(Publicado no site Panorama Tricolor em 28.12.2014)
O objetivo deste
texto não é o de tratar da oposição tricolor em suas especificidades, em
miudezas. Ao contrário, busca traçar um panorama genérico de como deveria
funcionar uma oposição ou situação consciente de que nenhum interesse
particular deve suplantar o interesse maior da instituição Fluminense Football
Club.
Faltam, assim,
dois anos para as eleições presidenciais do Fluminense e já se apresentam,
oficialmente ou não, correntes contrárias à atual gestão tricolor que,
reconduzida à presidência em novembro de 2013, mostra os sinais de um desgaste
natural após dois mandatos consecutivos. Até mesmo Celso Barros, presidente da
ex-patrocinadora do Flu, já manifestou expressamente seu interesse em
participar, não se sabe ainda se apenas através de apoio a algum grupo político
de oposição, ou mesmo como candidato à própria presidência, da disputa
eleitoral. De toda a sorte, Celso Barros já é oposição, ou já era há algum
tempo e somente agora, com o rompimento oficial da parceria, pôde deixar isso
bem claro.
Não que a formação
de grupos oposicionistas decorra necessariamente da existência de um pleito
próximo, mas, naturalmente, eles se robustecem à medida em que o caminho até o
próximo se avizinha tormentoso para a atual administração.
Certamente, o
Presidente Peter Siemsen, impossibilitado de se reeleger uma terceira vez,
apoiará um candidato que encampe seus ideais e siga a sua linha política, o que
desde já provoca a repulsa de tricolores decepcionados com a sua gestão. Quando
digo decepcionados, entendo que este seria o termo adequado para quem quase que
unanimemente o reelegeu há pouco mais de um ano. Foi um massacre nas urnas
contra o candidato da oposição, Deley; uma vitória contundente e respaldada menos
por seu desempenho como gestor de futebol do que por sua capacidade
administrativa – afinal de contas 2013 foi um ano catastrófico dentro dos
gramados para o Fluminense – e favorecido, ainda, pela vetusta corrente
política que apoiava o seu adversário. Nesse sentido, preferi o termo “decepcionados”
a, por exemplo, “revoltados” ou “indignados”, porque grande parte dos que hoje
contestam a sua gestão, muito provavelmente, em algum momento, já o apoiou e
acreditou em seus projetos.
Pois bem. O ano de
2014 também não foi bom para o Tricolor e o de 2015 insinua-se ainda mais turbulento
ante a drástica redução das verbas destinadas ao futebol pela recente perda do
patrocínio-master da Unimed; e, é nesse cenário fértil às críticas e cobranças,
que as correntes oposicionistas tendem a proliferar. Infelizmente, é uma
realidade cruel e não afeita apenas à política interna dos clubes de futebol.
Muito ao contrário, trata-se de reflexo da política que se vê no dia a dia, nos
gabinetes executivos e legislativos, maquiavélica, porém real, nos assuntos
internos de qualquer clube.
Nenhuma crítica
aqui se faz à existência da oposição política. Assim como é necessária ao
recrudescimento da democracia, porque dá ao cidadão a oportunidade de escolher,
dentre as propostas existentes, aquela que melhor atende aos seus anseios para
substituir o sistema vigente, também é fundamental, guardadas as proporções
devidas, quando se trata das correntes de pensamento internas de um clube,
aptas a renovarem o quadro político dominante.
A oposição
consciente, tanto quanto necessária, é saudável. Barbosa Lima Sobrinho, brilhantemente,
ensinou que "Falta de oposição é fenômeno grave, porque nunca se sabe o que vai
surgir. Se não há contestação cruzam-se os braços e aceita-se o fato consumado
que, muitas vezes, no íntimo se repele." A contestação é, portanto,
imprescindível para se modificar aquilo que não funciona, ou funciona
precariamente no ambiente social e político em que vivemos.
Mas somente a
oposição consciente e ética é saudável. A crítica, por mais ferrenha que possa
parecer, deve vir acompanhada de sugestões, projetos e ser precipuamente ética.
O ataque pessoal e o questionamento despropositado, gratuito e fulcrado somente
na rivalidade política desconstrói a imagem de uma oposição coerente e capaz de
revolver os alicerces que sustentam a corrente política da situação.
Nas próximas
eleições presidenciais do Fluminense haverá, pela primeira vez, a participação
efetiva do sócio-torcedor associado há pelo menos dois anos da data do pleito.
Esse torcedor “comum” certamente decidirá o destino do clube em 2016 e é a ele
que se deve tentar convencer, tanto oposição quanto situação, acerca do que é o
melhor para o Fluminense.
Uma oposição
sistemática, baseada apenas em ataques à gestão atual sem levar em consideração
seus pontos positivos ou projetos alternativos, estará fadada ao fracasso. É
preciso entender que, antes de ser oposição ou situação, o torcedor almeja o
bem do Fluminense e, para tanto, deseja conhecer propostas, opções que possam
tornar o clube cada vez mais forte. Nesse ponto, o torcedor também repudia a
falta de ética, as ofensas gratuitas, porque com certa frequência, quem assim
age procura apenas dissimular a sua incapacidade política para contrapor as
ideias da gestão no poder. E isto é sinônimo de fraqueza.
O que importa
realmente para o Fluminense é que as correntes oposicionistas, algumas já em franca
campanha, e as que surgirem, tanto quanto a situação, promovam um debate no
campo das ideias. Dessa forma, o torcedor poderá escolher de acordo com a sua
própria consciência qual a melhor linha a seguir. A contundência das
intervenções, assim, deve se ater às propostas e aos questionamentos coerentes,
porque a oposição consciente valoriza o debate e constroi um ambiente propício
ao engrandecimento do clube mostrando-se como opção viável ao projeto vigente.
E é disso que o
torcedor precisa, de uma alternativa viável, caso seja de seu interesse mudar o
que aí está posto.
Serão dois anos problemáticos
pelas dificuldades financeiras que o clube fatalmente enfrentará. Tudo o que o
Fluminense não precisa é de que esse biênio seja transformado, também, num
período de conturbada atividade política que perturbe ainda mais o seu ambiente
interno. Para tanto, oposição e situação devem se conscientizar de que mais do
que seus próprios interesses é o interesse do Fluminense que deve preponderar e
de que o embate saudável, adstrito às ideias, tornará a campanha eleitoral apta
a fornecer aos eleitores opções verdadeiramente comprometidas com o futuro
tricolor.
A antecipação do
debate eleitoral é aceitável e até previsível diante do quadro que se apresenta;
esse largo período tanto pode ser útil à construção de um projeto político
eficaz e à conscientização do eleitor, como pode ser, por outro lado, um
obstáculo à caminhada do Fluminense rumo aos seus objetivos. Nessa toada,
importante distinguir o homem da instituição; nem sempre se atinge o primeiro
sem que sofra consequências a segunda e, portanto, toda cautela é pouca no
agir.
Sejamos políticos mas, sobretudo,
sejamos tricolores.
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