segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Chip e a Bola

Normalmente não é preciso muito mais do que uma tragédia para que se mude o que já deveria ter sido mudado. É a catástrofe o fato gerador dos brados indignados que ecoam nos gabinetes de quem deveria, mas não agiu, e que agora age sobre o fato consumado.
 
É assim na vida social, política, cultural e até esportiva, menos no futebol.
 
A entidade que detêm o seu controle no mundo, contudo, recalcitra em aplicar ao esporte bretão a modernidade que já inseriu a tecnologia em diversas outras modalidades esportivas. A regra é afastar qualquer interferência externa que possa influenciar o resultado do jogo, mesmo que essa ingerência venha fazer justiça ao prejudicado pela decisão equivocada da arbitragem.
 
Julga-se, assim, preservar o romantismo, o subjetivismo e a emoção da disputa em detrimento da imagem congelada, do replay de um lance e até do chip na bola.
 
A catástrofe mencionada no primeiro parágrafo é, guardadas as devidas proporções, a mesma que se impõe a uma equipe que, por exemplo, teve um gol legítimo invalidado porque o árbitro não percebeu que a bola chutada ao gol adversário efetivamente atravessou a linha da meta, acarretando-lhe, por vezes, uma derrota injusta.
 
Nem os reiterados episódios em que a arbitragem anula gols legítimos quando, na verdade, as bolas ultrapassaram a linha da meta adversária, ainda que por centímetros, impulsionam as autoridades responsáveis pelo nosso futebol na direção do emprego da tecnologia para afastar a dúvida e fazer justiça dentro de campo.
 
É certo, porém, que nem tudo deve ser levado a ferro e fogo. A tecnologia do chip na bola a fim de confirmar ou não um gol é válida, mas a atuação humana também deve ser.
 
A tecnologia deve ser aplicada quando o olho humano falhar, de forma subsidiária. Imagine-se um caso em que ficou evidente que a bola cruzou a linha de meta, mas o chip nela implantado, por uma falha qualquer, não indicou a ultrapassagem. O que valeria? A tecnologia do chip que não indicou o gol ou a sensibilidade do árbitro que, acertadamente, visualizou a bola atrás da linha do gol e marcou o tento?
 
O chip será bem-vindo, mas sem que se desconsidere a participação imprescindível da arbitragem. A desumanização do esporte, com o afastamento absoluto da subjetividade do árbitro, desnaturaria o futebol, como apregoa a FIFA; a aplicação isolada da tecnologia, por sua vez, não resolveria todos os problemas do campo de jogo.
 
O meio termo é a medida adequada.
 
E nem se deve argumentar a desnecessidade do assistente que fica postado próximo à baliza em virtude do lance ocorrido na recente partida entre flamengo e Vasco, oportunidade em que o auxiliar, mesmo a pouquíssimos metros do lance, deixou de comunicar ao árbitro o gol legítimo da equipe cruzmaltina.
 
Era lance de olho nu, cuja eventual indicação do chip seria mera confirmação daquilo que foi visto por todos, menos pelo assistente. Com o chip ou sem ele, não haveria, como não houve, qualquer dúvida da ocorrência do gol que a arbitragem não assinalou porque não quis.
 
O parceiro humano da tecnologia é que deve ser honesto, sob pena de qualquer inovação aplicada ao futebol tornar-se medida inócua.
 
Avante, Fluminense! ST.

Nenhum comentário:

Postar um comentário