Há alguns dias me deparei com uma polêmica
postagem numa rede social. Alguém escreveu que o Fluminense, por ser um clube
originário do Rio de Janeiro, somente teria torcedores aqui – cidade e estado;
os demais fãs, espalhados por todos os cantos do país, não seriam torcedores,
mas apenas simpatizantes.
Trata-se, evidentemente, de uma visão
distorcida e até mesmo discriminatória, mas que nos leva a uma reflexão mais
profunda sobre o que sejam, realmente, simpatizantes e torcedores no mundo do
futebol, mais especificamente no que diz respeito ao Fluminense Football Club.
Desconsiderar essa parcela extra-Rio de Janeiro
da torcida tricolor é ser, no mínimo, injusto com torcedores que aprenderam a
amar o Fluminense apenas imaginando, ao ouvir as transmissões radiofônicas de
outrora, os grandiosos times que nossos antepassados cariocas tiveram a
oportunidade de assistir ao vivo. Muitos
daqueles, que só tinham o rádio como fonte de informações, morreram sem ter
visto o clube que aprenderam a amar uma única vez; porém, mesmo assim,
transmitiram a sua paixão para filhos e netos nos mais diversos rincões do
Brasil. Como não reconhecer a eles, então, o status de verdadeiros torcedores?
São esses tricolores do Distrito Federal, de
Santa Catarina, do Espírito Santo, de Mato Grosso, de Rondônia, do Amazonas,
por exemplo, que dão ao Fluminense a natureza de um clube nacional. E muitos
desses, não se olvide, participam mais ativamente da vida tricolor do que
muitos cariocas que residem próximos às Laranjeiras ou aos estádios onde o Flu
costuma se apresentar.
Essa distinção não pode se dar, portanto,
apenas pelo critério geográfico.
O que distinguiria, assim, simpatizantes de
torcedores? A resposta a essa indagação é importante não somente para que se
tenha uma noção mais exata do tamanho da torcida, mas para que esta seja
explorada como fonte de receitas para o clube através de um marketing
eficiente.
O torcedor, segundo penso, é quem acompanha, se
interessa pelos assuntos e produtos do Fluminense, aqui no Rio, em Manaus ou em
Worcester. A sua pouca ou nenhuma frequência aos jogos, assim como o local em
que nasceu, não podem ser fatores determinantes para o seu “rebaixamento” ao
patamar de simpatizante. Por vezes a distância, as condições financeiras e
outras circunstâncias o impedem de acompanhar presencialmente seu time, mas não
o impedem de tê-lo permanentemente em seu coração.
O simpatizante é, mas não é. Para ele tanto faz
uma derrota ou vitória, porque nenhum sentimento nutre pelo clube, senão o da
mera simpatia. Pelas cores, pelas origens, pela gratidão a algum parente, seja
pelo que for, o simpatizante não torce, apenas simpatiza.
Se um instituto de pesquisas fizesse uma
enquete sobre o time para o qual torce o entrevistado, o torcedor responderia
taxativamente: “Fluminense”; o simpatizante, por sua vez, diria: “Não sou muito
fã de futebol, mas pode por aí Fluminense”. O traço distintivo necessariamente
envolve o sentimento.
Eu mesmo conheço torcedores que, com o passar
do tempo, se transformaram em simpatizantes e simpatizantes que se tornaram
torcedores, o que significa que é sempre importante ao marketing estar atento a
essas correntes migratórias que vez por outra mudam a cara de parte da torcida,
esta entendida em sentido amplo – aqui se incluem os simpatizantes -, porque o
principal destinatário dos produtos do clube é o torcedor, não o simpatizante.
E é pelo número de torcedores, em sentido estrito, que se mede o potencial
econômico da torcida.
É o torcedor, em sentido estrito – aqui se
exclui o simpatizante -, quem, cumulativamente ou não, exterioriza a sua paixão
através da aquisição de produtos oficiais do clube, da associação, da compra
ingressos e pacotes de pay-per-view, mas é sobretudo quem ama o Fluminense
independentemente do que a sua capacidade financeira seja capaz de comprar. O
sentimento de amor ao clube parece ser, assim, um eficiente diferencial entre
quem torce e simpatiza. É ele quem move o torcedor aos estádios longínquos,
manipula o seu humor nas vitórias e nas derrotas e lhe dá o direito de
transmitir aos filhos a sua paixão.
Simpatizantes e torcedores constituem uma
torcida em sentido amplo, mas somente estes últimos estarão ao lado do clube,
porque o amam, nos bons e nos maus momentos.
De toda a sorte, caso não tenha parecido clara
ao leitor a distinção que propus fazer entre simpatizante e torcedor, talvez
esta seja bastante simples e definitiva: se alguém, por acaso, disser que você
é um simpatizante e isso lhe soar como uma ofensa, certamente você é um
torcedor.
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