Além do gol e do belo passe que culminou no
segundo tento tricolor, o que mais me chamou a atenção no desempenho de Dom
Fredon na noite de ontem foi a sua atitude dentro de campo. Principalmente três
lances me pareceram emblemáticos, indicativos de que Fred não está nem um pouco
conformado com as críticas que vem sofrendo e, particularmente, com suas
atuações pelo Fluminense e até pela seleção brasileira, quando foi injustamente
tachado de único responsável pelo malogro canarinho: no primeiro, o câmera focaliza
Fredon brandindo seus braços e a leitura labial permite concluir que pede garra
ao time; o segundo lance me surpreendeu ainda mais, Fred disputa uma bola no
“pé de ferro” e leva a melhor!; por último, já na parte final do jogo, o
artilheiro ainda encontrou fôlego para marcar no campo de defesa.
Na verdade, são momentos que podem parecer
normais a qualquer jogador que entre em campo para exercer a sua atividade
profissional. Não eram, contudo, para Fred. E parece que ele entendeu isso.
Desde o retorno da copa, gradativamente tem procurado se readaptar a um novo
estilo de jogo, diferente daquele que o consagrou como um dos maiores
artilheiros do Fluminense e que norteou sua carreira até aqui. Inteligente que
é, percebeu que o estilo estático, pouco participativo funciona quando se tem
um time inteiro que jogue para ele, e que tenha qualidade.
Sua idade, sua forma física, porém, o tornaram
mais previsível e menos eficiente no ataque, tornando-o alvo fácil das defesas
adversárias e, não raras vezes, engessando o esquema de jogo tricolor quando o
atrelava a uma única jogada ofensiva: bolas ao Fred!
Escrevi há algum tempo que não acreditava que o
artilheiro pudesse deixar de lado seu estilo de jogo ultrapassado, porque já
está na fase derradeira da carreira, e porque seu estilo de vida e histórico de
lesões, provavelmente, não permitiriam que se tornasse esse “novo jogador”. Talvez
tenha razão, talvez seja tarde demais para Fred mostrar algo novo, algo que
faça esquecer que um dia foi chamado de cone, mas não se pode deixar de louvar
a sua iniciativa em tentar desfazer essa imagem negativa.
Dentro de campo, não se pode acusá-lo de
omissão. Tem ajudade na área com seus gols, fora dela com passes qualificados e
assistências eficientes, na defesa combatendo e, por fim, mas não menos
importante, com sua liderança, sempre importante para manter o equilíbrio
emocional da equipe. Até quando, não se sabe.
O importante é que a consciência de que precisa
cuidar de sua vida extra-campo também o tem auxiliado nessa “nova fase”. Não
sou vidente, mas Fred não tem se contundido com a frequência com que se
contundia, - aliás, a última vez já faz um bom tempo - e isso significa que tem
se cuidado em casa, evitando exageros que não se coadunam com a carreira de um
atleta profissional.
Essa nova consciência de Dom Fredon é, antes de
uma resposta a todos que o criticam, uma resposta a si mesmo de que ainda é um
jogador que pode atuar em alto nível se perseverar na determinação dentro dos
gramados e nos cuidados com seu corpo e mente fora deles.
Como crítico de Fred, já o questionei quando
ameaçou uma greve injusta ou quando parecia que se acomodaria numa situação
confortável, respaldada por um contrato que lhe garante um salário absurdamente
elevado e pela titularidade que ninguém teve “coragem” de lhe tirar.
Fred poderia continuar sendo considerado o
“cone” mais bem remunerado do planeta, mas a sua dignidade como pessoa, e eu
acredito nisso, o impulsiona a tornar a ser o jogador de outrora, em busca de
alternativas que o conduzam novamente à eficiência, não somente por si, mas também por todos nós
torcedores do Fluminense.
Se conseguirá, não se sabe, mas num momento em
que as críticas recaem pesadas sobre ele, é preciso reconhecer e elogiar a
conduta de um jogador que, pelo menos, tenta mudar um quadro que parecia
imutável.
Avante, Fluminense! ST
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