Hoje falarei sobre algo que me atormenta, principalmente
porque participo ativamente da vida nas comunidades virtuais relacionadas ao
Fluminense e acabei me interessando por essa relação à distância entre pessoas
que, por vezes, nem mesmo se conhecem fisicamente, mas que podem se agredir por
muito pouco e com a rapidez de poucos “cliques” em seus teclados.
O que me assusta nesse cenário é a falta de
gentileza, a intolerância, o tratamento desrespeitoso que se vê amiúde nas
redes sociais, quando discussões que deveriam ser apenas calorosas - quando
muito - ultrapassam a fronteira da argumentação - quando há - e se transformam
em enfrentamentos graves, com ofensas mais graves ainda.
Evidentemente, grande parte desse destempero
não seria externado se as discussões fossem presenciais, mas o escudo protetor
da distância transforma tímidos em desinibidos e covardes em corajosos. E a
gravidade das ofensas, não raro, é inversamente proporcional ao tema posto em
debate. Briga-se, ofende-se por qualquer motivo, bastando, para tanto, que
opiniões seja contrariadas.
A verdade não é propriedade de ninguém, cada um
tem a sua e deve expô-la com educação e respeito. Nada é mais poderoso num
debate de ideias que a força do argumento e, tanto quanto ele, o respeito à
opinião alheia. Dar ao seu interlocutor a oportunidade de manifestar o seu
pensamento livremente para depois contraditá-lo com seus fundamentos, apenas
com eles, é enriquecer o valor da contenda, é fortalecer o direito à liberdade
de expressão.
Na política, na religião, no futebol, ou em
qualquer outro assunto posto em discussão, o que se tem visto com espantadora
frequência é a intolerância e a ofensa gratuitas. Incapazes de aceitar a
opinião alheia, muitos partem prontamente para a agressão virtual – cuidado, pois
também pode configurar crime – pregando o ódio contra um interlocutor que nem
mesmo conhece. Essa raiva enrustida e descarregada em desabafos odiosos nas
redes sociais serve apenas a um propósito: promover conflitos.
Todos somos brasileiros e queremos o melhor
para o país, mas a intolerância cria barreiras instransponíveis entre dogmas criados
para opor gente que só deseja viver feliz. Todos somos brasileiros e devemos
respeitar o Estado laico em que vivemos, mas a prepotência faz crer que apenas
a nossa religião conduz à salvação. Todos somos tricolores e devemos lutar por
um Fluminense forte, mas o orgulho e a vaidade embaciam nossos pensamentos e
nos tornam pretensos donos da verdade, atacando companheiros de paixão
clubística. Somos todos arautos de uma verdade que é apenas relativa – porque
somente nossa -, mas que desejamos impor a todos como se absoluta fosse.
Outro dia, por exemplo, desejei parabéns ao Rio
de Janeiro por seus 450 anos. Alguém respondeu à minha postagem com um
“Parabéns é o c...Rio cheio de bandidos, cidade de m...”. Está aí um típico
exemplo de ignorância que conduz à intolerância, de ódio arraigado despejado
gratuitamente. Qual seria a culpa do Rio de Janeiro pelos malfeitos de seus
governantes? O autor da frase simplesmente descarregou ali a sua fúria, sem
mais nem menos, sem argumentos, apenas com raiva.
É uma tese utópica, claro, mas não custa tentá-la.
Assim, ao evitar transpor seus conflitos pessoais para o outro lado da tela de
um computador, você estará ajudando a criar um mundo menos intolerante.
Experimente, qualquer que seja o assunto discutido, discordar com educação,
seja nas suas relações virtuais ou reais. Por mais veemente que seja a defesa
do seu argumento e, por mais intransigente que possa parecer o seu interlocutor,
ele pensará duas vezes antes de retrucar com uma ofensa. Pode funcionar, afinal
de contas, como dizia José Datrino, o Profeta Gentileza, “Gentileza gera gentileza”. Não custa experimentar.
Respeite para ser respeitado, seja gentil e
educado nas suas relações interpessoais. Se você acha que o mundo não ficará menos
conflituoso apesar disso, pelo menos o tornará um ser humano melhor. Voltaire,
na sua célebre frase Je hais vos idées,
mais je me ferai tuer pour que vous ayez le droit de les exprimer, já reconhecia
um dos fundamentos mais importantes da liberdade de expressão, que é o direito
de expor livremente as ideias. Acrescento ao seu discurso, se isso me for
permitido, que essa liberdade deve ser praticada com respeito, sob pena de
transmudar-se de direito em abuso.
Refute a ideia de seu interlocutor com educação,
garantindo-lhe sempre o direito de dizer o que pensa e, sobretudo, seja gentil,
afinal de contas a gentileza, antes de ser uma regra de conduta social, é uma
regra de civilidade.
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