terça-feira, 1 de abril de 2014

Fluminense e Unimed, uma Relação que já foi Longe Demais

O Fluminense é um clube sui generis. Lá, vige um sistema presidencialista, onde o presidente eleito, a quem caberia a função institucional de comandar administrativa e politicamente o clube, prefere submeter-se, silenciosamente, aos caprichos de outro presidente; este sim, titular oculto, porém absoluto, que, legitimado pela dependência financeira do Fluminense à empresa que dirige, manipula a seu bel prazer os destinos do Tricolor.

A parceria entre o Fluminense e a Unimed sempre foi benéfica para a empresa de planos de saúde, porquanto é notório o seu crescimento em vendas alavancado pela visibilidade da marca atrelada aos uniformes e demais símbolos tricolores.

Nem sempre, porém, foi boa para o Fluminense. Enquanto houve o que comemorar, como os recentes títulos nacionais, as interferências de Celso Bastos incomodavam, mas eram abafadas pelas citadas conquistas. Agora, que as ingerências encontraram eco no caótico momento por que passa o Fluminense, desde 2013 apresentando pífios resultados dentro de campo, as imposições do mecenas soam drasticamente agravadas, principalmente porque condiciona novos investimentos à sua vaidade pessoal, à indicação de nomes para o elenco, para o comando técnico e até para a cúpula do futebol tricolor, como no recente caso da indicação de Rodrigo Caetano.

Ao que parece, ao informar publicamente que se o Fluminense não está satisfeito com o investimento realizado, deve seguir seu próprio caminho, Celso Barros praticamente "lavou as mãos", quanto ao destino da parceria, mostrando-se absolutamente despreocupado com os interesses do Fluminense e de sua torcida.

Não deveria ser assim, afinal de contas, o contrato do Tricolor é com a Unimed e não com Celso Barros. Ser presidente da empresa de planos de saúde, assim como de qualquer outra empresa privada, deveria significar para o seu gestor apenas a sua representação legal, a defesa dos seus interesses institucionais e a busca do objeto previsto em seu contrato social. Celso Barros, contudo, vai além.

Mal acostumado, em virtude de vários anos de intromissões indevidas, o mecenas recebeu liberdade demasiada e honrarias excessivas nas Laranjeiras, algo que não se lhe retira de uma hora para outra.

Por contas dessas liberalidades e, na posição de presidente da patrocinadora, Celso se põe acima do bem e do mal: "Se não estão satisfeitos, que o Fluminense procure seu caminho".

Não deveria ser assim. Flu e Unimed possuem um contrato, um acordo de vontades que deve pressupor ônus e bônus para as partes, equilíbrio que deve nortear o negócio jurídico, sob pena da possibilidade, inclusive, de revisão contratual. Funcionaria mais ou menos assim: "Unimed, de um lado...Fluminense...de outro; Unimed poderá explorar a marca Fluminense, bem como o direito de imagem dos seguintes profissionais do clube:...; Fluminense receberá pela cessão de uso da sua marca e pelo direito de imagem de seus jogadores a quantia de R$...".

Estabelecidas as cláusulas contratuais, sejam algo parecido com essas ou outras, totalmente diversas, o contrato deve ser cumprido. Duvido que alguma das cláusulas disponha que o Presidente da empresa poderá intervir ao seu livre critério na escolha dos profissionais do departamento de futebol, ou que possa, de acordo com a sua conveniência, investir mais ou menos no clube.

Contrato assinado, valem as cláusulas ali estipuladas, se não forem nulas.

Então por que Celso Barros tem o poder de "abrir ou fechar a torneira" ou de indicar jogadores, treinadores e comissão técnica? Se o dinheiro não é oriundo de seu patrimônio pessoal, e sim da empresa, algo de muito errado ocorre.

Seja pela intromissão indevida de alguém que se acha dono do Fluminense, seja pela subserviência de uma administração pusilânime que abaixa a cabeça para as determinações do mecenas.

Penso que já chega. Toda parceria só é válida quando é boa para as partes. Assim como se demitem jogadores e técnicos que não rendem o esperado, é chegada a hora de rever a Unimed e Celso Barros na vida do Fluminense.

Uma dos elencos mais caros do Brasil não pode se submeter a vexames como os recentes contra Botafogo e Horizonte e a perda da chance de disputar as finais de um tecnicamente fraco campeonato carioca. Esse elenco, bancado em sua maior parte pela Unimed, já passou da hora de ser reciclado.

E não se diga que o Flu não sobreviveria sem o dinheiro da Unimed, porque ele já está afundado num mar de dívidas e fiascos dentro e fora de campo. O dinheiro do patrocinador, hoje, paga o direito de imagem de um elenco milionário e que não funciona.

A maioria dos clubes de futebol no Brasil possui investidores "comuns". Por que seria difícil para o Fluminense, com o seu nome, torcida e o poder de sua marca, atrair um bom patrocinador? Quem sabe, com investimentos menores, sem jogadores caríssimos e inúteis, fosse possível montar um elenco escolhido com critério dentro da nova realidade financeira do clube?

Um novo investidor que pudesse garantir a permanência de jogadores como Cavalieri, Carlinhos, Conca e Walter, por exemplo, dispensando-se o restante, inclusive Fred. Imagino que a folha mensal seria drasticamente diminuída com a saída dos improdutivos, que seriam substituídos por jogadores jovens, ainda sem expressão, mas que tenham desejo de mostrar seu futebol, garantindo-se, assim, excelente custo-benefício na aquisição de novos atletas.

Melhor errar na escolha quando se paga pouco do que se gastar fortunas com escolhas erradas, fundadas em critérios duvidosos.

É preciso perder o medo de que o Fluminense não suportará a ausência da Unimed. É preciso entender que, pior do que está, poderá ficar, se não se der um basta a essas intromissões que só têm feito mal ao clube.

Esta relação está desgastada demais e, talvez, já tenha ido, também, longe demais; portanto, que as amarras sejam rompidas ao término da vigência do atual contrato, pois o Fluminense precisa de investidores, não de megalomaníacos, e de um presidente que saiba dizer não a tudo e a todos que lesam o Fluminense.
 
Avante, Fluminense! ST

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