quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Ver e o Sentir

Eu vi um jogo em que o mandante, no primeiro tempo, esteve acuado, inteiramente submisso à intensa pressão do Grêmio durante quase todo o período. Apático, letárgico, irreconhecível, o Fluminense teve apenas uma boa chance de gol, que nasceu de um belo chute de Cícero, de fora da área. No mais, teve sorte por não ter sofrido um ou mais gols da equipe gaúcha. Carlinhos, nos seus piores dias, e Elivélton, temerário como sempre, foram os destaques negativos de uma equipe que também tinha alguns de seus bons valores bem aquém do que se esperava, como o próprio Cícero, Wagner e Sóbis.
 
Carlinhos, escancaradamente, demonstrava não estar nem um pouco satisfeito em vestir a camisa do Fluminense. Apesar de possuir contrato com o clube e receber elevado salário em dia, andava em campo, errava passes simples e corria para não chegar a lugar algum. Isso estava tão visível que Cristóvão mandou aquecer Chiquinho, por volta dos 25 minutos de jogo, talvez com a intenção de alertar o lateral esquerdo titular.
 
Apesar de ter aquecido desde o primeiro tempo, Cristóvão efetuou a substituição esperada no intervalo da partida, provavelmente para poupar Carlinhos das vaias da torcida. Agiu bem. O time, mais pela saída do lateral do que pela entrada de seu substituto, pareceu ganhar novo fôlego na segunda etapa. Veio mais disposto, marcando a saída de bola adversária e saindo em velocidade nos contra-ataques, principalmente puxados por Jean, seja pela direita, seja pelo meio, ou por Chiquinho, pela esquerda.
 
O jogo ficou aberto. O Flu perdeu boas chances com Fred e o Grêmio, então, passou a jogar como visitante, explorando os contra-ataques. Barcos perdeu ótimas chances, sendo uma desperdiçada no travessão, após bela cabeçada, e outra, em virtude de excelente defesa de Cavalieri. O Tricolor carioca, porém, não se intimidou. Cristóvão acertou novamente ao trocar Sóbis por Kennedy, que deu muito mais movimentação à frente, apesar de sua imaturidade. Num lance em que fez fila, desperdiçou ótima chance ao arriscar o chute pressionado, quando Fred, livre, esperava o passe para concluir para o gol com melhor ângulo.
 
Vi, portanto, um Flu muito melhor no segundo tempo do que no primeiro, mas com um zagueiro fraco, Elivélton, que não pode assumir a condição de titular do Fluminense e um lateral, Carlinhos, que, em virtude de problemas contratuais, está visivelmente desgostoso em vestir a camisa tricolor. Vi também um Fred participativo que, quando deixou a área, armou boas jogadas, porque além do faro de gol, tem qualidade no passe.
 
Apesar de o resultado ter sido ruim, o que tem sido uma constante ultimamente, foi justo e manteve o Flu ainda mais longe da sonhada vaga para a Libertadores.
 
O que eu senti, contudo, foi uma equipe sem ambição, que parece estar satisfeita se conseguir alcançar pontos suficientes para evitar qualquer risco de rebaixamento. Sentimento envolve outros valores, como a análise do contexto, a percepção e até mesmo intuição. E o que sinto, infelizmente, é que os desmandos da diretoria que repercurtem dentro do elenco, a carência de jogadores e a falta de vontade e de qualidade técnica de alguns deles são obstáculos para que o Fluminense almeje algo melhor este ano.
 
Apesar da possibilidade matemática de se conseguir a vaga no grupo dos quatro, o tricolor parece não ter forças para ir mais longe. Não se trata de fase ruim. Fases ruins todos têm. O Fluminense parece que atingiu seu limite e nada indica que esses jogadores estão motivados o suficiente, quando deveriam estar, para ir adiante. Ecos, talvez, de equívocos no planejamento, principalmente quando parte desse elenco deveria ter sido reciclado e o departamento de futebol deveria ter sido mais atuante e firme na imposição das determinações do Clube e não se submeter, como se submete, a interesses menores e grupelhos de jogadores insatisfeitos com pagamentos de premiações e outros problemas contratuais.
 
Avante, Fluminense! ST

Um comentário:

  1. ST**** Felipe.

    Parabéns pela habitual lucidez.

    E por colocar o dedo na ferida apontando as doenças que podem ser diagnosticadas quando o "grupo" está em campo.

    Mauro Balbino

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