Peço a permissão dos amigos para dividir a
minha coluna de hoje em duas partes, uma delas em nada, mas em nada mesmo
relacionada ao futebol. Infelizmente.
Escrevo esta coluna antes da partida do
Fluminense contra a Chapecoense, apenas para que o texto, quando lido, seja
inserido no contexto temporal adequado.
Perder propositalmente jogos contra equipes que
disputam uma vaga fora do Z4 com o Vasco, apenas para prejudicar o rival
carioca e decretar o seu descenso, não me passa pela cabeça.
Agir dessa forma seria atirar no lixo a própria
dignidade, rebaixando-se ao mais vil dos comportamentos. Se já não há, no mundo
que nos cerca, muitos exemplos de altivez de condutas, não seremos a colaborar
para que a má-fé e a indignidade prevaleçam no futebol.
O jogo deve ser jogado dentro de campo, sem
prévios acordos, sem manipulações. Fazer “corpo-mole”, assim, não deixa de ser
uma forma de manipular o resultado de uma partida.
E o Fluminense, pela sua grandeza, pela sua
história, deverá sempre buscar a vitória, mesmo que essa possa, de alguma
forma, auxiliar o seu maior rival. É da natureza do clube, algo que não pode
ser modificado.
Como salientado, porém, o Fluminense fará isso
por ele mesmo e por sua rica e valorosa história. Não fará porque deveria
“favores” ao Vasco. Bravata pura de dirigentes à beira do abismo que,
desconhecendo a fidalguia tricolor, imaginam que o time poderia entrar para não
vencer jogos que são fundamentais à sua permanência (dele Vasco) na primeira
divisão.
São incautos, por certo. Ganhariam mais se
tivessem permanecido em silêncio, pois, em primeiro lugar, o Fluminense nada
deve a ninguém – Pagar o quê?
está aí para ser lido e compartilhado – e, em segundo lugar, o Tricolor não se
coaduna com negociatas escusas e outras parvoíces típicas de quem não nasceu em
berço esplêndido.
Fluminense é sinônimo de boa-fé e dignidade,
caso contrário não é Fluminense.
Assim, aos desavisados vascaínos que procuraram
cobrar a inexistente dívida do Tricolor, que fique bem claro que o Fluminense
pode não vencer Chapecoense e Avaí, afinal de contas, já passou por péssimos
bocados neste campeonato, mas não faltará vontade de superá-los.
As bravatas de São Januário, portanto, não nos
atingem. Trata-se de mera tentativa de transferência de responsabilidade por um
ano pífio – e aí a prova de que o campeonato carioca foi arranjado – algo
típico de vetustas figuras que já deveriam ter abandonado o futebol há tempos.
Façamos a nossa parte e que o Vasco faça a
dele.
Agora a parte estranha ao futebol, mas que precisa
ser lembrada, que precisa ser tocada como uma ferida dolorosa, para que a dor
lancinante não deixe esquecer que a vida é um direito supremo, está acima das
leis dos homens, e deve ser respeitada sempre.
Já me manifestei em mais de uma oportunidade
aqui no Panorama Tricolor sobre aspectos criminais dessas condutas, por isso
hoje falarei apenas sobre seu aspecto humano, ou melhor, desumano.
Não faço pré-julgamentos, nunca os fiz. Por
isso, sem provas contundentes, não farei qualquer digressão sobre a atribuição
de responsabilidades sobre o nefasto evento que vitimou de morte o torcedor
vascaíno antes da partida entre Flu e Vasco no último domingo.
A culpa, na verdade, é da humanidade, que se
definha, se diminui, se destrói a olhos vistos, e que nos dá sinal disso
diariamente, desde as redes sociais até os noticiários internacionais.
O que difere um indivíduo que dá uma paulada na
cabeça de um rival clubístico daquele que corta a cabeça de um descrente na sua
religião? Os seus propósitos? Não. Na verdade, penso que nada os distingue.
Ambos estão contaminados pelo vírus da desumanidade, do desamor, são ausentes
de tudo. Guiam-se por sinais e grunhidos, protegem-se em bandos e atacam sem
ter fome. Matam por matar.
A polícia mata, o bandido mata, o religioso
radical mata, o marido traído mata, os inimigos se matam. Banalizou-se a morte.
A vida não vale mais nada. Tornou-se um saco vazio esperando ser novamente
enchido de amor, respeito e solidariedade, mas que de tão frágil é levado por
qualquer lufada de vento. E talvez não se encha jamais.
Que Deus tenha piedade de nossas almas e
proteja os nossos filhos.
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