Fred é um tema tormentoso. Há quem o ame e quem
o odeie e tudo o que se diz sobre ele é encarado, por um ou por outro lado, muito
frequentemente, de forma exacerbada, como uma afronta pessoal. Não deveria ser
assim. Por isso, não falarei sobre ele – tudo o que penso sobre o artilheiro já
expus nas minhas crônicas e resenhas. Não vale a pena, agora, procrastinar o
tema.
Foram as suas declarações, contudo, ratificadas
por outros jogadores do Fluminense, logo após a derrota acachapante para a
Chapecoense, que me incentivaram a escrever. Suas críticas à torcida, que
entoou gritos de “olé” enquanto o time era massacrado dentro de campo, merecem
uma análise mais profunda e uma resposta, ainda que esta não lhe chegue aos
olhos ou ouvidos.
Eu, particularmente, sou contra o “olé”. Sou a
favor da vaia após uma péssima partida, da vaia ao “sanguessuga” da equipe, ao
jogador que faz corpo mole; mas sou contra o “olé”, porque, na minha concepção,
o “olé” tripudia e, mais incentiva o adversário do que demonstra a insatisfação
do torcedor com seu próprio time. Para isso – para a insatisfação - basta a
vaia.
Mas quem sou eu para tolher a lídima expressão
da torcida? E quem é Fred para fazê-lo? Jogador regiamente remunerado,
empregado do clube, que recebe os bônus por ser jogador do Fluminense, mas não
aceita os seus ônus, dentre eles a cobrança do torcedor.
O torcedor é soberano. Pode vaiar, pode xingar,
pode quase tudo. Não pode fazer como recentemente fizeram alguns torcedores
gremistas e proferir insultos racistas; não pode agredir, invadir ou atirar
objetos ao gramado. E o “olé” está dentro daquilo que lhe é permitido.
Assistimos às transformações de nossos estádios
em arenas, somos patrulhados diuturnamente pelo que fazemos e até pelo que
pensamos e não seria sensato, nem justo, que o politicamente correto fosse também
norma de conduta dentro dos estádios, onde o que deve prevalecer é a reação
espontânea e apaixonada do torcedor, dentro dos limites da legalidade.
O parlamentar, por exemplo, possui imunidade
por suas palavras, opiniões e votos no exercício da sua atividade legislativa.
É essa imunidade que o isenta de qualquer responsabilidade criminal, cível ou
administrativa na tribuna do plenário, porque é o representante do povo e não
pode ser punido pelo que disser em seu nome. E a tribuna do torcedor é a
arquibancada. É ali, talvez, o único lugar em que pode se manifestar
livremente, incentivando e cobrando o clube de seu coração. É da arquibancada que emana o grito
que, imagina, é ouvido por cada jogador dentro de campo. Proibir esse direito ao
torcedor, retirar-lhe o direito de ser ouvido, calar a voz que vem da
arquibancada, é matar a alma do futebol, transformando-o em mero espectador, um
espectador silencioso e triste.
Portanto, mesmo que eu discorde do “olé”, nunca
poderia discordar do direito de a torcida entoá-lo, uma vez que, como disse
Voltaire: Je hais vos idées, mais je me
ferai tuer pour que vous ayez le droit de les exprimer. E é esta a lição
que Fred deve aprender. E respeitar.
Avante, Fluminense! ST
Excelente.
ResponderExcluirConcordo com o autor do texto , é o que eu penso tb. Se eu estivesse lá na hora ( fui embora no 3º gol) eu tb não gritaria Olé, mas mas tb não censuraria ninguém que estivesse ao meu lado que estivesse gritando "Olé".
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