Escolhi a sexta-feira à noite para falar do
Fluminense e escrever minha coluna semanal para o Panorama Tricolor. Meu
compromisso inalienável, intransferível, um dos meus maiores prazeres.
Sentei-me diante da televisão, como costumo
fazer, a fim de otimizar o meu tempo e aproveitar para saber das notícias do
dia. E o choque me veio, não súbito, porque à medida que as notícias iam sendo
atualizadas, o número de mortes também ia crescendo.
O meu tema foi imediatamente absorvido pelas
imagens, comentários e dor vindos de Paris. Desculpem-me os amigos, mas não
tenho condições psicológicas de tratar aqui do assunto de que trataria. As
eleições no Fluminense ficarão para outra oportunidade.
Não posso deixar de me manifestar, no calor do
momento em que recebo as notícias – e observo na tela o número de mortes
crescendo – sobre mais esse atentado contra a humanidade.
Ainda diante da TV, e continuarei,
provavelmente, até terminar o que escrevo, consterno-me por outra barbárie
protagonizada pelo ódio, pela intolerância religiosa, pelo desamor no mundo.
Não foi confirmado oficialmente, mas será em
breve – talvez antes deste texto ser publicado – que os ataques que vitimaram
os inocentes de Paris emanaram de radicais religiosos que não admitem outra
forma de doutrina no mundo, arvorando-se para si o direito de eliminar,
torturar, estuprar, quem não se converter à sua crença.
A violência, como sói acontecer, é o meio
utilizado para que os fracos de espírito façam prevalecer os seus desígnios. E
a violência contra inocentes é a covardia maior, forma de mostrar ao mundo que
“não estão para brincadeira”.
A intolerância que sufoca as sociedades aos
poucos é, sem dúvida alguma, uma das maiores causas desse massacre. Mas ela não
vem apenas do Estado Islâmico, ela está enraizada, disseminada em outros
intolerantes, menos conhecidos, mas igualmente ativos e potencialmente aptos a
explodirem seus ódios a qualquer momento.
São os xenófobos, os racistas, os misóginos, os
nazistas, gente como a gente – ao menos biologicamente – que estão por aí, quem
sabe ao meu ou seu lado, disseminando a hipocrisia, o ódio e a intolerância nas
redes sociais, no dia a dia das relações sociais, nos parlamentos, nos
governos...
Aí está a fonte de tudo. O ódio. O E.I. tem
apenas a vantagem de ser um grupo mais organizado e endinheirado, porque o
mesmo ódio que o move, também move o racista que está ao nosso lado.
É esse combustível que faz a engrenagem
funcionar; sem ele, os dedos não têm forças para apertar gatilhos e as mãos
para empunhar facas.
Infelizmente, penso que estamos num caminho sem
volta. A humanidade escolheu o seu caminho, desde os tempos da Lei de Talião,
passando pelas guerras, colonizações, escravidões, genocídios e o resultado
está aí.
Sinto-me triste, profundamente triste, porque o
mundo está destruindo seu futuro, está matando seus filhos e ninguém,
absolutamente ninguém, estará seguro em qualquer parte dele em pouquíssimo
tempos.
Essa desesperança me corrói a alma, porque é a
desesperança da minha filha, dos nossos filhos, de uma sociedade que está
fadada ao perecimento. Resta saber quando.
Peço perdão pelo meu conteúdo pessimista, pela
fuga do tema, mas não poderia tratar de outro assunto aqui que não fosse este.
Matar inocentes, seja em nome de quem for,
jamais será sinônimo de honradez ou passe para a eternidade. É uma brutalidade
sem tamanho contra a humanidade, é a morte em doses lentas de todos nós, de
nossas esperanças, sonhos e futuro. É o assassinato prematuro de nossos filhos,
é uma vida sem destino que só espera o momento do fim.
Enquanto a humanidade definha, tento sobreviver
ao que me resta; mas não posso deixar, neste momento, de externar o meu luto,
não por Paris ou pela França, mas por todos nós, vítimas dessa insanidade.
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