domingo, 20 de abril de 2014

A Ressurreição Tricolor

Cada um de nós possui a sua própria verdade, uma representação única e peculiar sobre a realidade fática que se apresenta aos nossos sentidos.

Assim é que um mesmo fato pode parecer a mais de uma pessoa de uma forma tão diferente que chegue a ser paradoxal, sem deixar, contudo, de ser objetivamente a mesma coisa.

E nenhuma análise é tão precariamente unânime quanto uma partida de futebol. Se há unanimidade no futebol, e não deveria haver, pois toda ela, segundo nosso mestre Nelson Rodrigues, é burra, resume-se a instantes de um todo que dura noventa minutos.

E é assim porque, durante o decurso do jogo, erra-se e acerta-se com a frequência que justifica o bordão de que nem tudo é perfeito.

Eu eu digo isso para poder afirmar que, para tudo na vida, e especialmente para o futebol, cuja análise ora se faz, há os pessimistas, os otimistas e os indiferentes. Os primeiros, conforme seus critérios, põem os erros e acertos numa balança mental e sempre a verão pender segundo uma percepção negativa. Já os otimistas, nessa mesma balança, sempre estarão aptos a enxergar a prevalência dos aspectos positivos.

Os indiferentes são apenas indiferentes, mas no futebol, movido pela paixão humana, sobra-lhes pouco espaço.

Portanto, quem assistiu ao Fluminense, pela segunda vez sob o comando de Cristóvão, sobrepujar a equipe do Figueirense pelo placar de três tentos a zero, provavelmente já fez a sua análise sobre o que observou, seja ela pessimista ou otimista.

Para alguns, a vitória representou apenas o dever de impor à equipe mais fraca a sua superioridade. Para outros, porém, foi bem mais do que uma vitória, foi o ressurgimento de um espírito adormecido, de um novo Fluminense, cujas primeiras impressões sob o comando do novo treinador dão indícios de que, feitos determinados ajustes, teremos um ano bem diferente do tenebroso 2013.

Prefiro, mesmo sob o risco de despencar do penhasco que eu mesmo criei, deixar a parcimônia de lado e filiar-me aos entusiastas. Afinal de contas, não há qualquer demérito, quando se trata de futebol, enganar-se com a percepção da realidade que se nos apresenta, o que, aliás, é fato corriqueiro.

E, se todos somos livres para expormos nossas convicções, peço licença para expor os motivos da minha empolgação.

Eu vi o Fluminense realizar a sua melhor partida no ano. Vi um time organizado, ofensivo e aguerrido. Vi também estratégia e posicionamento, vontade e ânimo renovado.

Talvez este meu entusiasmo seja apenas o reflexo de uma comparação entre o Flu que entrou em campo ontem e aquele que se apresentou como uma equipe sem estratégia, gana e paixão durante mais de um ano. Talvez seja pura carência de futebol.

Não há dúvida, porém, de que o novo técnico possui papel preponderante nessa mudança. Senti que o time clamava por alguém que lhe pusesse ordem, e a ordem foi instalada.

Parece que funções foram delegadas, e que agora cada um sabe o que fazer dentro de campo. A equipe, com seus homens de frente, inclusive Fred, marcou a saída de bola adversária com uma dedicação que até então não havia visto. O time sufocou, provocou o erro, recompôs rápido e saiu em contra-ataque. A receita perfeita do futebol moderno, onde todos contribuem no ataque e na defesa.

Os laterais avançaram como devem avançar, até a última linha do campo, e a linha de frente ajudou a proteger o meio o que, por sua vez, deu mais segurança à defesa.

Conca, o maestro, teve Wagner como importante coadjuvante na criação das jogadas ofensivas e até mesmo na marcação. Jean e Diguinho cumpriram bem a missão de guarnecer a defesa e ainda saíram com qualidade para o ataque quando foi necessário.

Carlinhos e Bruno estiveram bem, alternando jogadas que sempre levaram perigo aos adversários.

Até a zaga, que deverá ser reforçada em breve, saiu-se bem, ressalvados dois ou três perigosos contra-ataques da equipe catarinense o que, por si só, não comprometeu a boa atuação defensiva da equipe.

Fred, visivelmente motivado, também foi bem diferente daquele jogador lento e previsível das últimas partidas. Participou ativamente do jogo, tanto no ataque quanto na marcação. Ajeitou a bola para o gol de Sóbis, cobrou, enfim, um pênalti com perfeição e movimentou-se intensamente em campo.

E Sóbis, o guerreiro Sóbis, retribuiu a sua permanência no Flu com uma atuação de gala. Fez um golaço, como poucos teriam qualidade para fazer, criou a jogada do terceiro gol e lutou como um leão dentro de campo.

Se a primeira impressão é a que fica, Cristóvão já deu duas claras demonstrações de que o ano será melhor para o Fluminense. E não foi apenas com o que se viu dentro de campo, mas, principalmente, fora dele: humildade.

Pode ser que, semana que vem, tudo isto não seja mais verdade, mas quem disse que verdades são absolutas?

O que valeu foi ver um novo Fluminense em estratégia e atitude, um Fluminense ressurgido. E que seja sempre assim.

Avante, Fluminense! ST
 
Foto: Lancenet.

 






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