Quando o desembargador Bernado Garcez bateu o
martelo na última quarta-feira, reconhecendo que o pó-de-arroz utilizado pela
torcida tricolor há décadas, e há alguns anos proibido nos estádios, não
provoca malefício algum a quem quer que seja e pode ser utilizado livremente,
como reza a tradição de nossa torcida, ele também deu um recado bem claro ao
autor da claudicante ação proibitiva: “Vocês devem se preocupar com o que
realmente importa”.
Alguns anos foram perdidos em tempo e dinheiro,
tanto na defesa da utilização do talco quanto na tentativa de sua proibição –
só que neste último caso, dinheiro público desperdiçado, ao se provocar a
atuação do Poder Judiciário para se pronunciar sobre um assunto que não possui
relevância alguma para o Estado, pois sempre se soube – e posteriormente foi
definitivamente comprovado nos autos – que o talco utilizado pela torcida do
Fluminense para fazer sua festa no estádio não provoca qualquer dano à saúde ou
à integridade física do torcedor.
Como eu disse, um processo dessa monta gera
gastos, contribui para o atulhamento do Judiciário, já tão assoberbado com
inúmeras outras demandas mais relevantes, e não apresenta qualque interesse
para o Estado, o autor da ação.
Então o que explicaria toda essa pendenga
judicial por algo tão irrelevante? O próprio desembargador Garcez, jurista
experiente, culto e sensato, praticamente respondeu a pergunta ao afirmar que o
Estado deveria se preocupar com coisas realmente importantes. E ele só não foi
mais direto, porque a ética e o respeito inerentes ao seu caráter não
permitiram.
Dizem – não posso confirmar isso – que o
procurador que deflagrou a ação agiu por interesse pessoal, mais
especificamente, rivalidade clubística. Não estou bem certo dessa eventual
relação entre o autor da ação e o nosso maior rival – clube para o qual,
segundo consta, ele torceria -, mas não há qualquer outro motivo concreto que
autorizasse o Estado do Rio de Janeiro, através de sua procuradoria, a manejar
uma ação tão desarrazoada, tão despropositada, senão a parvoíce e a mesquinhez
de seu representante.
É uma pena que as despesas do Estado,
derrotado, não sairão do seu bolso. Talvez por isso tenha enveredado nessa
tentativa vã de macular uma das maiores tradições da torcida do Fluminense, a
festa do pó-de-arroz, que não machuca, não contamina, mas tão somente embeleza
e mantém viva uma das poucas, talvez a única, manifestação original do torcedor
de um clube do futebol nacional.
A grande verdade é que a tradição do
pó-de-arroz, guerreada injustamente como uma ameaça, deveria ser enaltecida e,
inclusive, tombada junto ao patrimônio histórico-cultural brasileiro. Só não
sugiro isso aos brilhantes advogados que defenderam tão valorosa e
desinteressadamente a causa, porque imagino que já foram além de suas medidas e
que o encargo, agora, deveria ser transferido a quem dele nunca deveria ter se
desincumbido, a quem comanda o clube.
Mas voltemos ao procurador, seu interesse
pessoal e sua conduta. O que o motivaria, realmente, a agir como agiu?
Certamente não foi o seu senso de homem público.
Não é de hoje que o Fluminense é alvo de ações
raivosas. Já imaginei tratar-se de recalque dos menos abonados rivais regionais
ou nacionais em virtude do já finado patrocínio da empresa de planos de saúde,
mas essa ideia desapareceu depois que a parceria se desfez.
O ódio persiste. A causa é mais profunda; é a
incompatibilidade com as cores verde, branco e grená, com o próprio “DNA”
tricolor, com o estilo de vida do torcedor do Fluminense. É inveja pura. Não
falo de pobreza ou riqueza, mas de educação e da falta dela, ou de caráter e de
mau caratismo. Essa diferença, embora não possa ser considerada uma regra – longe
disso, porque todas têm as suas exceções -, indica uma característica marcante
de nosso torcedor, algo que o diferencia de todos os demais.
Ou alguém conhece algum procurador ou outra
autoridade tricolor que tenha, movido por sentimento abjeto, deflagrado alguma
ação contra algum clube rival impugnando, por exemplo, a licitude do patrocínio
de bancos públicos, ou impedindo acordos de financiamento de dívidas
tributárias, presentes os seus requisitos legais?
Em que pese a gravidade maior repouse sobre a
utilização da máquina pública para promover ações contra o Fluminense, ou sobre
a preponderância do interesse particular e rasteiro para prejudicar o clube nos
seus litígios judiciais já estabelecidos – como no recente caso do parcelamento
da dívida tributária – os excrementos raivosos dessa gente também proliferam
pela iniciativa privada.
As mentiras criadas para nos transformar em
vilões do futebol brasileiro; as falsas histórias de viradas de mesa; a maior
fraude de uma competição futebolística – que a imprensa cobriu de forma
superficial e leviana atribuindo-nos a responsabilidade pelo descenso da
Portuguesa de Desportos –; a FERJ e a máfia que nos perseguiu durante a última
edição do finado campeonato carioca e ainda o episódio grotesco de um
nauseabundo personagem que tenta recolher e destruir livros que contam a
história tricolor, dão uma ideia – apenas uma ideia – daquilo que sofremos por
sermos o que somos.
Não se trata de mania de perseguição. Contra
fatos, diz-se, não há argumentos, e todos nós, tricolores, os conhecemos como as
palmas de nossas mãos.
Não penso que essa situação vá mudar algum dia.
Afinal de contas, para isso acontecer, teríamos que ser o que não somos, iguais
a eles.
Só espero, todavia, que os nossos detratores
sigam a orientação do desembargador Garcez: que se preocupem com o que
realmente importa e nos deixem em paz.
Porque eu, como tricolor, não me preocupo se o
Botafogo é um clube falido, se o Vasco poderá ser rebaixado para a série B, ou
se Zico levará adiante a sua candidatura à presidência da FIFA. Eu, como
tricolor, me preocupo apenas com o que realmente importa, com o Fluminense.
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