Informo ao leitor, de antemão, que este não é
um estudo de viabilidade técnico-financeira ou qualquer esboço de projeto. Não
tenho conhecimento profissional para isso. É apenas – e peço permissão a você –
um sonho em forma de desabafo que desejo compartilhar.
Nos últimos anos, grandes clubes do futebol
nacional têm se mobilizado para reformar ou construir modernos estádios. Um
desejo inerente a todo torcedor, certamente, é ter uma casa moderna, que possa
chamar de sua.
Internacional, Grêmio, Palmeiras, Corínthians,
Atlético Paranaense modernizaram seus estádios ou construíram novas arenas. Não
entrarei no mérito das eventuais facilidades obtidas do poder público, como por
exemplo no caso da construção do Itaquerão, arena do Corinthians.
Prefiro citar o exemplo do Palmeiras que,
através de uma parceria empresarial aparentemente legal, construiu a sua
moderníssima arena – ao custo de 630 milhões - sobre os escombros do seu antigo
estádio Palestra Itália. Trata-se de uma arena multiuso, uma tendência mundial,
com capacidade para 43.600 torcedores – espectadores de futebol, para shows o
público aumenta - onde o clube recebe integralmente a receita de seus jogos e a
empreendedora assume todas as despesas correntes para funcionamento do estádio
e aufere seus lucros da exploração da publicidade, shows, camarotes, cadeiras
especiais, lanchonetes, restaurantes, lojas etc.
Gradativamente, o clube palestrino passará a
receber participação também nas demais atividades geridas pela empreendedora
até a integralização de todo o custo para a construção, acordo, cujo prazo
final foi fixado em 30 anos; ao fim do contrato, a parceria com a empresa será
encerrada e a arena definitivamente incorporada ao patrimônio do clube.
Não é preciso dizer que uma arena própria
alavancaria qualquer projeto de sócio-torcedor, como se viu exatamente com o
torcedor palmeirense que saltou diversas posições no ranking de associação após
a construção do estádio. Além disso, o retorno financeiro é colossal. De todos
os clubes das séries A, B e C do futebol nacional, o Palmeiras é o segundo no
ranking de público pagante com uma média de 28.913 torcedores por jogo – perde
apenas para o Corinthians, com 31.844 pagantes -, com o bilhete de entrada a
uma preço médio de R$80,00, gerando uma renda bruta de R$23.325.941,00.
Em quatro meses – campeonato paulista e fase
inicial da Copa do Brasil -, o Palmeiras “enriqueceu” quase 24 milhões de
reais, sem contar a renda oriunda do projeto de associação. Uma previsão
minimalista impõe reconhecer ganhos muito maiores durante as demais competições
nacionais que, em regra, atraem muito mais público.
O torcedor sente-se estimulado a ir ao estádio,
gastar em produtos do clube e associar-se, além é claro, do fator psicológico,
pois jogar em sua própria casa, com a torcida praticamente inteira a favor, é
sempre um obstáculo a mais para o adversário transpor.
Evidentemente, um contrato de parceria dessa
envergadura precisa ser muito bem estudado a fim de que não haja conflitos,
principalmente quanto às datas dos eventos comercializados pela empreendedora e
as partidas de futebol, ou mesmo quanto à forma de comercialização de camarotes
e cadeiras especiais.
Como eu disse, estou aqui sonhando. Já ficaria
bastante satisfeito se o nosso lendário Estádio das Laranjeiras pudesse ser
transformado em algo como um Craven
Cottage, o também centenário e simpático estádio do Fulham F.C., de
Londres, com capacidade atual para cerca de 25 mil torcedores confortavelmente
instalados, após recente reforma.
Um clube da grandeza do Fluminense não pode
caminhar na contramão da modernidade. Se eu fosse seu presidente, e isso é
apenas elucubração, não tenho qualquer pretensão política, trataria o assunto
como uma das suas prioridades e criaria um departamento exclusivo, composto de
profissionais experimentados e comprometidos para alcançar uma solução viável
para a construção de uma estrutura completa de futebol: centro de treinamento e
um novo estádio.
O Fluminense merece um estádio moderno à altura
de sua grandeza, onde exerça a sua “soberania” e não se submeta a desmandos de
terceiros ou a incompatibilidades para atuar num ou noutro campo; e o seu torcedor
uma casa que possa chamar de sua.
Como eu disse, trata-se apenas de um desabafo,
um desejo incontido de poder um dia levar minhas filhas ao novo estádio do
Fluminense e dizer: esta aqui é nossa casa, onde continuaremos a escrever uma
história gloriosa, sintam-se à vontade.
Imagem: Google
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