de pó-de-arroz
ao som de gritos de guerra
que fazem vibrar
até o mais estoico dos estoicos.

Obrigado, Fluminense,
pelos dias de luz e escuridão
porque todos, sem exceção,
foram dias de paixão
porque paixão não se entende
não se mede, não se aprende
sente-se inexoravelmente
sem razão.

Obrigado, Fluminense,
por esse inefável
e inconsumível desejo
de sentir-te sempre
pulsando em meu peito,
ainda que meu tempo se esgote
mesmo que a vida passe
mesmo num outro mundo,
obrigado por tudo,
Fluminense.


Felipe Fleury

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O que se passa?

Após a pífia atuação contra o Ypiranga/RS, Levir disse mais ou menos o seguinte: “A responsabilidade é minha. Eu peço uma coisa, mas eles não cumprem. Amanhã conversarei com o Presidente e resolveremos”.

Não precisou ser mais direto. Estava claro que pretendia pôr à disposição seu cargo de treinador no clube. Para a nossa sorte, Levir permanece no Fluminense.

Uma mudança no comando técnico, no atual e conturbado momento tricolor, - mais uma no ano – serviria apenas para retardar ainda mais os progressos de uma equipe que, desde o começo da temporada, mas involuiu do que evoluiu tecnicamente.

Levir não sairia por incapacidade profissional como seus antecessores, afinal todos conhecemos seus méritos, mas por uma estranha dificuldade de comunicação, de fazer-se ouvir.

Eu acreditaria nessa suposta dificuldade se Levir fosse daqueles que transmitem seus conhecimentos aos jogadores como se estivesse dando aula num curso de mestrado. A sua fala simples, seu jeito simples, porém, não indicam, minimamente, que não possa ser entendido pelos destinatários de suas determinações.

Logo após a partida contra a equipe gaúcha, ainda sob o calor da emoção, tratei o fato como uma sabotagem. Talvez tenha exagerado, mas certamente a ausência de sintonia entre comandante e comandados possui motivação subjetiva e passa necessariamente pela desmotivação do grupo.

Há a justificativa da mediocridade da equipe, mas mesmo jogadores medíocres correm e se doam dentro de campo e não é isso que se vê no Fluminense desde a conquista da Primeira Liga.

Fred faz falta como um líder e motivador, mas a Liga foi conquistada sem ele. Então, o que há?

Os jogos em Volta Redonda, as constantes mudanças na equipe, a personalidade do treinador podem ser motivos, assim como outros que desconheço, mas nada disso justifica essa espécie de motim denunciado por Levir.

Ao que parece, alguns jogadores desse grupo não perderam o ranço de tempos não tão distantes assim, quando demonstravam suas insatisfações pessoais no campo de jogo, prejudicando sobremaneira os interesses do Fluminense por questiúnculas particulares normalmente de cunho financeiro.

Essa desmotivação coletiva pode não ter a contundência de uma sabotagem, mas não deixa de ser um desrespeito ao próprio treinador, ao clube e à torcida.

Como funcionários do Fluminense, pagos em dia, a motivação deveria ser obrigatória. Mas, se o fato de vestirem a camisa de um dos maiores clubes do Brasil não serve de fator motivador, cabe ao Departamento de Futebol Tricolor identificar e coibir qualquer ação que vise ao prejuízo dos interesses do Fluminense.

Para tanto só é preciso pulso, rigor nas ações, clareza ao expor as regras: disciplina.

Levir identificou, mas não expôs publicamente o problema. Está no Flu, mas com as malas prontas.

Contra o Vitória, saberemos se a repercussão de suas declarações, a conversa com o Presidente, a pressão da torcida terão surtido algum efeito no moral dos jogadores. Se tudo continuar como está, teremos a certeza de que o que se passa dentro das quatro linhas não poderá ser mudado por nenhum treinador, pois transcende o seu poder e, quem tem atribuição para dar a solução, definitivamente não se interessa em resolver o problema.

Com a saída de Fred, Levir, é a estrela da companhia. Sem ele, o que já está ruim ficará pior. Para o bem do Fluminense, que todos entendam isso e se irmanem num único propósito: tornar o Flu novamente vencedor.


E reforços são imprescindíveis. Para ontem.

sábado, 2 de julho de 2016

Até quando...

O descompromisso do torcedor tricolor de Volta Redonda com o time parece um reflexo do descompromisso do Fluminense com o futebol. A apatia tricolor contagia o seu torcedor que, se nunca foi muito de ir ao Estádio da Cidadania assistir ao Flu, agora é que perdeu definitivamente o gosto. Os menos de mil pagantes não mereceram mais uma apática apresentação de um Fluminense que, um dia, já foi o orgulho dessa imensa torcida.

