Emmanuel Coelho Netto, o “Mano”, morreu em
1922. O Brasil alcançava o período do modernismo cultural, quando “Mano”, ponta
direita do Fluminense, entrava em campo contra o São Cristóvão e recebia uma
forte pancada no abdome. Foi retirado de campo e massageado, mas como naquela
época ainda não havia as substituições, mesmo sem condições físicas, tornou ao
campo de jogo, agravando seu quadro, apenas para não prejudicar o seu clube do
coração, permanecendo até o final da partida. Morreria 48 horas depois, no dia 30 de
setembro de 1922, de infecção generalizada em decorrência do golpe sofrido. [1]
O “Mano” era o irmão mais velho - de um total de doze – de João Coelho Netto,
o “Preguinho”. Este, justamente aclamado como um dos maiores ídolos da história
do Fluminense Football Club, multiatleta, campeão em oito modalidades
esportivas e que, em 1925, após sagrar-se campeão de natação ajudou o seu clube
a conquistar uma vitória no futebol, um verdadeiro campeão de terra e mar.
Mas a história de “Preguinho”, morto em 1979,
após mais de seis décadas dedicadas ao seu clube do coração, é bem mais
conhecida e reverenciada pelos torcedores, um mito que será lembrado pela
eternidade como um dos maiores, senão o maior nome que já envergou a camisa
tricolor em todos os tempos.
Por isso faço aqui uma exceção para falar de
“Mano”, cujo sangue dos Coelho Netto honrou com galhardia, desfilando seu
talento pela equipe amadora do Fluminense desde o ano de 1915 até a sua morte sete
anos depois. Praticamente um desconhecido por grande parte da torcida, embora
seu gesto de sacrifício supremo tenha o condão de elevá-lo ao patamar dos
maiores ídolos tricolores, “Mano” é um herói que o Fluminense não pode
esquecer.
Emmanuel Coelho Netto foi um desportista
tricolor que honrou a camisa de seu clube e, literalmente, morreu por ele. Era
outra época, por certo, uma época romântica, onde o amadorismo era a fiel
expressão de que os atletas competiam por amor aos seus clubes.
Impensável hoje em dia, afinal de contas o
profissionalismo, que tanto impulso deu ao futebol, também foi o responsável
pelo sepultamento do “amor à camisa”. Apesar de saudosista, não prego um
retorno do futebol àquela época. São outros tempos e o profissionalismo, para o
bem ou para o mal, está fincado em raízes tão profundas que jamais poderia ser
arrancadas.
Quando penso em “Mano”, porém, assim como
quando penso em “Preguinho”, Castilho, Telê, por exemplo, penso em heróis.
Heróis de carne e osso, gente que deu o suor, deu o sangue, deu a vida pelo
Fluminense sem esperar nada em troca, senão a vitória dentro de campo. Penso no
exemplo desses homens para as gerações futuras, penso que suas histórias
deveriam ser transmitidas de pai para filho, penso que o clube deveria fomentar
a divulgação desses belos exemplos de amor incondicional ao clube do coração
entre seus atletas.
O exemplo arrasta, já se disse. E, conquanto os
grandes ídolos tricolores já não estejam mais entre nós para contar suas
histórias de amor ao Fluminense, seus exemplos permanecem vivos, como o do dedo
amputado de Castilho, do contrato de “um tostão” firmado por “Preguinho” para
se profissionalizar – profissionalismo que se negou a aceitar por toda a sua
vida como jogador do Fluminense, porque
para ele era impensável receber para defender as cores do clube amado – e,
sobretudo, o da própria existência de “Mano”, sacrificada por seu desejo
incontido de defender o Fluminense, mesmo após grave lesão sofrida em campo de
jogo.
São os exemplos desses heróis que devem ser
contados todos os dias. Há muitos dentro do Fluminense que precisam
conhecê-los. Gente que se locupleta do clube, que pratica malfeitos e de
outros, ainda, que se arvoram maiores do que a instituição.
Voltar no tempo é uma quimera, mas trazer os
bons exemplos de volta é uma medida que pode não curar os males do Fluminense
atual, mas fará aqueles que ainda têm um pingo de consciência repensarem suas atitudes: funcionários, dirigentes e jogadores, além de dar ao torcedor um paradigma a seguir a fim de
que possa reconhecer quem serve ao clube e quem se serve dele.
“Mano”, por ocasião dos cinquenta anos de sua passagem,
em 1972, teve uma placa de bronze oferecida pelo clube em sua homenagem. A
placa eternizou o herói. Que o eternizemos, também, não deixando que o seu
exemplo morra em nossas lembranças e corações.
[1] BARBOSA JR. WALDIR, Preguinho – Confissões de um
Gigante – Depoimentos do atleta João Coelho Netto ao Jornalista Waldir Barbosa,
Edição do autor, Rio de Janeiro, 2013.
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