sábado, 22 de novembro de 2014

O "olé" e a soberania do torcedor

Fred é um tema tormentoso. Há quem o ame e quem o odeie e tudo o que se diz sobre ele é encarado, por um ou por outro lado, muito frequentemente, de forma exacerbada, como uma afronta pessoal. Não deveria ser assim. Por isso, não falarei sobre ele – tudo o que penso sobre o artilheiro já expus nas minhas crônicas e resenhas. Não vale a pena, agora, procrastinar o tema.

Foram as suas declarações, contudo, ratificadas por outros jogadores do Fluminense, logo após a derrota acachapante para a Chapecoense, que me incentivaram a escrever. Suas críticas à torcida, que entoou gritos de “olé” enquanto o time era massacrado dentro de campo, merecem uma análise mais profunda e uma resposta, ainda que esta não lhe chegue aos olhos ou ouvidos.

Eu, particularmente, sou contra o “olé”. Sou a favor da vaia após uma péssima partida, da vaia ao “sanguessuga” da equipe, ao jogador que faz corpo mole; mas sou contra o “olé”, porque, na minha concepção, o “olé” tripudia e, mais incentiva o adversário do que demonstra a insatisfação do torcedor com seu próprio time. Para isso – para a insatisfação - basta a vaia.

Mas quem sou eu para tolher a lídima expressão da torcida? E quem é Fred para fazê-lo? Jogador regiamente remunerado, empregado do clube, que recebe os bônus por ser jogador do Fluminense, mas não aceita os seus ônus, dentre eles a cobrança do torcedor.

O torcedor é soberano. Pode vaiar, pode xingar, pode quase tudo. Não pode fazer como recentemente fizeram alguns torcedores gremistas e proferir insultos racistas; não pode agredir, invadir ou atirar objetos ao gramado. E o “olé” está dentro daquilo que lhe é permitido.

Assistimos às transformações de nossos estádios em arenas, somos patrulhados diuturnamente pelo que fazemos e até pelo que pensamos e não seria sensato, nem justo, que o politicamente correto fosse também norma de conduta dentro dos estádios, onde o que deve prevalecer é a reação espontânea e apaixonada do torcedor, dentro dos limites da legalidade.

O parlamentar, por exemplo, possui imunidade por suas palavras, opiniões e votos no exercício da sua atividade legislativa. É essa imunidade que o isenta de qualquer responsabilidade criminal, cível ou administrativa na tribuna do plenário, porque é o representante do povo e não pode ser punido pelo que disser em seu nome. E a tribuna do torcedor é a arquibancada. É ali, talvez, o único lugar em que pode se manifestar livremente, incentivando e cobrando o clube de seu  coração. É da arquibancada que emana o grito que, imagina, é ouvido por cada jogador dentro de campo. Proibir esse direito ao torcedor, retirar-lhe o direito de ser ouvido, calar a voz que vem da arquibancada, é matar a alma do futebol, transformando-o em mero espectador, um espectador silencioso e triste.

Portanto, mesmo que eu discorde do “olé”, nunca poderia discordar do direito de a torcida entoá-lo, uma vez que, como disse Voltaire: Je hais vos idées, mais je me ferai tuer pour que vous ayez le droit de les exprimer. E é esta a lição que Fred deve aprender. E respeitar.


Avante, Fluminense! ST


2 comentários:

  1. Concordo com o autor do texto , é o que eu penso tb. Se eu estivesse lá na hora ( fui embora no 3º gol) eu tb não gritaria Olé, mas mas tb não censuraria ninguém que estivesse ao meu lado que estivesse gritando "Olé".

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