domingo, 10 de abril de 2016

Levir ou Fred?

Qualquer conversa que envolva o Fluminense deve ter por respeitada uma premissa inarredável: Nada ou ninguém é maior do que Ele.

Quando Levir Culpi assumiu o Tricolor, depois de algumas apostas que não deram certo, uma das suas primeiras marcas foi mostrar que, no clube, cada um deve ter predefinida a sua função. Simples de se entender: um treinador comanda o time, um jogador treina, joga e obedece às suas determinações.

Levir, pensando em preservar o artilheiro – após um mês fora dos campos - e, sobretudo porque Fred não poderá disputar a final da primeira Liga, optou por colocá-lo em campo não mais do que 60 min, substituindo-o ainda no início da segunda etapa.

Pensei cá com meus botões: Fred não deve estar gostando disso.

E não estava.

Não foi surpresa o seu sentimento de desaprovação, mas foi surpresa que a sua manifestação – deixando de participar de dois treinos, de viajar com a equipe para Volta Redonda e anunciar: “Ou Levir ou eu!” – tenha ocorrido às vésperas de uma importante decisão para o Fluminense.

A sua atitude demonstrou nitidamente que se preocupa mais consigo do que com o Tricolor.

Fred reinou absoluto no Flu, enquanto teve um vice de futebol e alguns treinadores que lhe fizeram todas as vontades. Encontrou, contudo, em Levir, um técnico que pensa mais no conjunto, mais no interesse coletivo e mais no Fluminense do que nele.

Todos sabemos o quanto Fred foi importante para o Fluminense e o quanto o Fluminense foi importante para o Fred. Nessa ponderação de importâncias, ninguém deve nada a ninguém.

Mas se o artilheiro não consegue aceitar que se criem alternativas a si, como Levir tem feito ao tirar o Fluminense da mesmice que era a dependência exclusiva do artilheiro, demonstra unicamente egoísmo, orgulho e vaidade que não se coadunam com o sentimento de coletividade e solidariedade que deve nortear uma equipe de futebol.

Levir Culpi não barrou o artilheiro. Apenas o substituiu no decorrer dos jogos. Imagino que Fred tenha pressentido que em breve poderia perder a vaga, mas nem isso justificaria a sua conduta, praticamente impondo ao Presidente do Clube, como num ultimato, que a sua permanência dependeria da saída do treinador.

Fred é o terceiro maior artilheiro da história do clube. Foi imprescindível nas campanhas de 2009, 2010 (em certa parte) e sobretudo em 2012, mas se o seu ego não admite que seja contrariado, ainda que para o bem do Fluminense, que vá ser feliz n’outro lugar.

Será difícil ver o artilheiro vestindo outra camisa, especialmente no Brasil, mas é assim que funciona o futebol moderno. Não há romantismo, há interesses, e quando esses não se combinam mais, resta a rescisão, se possível amigável.

Hoje, Levir resolve dois problemas no Fluminense: primeiro a faz jogar futebol e, segundo, mostra que treinador de pulso não se submete a caprichos de quem quer que seja.

Ao contrário de Fred, Levir sabe que o Fluminense é muito maior do que ele.

De toda a sorte, seria muito melhor para o clube, neste momento, que o artilheiro repensasse o seu gesto, pedisse desculpas e ambos contribuíssem, cada qual com suas virtudes, para um Fluminense melhor e maior.


Seria uma atitude honrada e digna de um ídolo.

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