Na vitória tricolor sobre o Payssandu pela Copa
do Brasil, três jogadores foram protagonistas: o atacante Magno Alves, o
lateral direito Renato e o goleiro Júlio César. Os dois primeiros foram os
autores dos gols do Fluminense e o goleiro, um dos maiores responsáveis por
garantir o resultado com ótimas defesas.
Não haveria nada de especial nisso se esses
três jogadores não fossem um veterano artilheiro que, aos 39 anos de idade e de
volta ao clube que o projetou, ainda não havia marcado com a camisa tricolor;
um lateral direito que era questionado por parte da torcida – frise-se que
lesões que o retiraram do gramado por longo período e o banco de reservas nunca
permitiram que mostrasse plenamente seu futebol – e um goleiro que ainda não
jogara pelo Flu, mas que chegara ao tricolor sob o estigma de fracassos
anteriores, sobretudo quando vestiu a camisa do Botafogo, antes de ser vendido
para a Europa.
Logo depois da partida – e é isso que torna o
futebol apaixonante – diversos torcedores se manifestaram sobre a inusitada
coincidência de três jogadores criticados, obscuros, da “segunda linha” do
elenco tricolor terem sido os principais responsáveis pela importantíssima
vitória sobre o clube nortista. Espalharam-se pelas redes sociais hashtags do
tipo “#nuncacritiquei” ou “#nuncafaleimal” e ainda apaixonadas
manifestações sobre a nova “muralha” tricolor que alguns, mais empolgados, já
atribuíam a titularidade no gol do Fluminense.
E o que tem isso? Nada demais.
Ao torcedor é lícito “cornetar”. Somente a ele
é dado o direito de ser volúvel em suas opiniões, tão volúvel e dinâmico como é
o futebol. Não me espantaria se alguns daqueles que disseram que nunca
criticaram Magno Alves ou Renato estivessem mentindo. Faz parte. Nem me espanto
que, por uma única apresentação, pretendam trocar Cavalieri por Júlio César no
gol tricolor.
Também não seria de estranhar que essas mesmas
vozes, daqui a um mês, após mais dez partidas em branco do veterano artilheiro,
de algumas pixotadas do esforçado Renato e uma ou duas falhas do aclamado
estreante, tornem com força total às críticas que uma única partida teve o
condão de arrefecer.
Tal qual a cornetagem, o entusiasmo exacerbado
também está inserido no espírito do futebol. Sem essas sensações fugazes e
eloquentes o esporte perderia a sua graça. Quantos heróis de 90 minutos já não
vimos? Jogadores que entraram para a história numa única partida e que depois
jamais reeditaram um átimo daquele encanto passageiro...Não nos fizeram
felizes, mesmo que por uma única partida?
Por isso, a minha mensagem ao torcedor tricolor
é para que não se tolha. Se hoje, por exemplo, você assistiu a uma atuação
estupenda do zagueiro Henrique, brade a plenos pulmões: “Henrique é seleção!”.
Se amanhã ele falhar bisonhamente, xingue até a quinta geração de sua mãe.
Tê-lo enaltecido ou criticado antes, não lhe
retira a legitimidade de criticá-lo ou enaltecê-lo posteriormente.
Esse é um direito seu, inalienável, que ninguém
pode turbar. Afinal de contas, assim como na vida, o direito de se arrepender
ou mudar de opinião é o que engrandece o debate esportivo. Mude de opinião
sempre que achar que deva e não dê bola para os patrulheiros de plantão.
Afinal, eles também mudam de opinião, só não admitem isso para você.
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