O Tricolor iniciou o primeiro tempo com três alterações em relação à partida em que perdeu para o São Paulo, com William Mateus, Dudu e Pierre nos lugares de Giovanni, Douglas e Cícero. Apesar das alterações, a equipe não parecia diferente das últimas partidas: tinha a posse de bola, mas não era eficiente no ataque.

O desejo de Levir de transformar o Flu num time que ataca e defende com eficiência em bloco ainda não se concretizou. Mesmo assim, o Tricolor foi superior na primeira parte do jogo tendo perdido boas oportunidades de abrir o marcador aos 15` com Henrique, que, de cabeça, desviou uma falta cobrada por Scarpa, no travessão. Quatro minutos depois, Dudu, aproveitando outro lance de bola parada, arrematou para excelente defesa do arqueiro coxa branca. Aos 25`, numa jogada de contra-ataque, Welington Silva perdeu na cara do gol, chutando em cima do goleiro, no primeiro lance de perigo do Flu não originado de um lance de bola parada. Aos 43` o Coritiba chegou pela primeira vez ao gol tricolor, oportunidade em que a presença de Cavalieri foi fundamental para que o adversário não marcasse seu tento. Por fim, ao 45`, Henrique, novamente de cabeça, após a cobrança de escanteio, exigiu do guarda-metas alvi-verde importante intervenção.

Como se percebe, o Flu dependeu quase que exclusivamente das bolas paradas para chegar ao gol adversário, porque a sua criação no meio praticamente inexiste. Scarpa, embora tenha se apresentado um pouco melhor do que nas últimas partidas, ainda não foi o que se espera de um jogador que deve exercer essa função.

O segundo tempo começou melhor para o Coritiba, tanto é que Levir aos 10` fez logo duas substituições: Maranhão e Richarlisson por Dudu e Magnata. Dudu não estava mal na partida e a opção de Levir talvez tenha se baseado na necessidade de o jogador ter sentido a falta de ritmo de jogo, uma vez que foi a sua primeira partida como titular.

Mas as mexidas não surtiram qualquer efeito. Somente por volta dos 25`, quando o Coxa resolveu arriscar um pouco mais e buscar a vitória, o Flu encontrou mais espaços para jogar. E aí, Richarlisson, aos 30`, fez ótima jogada pela esquerda que resultou em escanteio. Na cobrança, Edson, de cabeça, concluiu rente à trave esquerda adversária. Aos 33` Samuel perdeu outra chance e aos 36`, em jogada de Maranhão, dessa vez pela direita, o Flu quase chega ao gol não fosse a boa defesa do goleiro do Coritiba. Aos 41`, após erro conjunto de Cavalieri – na reposição de bola – e Henrique, Kleber teve a oportunidade mais clara do jogo e quase marca para o Coxa.

Daí por diante o Flu tentou inutilmente chegar ao gol do Coritiba, mas esbarrou na sua própria mediocridade. O resultado de empate acabou sendo justo pelo que fizeram em campo duas equipes que se nivelam por baixo. O resultado foi pior para o Fluminense, que jogava como mandante e tinha a obrigação da vitória.

Já disse em outras oportunidades que sem reforços, não almejaremos nada e ainda correremos o risco de lutar contra o rebaixamento. Henrique Dourado, um atacante, deve ser apresentado. Ainda é pouco. Do jeito que as coisas andam, para que haja alguma resposta dentro de campo precisamos, no mínimo, de um bom zagueiro, um lateral esquerdo e um meia armador de qualidade.

Quanto aos estreantes, esse William Matheus precisa ser melhor observado e Dudu mostrou alguma qualidade. Nada, porém, que dê muitas esperanças ao torcedor de que uma transformação imediata na forma de jogar dessa equipe possa ocorrer.

E quanto a Levir, que considero um bom treinador, também deve fazer seu mea culpa. O seu esquema de ataque e defesa em bloco ainda não vingou, o Flu é um time frouxo na marcação e pouco eficiente no ataque. Faltam peças, mas, como técnico, é responsável por dar minimamente a sua cara ao time, o que ainda não aconteceu.

Mais um resultado decepcionante num campeonato que não perdoa a incompetência. Depois, poderá ser tarde demais. Ou essa diretoria acorda, ou conseguirá o que vem perseguindo com a sua inaptidão há algum tempo: rebaixar o Fluminense.


Todos merecemos um presente e um futuro melhor. Chega de sofrimento.