Embora possa não parecer, eu gosto tanto de
futebol quanto de política. São assuntos que, invariavelmente, ocupam parcela
considerável das minhas elucubrações diárias. Mas tanto um quanto outro eu
trato de forma reservada. Futebol, só com tricolores e, política, apenas com a
minha consciência ou com um ou outro que me procure reservadamente.
Digo a política “política”, aquela que,
gostemos ou não, vivenciamos no dia a dia e que, desde sempre, nos causa, com
ou sem razão, enorme abjeção. Tramoias, negociatas, esquemas obscuros,
corrupção, falsidades e outras manifestações nefastas que, justa ou
injustamente, estão indissociavelmente relacionados aos políticos e às suas
atividades.
Eu acreditava, porém, que essa “política
rasteira” jamais pudesse se misturar ao futebol, ao ambiente clubístico e suas
disputas eleitorais, uma vez que as eleições, em regra, e especificamente em
relação ao Fluminense, sempre foram restritas aos seus sócios-proprietários, o
que não extrapolava um quadro bastante restrito de eleitores.
As campanhas, assim, se desenvolviam de forma
“mais ou menos” harmônicas, oportunidade em que as intrigas, as acusações
levianas ou mesmo as fundamentadas, restringiam-se às discussões nas áreas
sociais do clube sem maiores repercussões extramuros.
Ocorre, contudo, que as próximas eleições
presidenciais do Fluminense ocorrerão daqui a aproximadamente um ano e dela
poderão participar, por disposição contratual e estatutária, mais de vinte mil
sócios, incluindo-se, aí, os da categoria sócio-torcedor.
Essa expansão abrupta do número de eleitores
trouxe duas consequências imediatas: democratizou o processo eleitoral,
proporcionando ao torcedor “comum” (leia-se aquele que não era
sócio-proprietário ou contribuinte do clube) a oportunidade de decidir os rumos
do Fluminense, mas, por outro lado, trouxe aquilo que há de pior na política
cotidiana para a disputa eleitoral.
Com um colégio de eleitores que ultrapassa o de
muitas cidades no Brasil, situação e oposição precisam mostrar serviço. Talvez
por isso, a disputa eleitoral já esteja em plena efervescência há meses. E o
pontapé inicial coube ao nosso atual presidente, que deixou clara a sua
predileção pelo atual vice de futebol, Mario Bittencourt, para substituí-lo em
2016.
Transformou-o, de um dia para o outro, de
advogado do clube a vice de futebol. Seria como, por exemplo, um prefeito que
desejasse fazer o seu sucessor, o indicasse para a secretaria de obras do
Município Com tratores e asfalto muitos votos são conquistados.
Pois foi exatamente isso o que o presidente
fez, deu a Mario asfalto, tratores e tudo o mais para que, como vice de
futebol, mostrasse ao eleitor que poderia ser tão brilhante quanto o é como
advogado.
Acontece que o asfaltamento esburacou
rapidamente e os planos de mostrar Mario Bittencourt como candidato imbatível à
sucessão presidencial mostraram-se precipitados e irresponsáveis.
Crises, desmandos e outras turbulências foram a
tônica da gestão do atual vice de futebol, situações que interferiram
diretamente no desempenho do time dentro de campo.
O Fluminense tornou-se, então, campo fértil
para que parte da oposição pudesse trazer à tona deslizes administrativos e
criticar, construtivamente ou não, com razão ou não, os desmandos da atual
administração.
Transmudaram-se, assim, todas aquelas práticas
nefastas para o ambiente eleitoral do clube. A máquina administrativa
trabalhando a todo o vapor pelo seu candidato e, parte da oposição, torcendo
para o “quanto pior melhor”.
Ninguém pode antecipar quem levará a melhor
nessa disputa, mas o que se pode dizer, de antemão, é que as disputas internas
pelo poder no clube trazem ao futebol os reflexos das mazelas dessa guerra
política, interferindo direta e negativamente nos resultados dentro de campo.
Se alguém auferirá frutos nas urnas dessa
derrocada tricolor nos últimos anos, também não se pode prever. Há que se
considerar, no entanto, que o Fluminense tem boas chances de conquistar mais um
título nacional daqui a poucas partidas e, independentemente do que a conquista
dessa competição possa acarretar em termos políticos, é preciso que situação e
oposição estejam imbuídas de que o importante neste momento (e deveria sê-lo em
todos os outros também) é o Fluminense.
Menos vaidade à situação, mais consciência à parcela
da oposição é tudo de que o Fluminense precisa para seguir adiante o seu
caminho rumo à conquista de mais uma competição nacional e à tão sonhada vaga
na Libertadores de 2016.
Todos somos testemunhas de quanto as
intercorrências políticas prejudicaram o desempenho tricolor nos últimos anos e
ninguém, que se arvore verdadeiramente tricolor, deseja que esses conflitos
internos prossigam atrapalhando os rumos do Fluminense.
O momento, portanto, é de foco na Copa do
Brasil e de paz interna, nem que essa paz seja, na verdade, apenas uma trégua,
porque o interesse maior sempre deverá ser o do Fluminense.
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