Qualquer conversa que envolva o Fluminense deve
ter por respeitada uma premissa inarredável: Nada ou ninguém é maior do que
Ele.
Quando Levir Culpi assumiu o Tricolor, depois
de algumas apostas que não deram certo, uma das suas primeiras marcas foi
mostrar que, no clube, cada um deve ter predefinida a sua função. Simples de se
entender: um treinador comanda o time, um jogador treina, joga e obedece às
suas determinações.
Levir, pensando em preservar o artilheiro –
após um mês fora dos campos - e, sobretudo porque Fred não poderá disputar a
final da primeira Liga, optou por colocá-lo em campo não mais do que 60 min,
substituindo-o ainda no início da segunda etapa.
Pensei cá com meus botões: Fred não deve estar
gostando disso.
E não estava.
Não foi surpresa o seu sentimento de
desaprovação, mas foi surpresa que a sua manifestação – deixando de participar
de dois treinos, de viajar com a equipe para Volta Redonda e anunciar: “Ou Levir
ou eu!” – tenha ocorrido às vésperas de uma importante decisão para o Fluminense.
A sua atitude demonstrou nitidamente que se
preocupa mais consigo do que com o Tricolor.
Fred reinou absoluto no Flu, enquanto teve um
vice de futebol e alguns treinadores que lhe fizeram todas as vontades.
Encontrou, contudo, em Levir, um técnico que pensa mais no conjunto, mais no
interesse coletivo e mais no Fluminense do que nele.
Todos sabemos o quanto Fred foi importante para
o Fluminense e o quanto o Fluminense foi importante para o Fred. Nessa
ponderação de importâncias, ninguém deve nada a ninguém.
Mas se o artilheiro não consegue aceitar que se
criem alternativas a si, como Levir tem feito ao tirar o Fluminense da mesmice
que era a dependência exclusiva do artilheiro, demonstra unicamente egoísmo,
orgulho e vaidade que não se coadunam com o sentimento de coletividade e
solidariedade que deve nortear uma equipe de futebol.
Levir Culpi não barrou o artilheiro. Apenas o
substituiu no decorrer dos jogos. Imagino que Fred tenha pressentido que em
breve poderia perder a vaga, mas nem isso justificaria a sua conduta,
praticamente impondo ao Presidente do Clube, como num ultimato, que a sua
permanência dependeria da saída do treinador.
Fred é o terceiro maior artilheiro da história
do clube. Foi imprescindível nas campanhas de 2009, 2010 (em certa parte) e
sobretudo em 2012, mas se o seu ego não admite que seja contrariado, ainda que
para o bem do Fluminense, que vá ser feliz n’outro lugar.
Será difícil ver o artilheiro vestindo outra
camisa, especialmente no Brasil, mas é assim que funciona o futebol moderno.
Não há romantismo, há interesses, e quando esses não se combinam mais, resta a
rescisão, se possível amigável.
Hoje, Levir resolve dois problemas no
Fluminense: primeiro a faz jogar futebol e, segundo, mostra que treinador de
pulso não se submete a caprichos de quem quer que seja.
Ao contrário de Fred, Levir sabe que o
Fluminense é muito maior do que ele.
De toda a sorte, seria muito melhor para o
clube, neste momento, que o artilheiro repensasse o seu gesto, pedisse
desculpas e ambos contribuíssem, cada qual com suas virtudes, para um
Fluminense melhor e maior.
Seria uma atitude honrada e digna de um ídolo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário