(Publicado no site Panorama Tricolor em 01.03.2015)
O
assunto pode parecer repetitivo, maçante, mas é necessário que seja rediscutido.
Em que
pese a amiga e cronista aqui do Panorama Tricolor, Crys Bruno, com o
brilhantismo que lhe é peculiar, ter traçado com absoluta propriedade o perfil
do treinador Cristóvão Borges na sua crônica “O perdido e o passivo”, de 25 de
fevereiro, não posso me abster de, também, tecer algumas considerações sobre o
nosso comandante.
Cristóvão
já deveria ter sido demitido após o fim da temporada de 2014. Manteve-se no
cargo após, inicialmente, ter dobrado a sua pedida salarial – de duzentos para
quatrocentos mil reais mensais – e, posteriormente, ter recuado, ante a
perspectiva negativa de dificuldades financeiras que se avizinhava com a
notícia do rompimento unilateral do então patrocinador-master do Fluminense, a
Unimed.
Talvez
as novas diretrizes impostas pela necessária redução das despesas tenha dado à
torcida tricolor alguma tolerância em relação à sua permanência para 2015, uma
vez que, pelo menos, era um nome que já conhecia o grupo e poderia começar um
trabalho desde o início da pré-temporada, circunstância que lhe daria a
oportunidade de escolher nomes para compor o elenco e interagir com o grupo
desde a sua formação. Além disso, aceitara manter seu salário, enquadrando-se
na nova política de gastos do Fluminense.
Confesso
que, diante daquele quadro sombrio, eu mesmo entendi que Cristóvão era a opção
mais viável para comandar o Fluminense. Fiz vista grossa ao seu passado recente
como treinador do Flu, aos vexames monumentais a que fomos submetidos na
temporada passada, e aceitei passivamente a sua escolha, dando-lhe novo crédito
de confiança.
O
início desta temporada, porém, indicia que as suas crônicas deficiências
persistirão. Embora tenha tido tempo suficiente para treinar e avaliar os
recém-chegados e a vantagem de já conhecer a espinha dorsal da equipe,
Cristóvão ainda não conseguiu dar ao time um padrão tático. Algumas vitórias
sobre adversários fraquíssimos encobriram a sua debilidade profissional,
descortinada por ocasião das duas últimas partidas, quando enfrentou a melhor
equipe dentre as consideradas de menor investimento e o primeiro clássico,
sucumbindo em ambas as oportunidades com um futebol abaixo da crítica.
Cristóvão
é treinador de uma nota só, criador de uma estratégia defasada e previsível –
bolas ao Fred -, que não foi capaz de se reinventar, de recursos escassos e que
raramente consegue desconstruir a estratégia de um adversário que possua um
sistema defensivo sólido ou, mesmo, alterar um panorama adverso dentro de uma
partida.
O
Fluminense não precisa de mais um enganador, precisa de um profissional que
explore o potencial de uma equipe tecnicamente qualificada – mesmo após a saída
de importantes jogadores - que não produz como poderia e deveria e que esteja à
altura da sua grandeza. E esse é um problema de quem decidiu trazê-lo e
mantê-lo ao privilegiar a política do “bom, bonito e barato”, política que, ao
menos quanto à escolha do comandante, se mostrou equivocada e incompatível com
a história grandiosa do Clube.
Aí está
a chamada economia porca. Esforços
foram envidados para que jogadores como Cavalieri, Gum Jean, Fred e Wagner
renovassem seus contratos, mas o principal, por onde tudo começa, foi
esquecido. A garantia de um Fluminense minimamente competitivo em 2015 passará,
necessariamente, pela escolha de um novo treinador, qualificado o suficiente
para dar ao tricolor um rumo diferente deste que vem tomando.
Neste
ponto, não se prega qualquer loucura, afinal de contas, no fantasioso e
inflacionado mercado do futebol, nem sempre o mais caro é o melhor. Mas, quando
um Doriva, com todo o respeito ao Doriva, consegue dar a um time medíocre como
o do Vasco, uma organização tática e uma disposição que não se viu nos
comandados de Cristóvão, é possível acreditar que bons treinadores – e nem tão
caros assim – estejam em algum lugar deste imenso país à espera de uma
oportunidade para mostrar o seu valor num clube como o Fluminense.
Um bom
técnico é investimento, não é despesa. Um profissional arguto, experiente,
estrategista poderá aproveitar melhor o potencial de que dispomos e dar à
equipe um sentido coletivo de organização dentro de campo, algo que não se vê
há longo tempo.
Enquanto
insistirem com Cristóvão, qualquer avaliação que se faça sobre os novos jogadores
contratados poderá ser precoce e precipitada. Em boas mãos, alguns desses que
hoje são questionados, podem se revelar muito mais úteis à equipe. E aí está
uma das principais diferenças entre um treinador de verdade e um impostor.
Faço
coro, portanto, à sua demissão como forma de dar ao Fluminense, no mínimo,
esperança de uma temporada competitiva. A sua permanência nos relegará a um
patamar inferior, distante daquilo que deve pretender um clube vitorioso em
qualquer competição que dispute. Por outro lado, não creio que o
recrudescimento do nome de Abelão, abertamente veiculado nas redes sociais após
a derrota para o Vasco, seja a solução ideal. Seu estilo “paizão” e
protecionista não se coaduna com a formação de uma nova equipe, em que somente
ascendam à titularidade aqueles que tiverem mérito para tanto.
Imagino
sangue novo. Alguém que possa dar ao Flu uma cara diferente daquela que se viu
nos últimos anos. Por isso, é bom que já se pense num substituto, uma vez que
este combalido campeonato carioca, se não predestina ninguém ao sucesso no
restante da temporada, ante a notória fragilidade dos adversários, serve,
contudo, para mostrar deficiências explícitas que, não corrigidas, poderão
acarretar ônus elevados futuramente.
Sinto-me tão honrada como ganho menção sua, querido Fleury. Pena que por conta de algo muito difícil de lidar: os mesmos erros do Fluminense. Mas...
ResponderExcluirUm beijo fraterno.
Obrigado, minha amiga. A menção é uma forma de enaltecer sua capacidade de enxergar o que muitos outros não enxergam: o futebol em seu estado puro, com toda a sua beleza e paixão.
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