(Publicado no site Panorama Tricolor em 08.02.2015.)
Quando Fred renovou o seu
contrato com o Fluminense - segundo consta por um valor inicial inferior ao que
recebia, oitocentos mil mensais, com reajustes anuais progressivos até o
patamar de novecentos e cinquenta mil reais em 2019, último ano de seu contrato
- algumas vozes se levantaram para denunciar o que seria um péssimo negócio
para o Flu e um ótimo para o jogador. Já em fim de carreira, segundo os
críticos mais mordazes, e sem condições físicas de ser o atleta de outros
tempos (neste ponto esquecem a sua recente artilharia na última versão do
campeonato brasileiro e a que já se esboça neste estadual), esse novo contrato
seria uma espécie de nababesca aposentadoria. Dinheiro fácil até o fim de sua
carreira como jogador de futebol.
Não tenho uma bola de
cristal para prever o quanto Fred renderá dentro de campo, se fará ou não jus a
esse vultoso salário com a bola nos pés, ou mesmo se o Fluminense terá saúde
financeira para pagá-lo.
Mais do que a discussão de valores,
porém, o sim de Fred à proposta tricolor representou não somente o seu desejo
de continuar no clube, mas, sobretudo, o seu aval, uma espécie de "eu
acredito", a um novo projeto que outros atletas rejeitaram. Acreditar
nessa nova realidade financeira, sem o lastro do derrame de dinheiro
proporcionado pela finada Unimed, e colaborar, com seu status de líder e ídolo, para que os novos e, certamente, árduos
tempos sejam de esperança por um futuro melhor, foi uma demonstração inequívoca
de fé de que muitos olvidavam. Sua decisão, provavelmente, influenciará outros
jogadores a seguirem o mesmo caminho – Jean e Wagner, por exemplo – e mostrará
a todos que o Fluminense está vivíssimo, em que pese toda a negatividade, intra e extramuros, que vivenciamos desde o rompimento com a ex-patrocinadora.
O aceite de Fred, assim,
teve, num primeiro momento, um valor preponderantemente simbólico. Simbolismo
que representa no âmago de seus companheiros, dos dirigentes e da torcida um
fator psicológico importante para que a equipe acredite no seu potencial e lute
por títulos, dirigentes esmerem-se por honrar os acordos firmados e torcedores
acreditem num ano melhor do que os dois últimos.
Mas Frederico também é goleador
– não nos esqueçamos disto –, duas vezes artilheiro do campeonato brasileiro,
edições 2012 e 2014, e sétimo maior artilheiro da história do Flu, com a
possibilidade real de alcançar a vice-artilharia nos quatro anos que lhe restam
de contrato. Ser o vice de Waldo, com 319 gols, não é para qualquer um; e, se
fizer mais 43, atingirá o feito, ultrapassando Orlando Pingo de Ouro. Escreverá
seu nome no pedestal dos maiores ídolos da gloriosa história Tricolor.
E se alguém ainda consegue
questionar o seu custo-benefício, deveria saber que o nosso goleador, mesmo
fora das quatro linhas, pode trazer ótimo retorno financeiro para o Fluminense.
A confirmação da sua permanência, por exemplo, foi suficiente, por si só, para
antecipar a renovação do patrocínio da Frescatto por mais um ano, garantindo
mais quatro milhões de reais para os cofres tricolores – oito milhões por dois
anos de contrato. E eu não duvido de que o seu nome vinculado ao clube por mais
quatro anos seja fundamental para que fato semelhante também possa ocorrer em
relação ao contrato firmado com a Viton 44 e, ainda, para atrair novos
investidores.
Fred, portanto, também faz
dinheiro e, bem explorado por um marketing eficiente, pode fazer muito mais.
Escrevi há alguns dias
sobre idolatria e subjetivismo. Aceitemos ou não, Frederico é ídolo. Se não o
seu, o de milhares ao seu redor. Minha filha, de oito anos, é sua fã. Para ela,
falar em Fluminense é falar em Fred. Uma colega, flamenguista, já foi até as
Laranjeiras e obeteve um autógrafo e uma selfie
com seu ídolo. E assim é por todo o Brasil. Dom
Fredon arrasta atrás de si uma legião de fãs, tricolores ou não.
Esse potencial, contudo,
pode e deve ser melhor explorado. Fred vale não apenas pelo que é, mas pelo que
pode vir a ser. O seu nome, associado a qualquer ação de marketing, qualquer
produto, pode se traduzir em expressivo retorno para o Fluminense, seja
financeiro, ou de exposição de sua marca, o que, invariavelmente, também se traduz,
no fim das contas, em dinheiro. Quando se pretende impulsionar o projeto de
associação ao clube, poder-se-ia pensar numa forma mais efetiva de se utilizar
o garoto propaganda da empreitada. Ações presenciais e frequentes com o
artilheiro, por exemplo, poderiam tornar-se um chamariz eficaz para atrair mais
sócios.
Quanto vale Fred, então? Muito
para os seus fãs, pouco para os seus detratores. Afora as opiniões extremas
justificadas pela paixão, Frederico representou, representa e ainda representará
muito para o Fluminense; seja por suas participações em dois títulos nacionais,
seja pelas artilharias, pela liderança e dedicação dentro de campo; seja também
pelo crédito de confiança que deu ao novo Fluminense, pela sua capacidade de
atrair investimentos ou pela sua condição de ídolo de miríades de torcedores,
fator crucial para um marketing agressivo e rico em contrapartidas para o
clube.
Falta, entretanto, ao
Fluminense, um marketing à sua altura.
Raro, se muito, um atleta profissional
que ame o seu clube no futebol moderno. Mas se houvesse algo próximo do que se
pudesse ter por esse nobre sentimento, talvez esta seja a relação que vivem Frederico
e Fluminense, entremeada de guerra e paz, gáudios e tristezas, como nos
casamentos mais duradouros. O “fico” do artilheiro estabeleceu um liame
definitivo de cumplicidade e respeito recíprocos que a história se encarregará
de contar aos futuros torcedores como uma das relações mais longevas e
gloriosas do Fluminense.
Muito já critiquei Fred e
muito ainda o criticarei, por certo, mas isso não me impede de reconhecer nele
o seu valor como um dos mais importantes atletas que já envergaram a camisa
tricolor.
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