sexta-feira, 3 de julho de 2015

Deputado nota zero

Eu sou um tricolor seletivo. Depois do achincalhe público decorrente do episódio Lusagate, passei a filtrar certos textos ou mesmo declarações que maculem a honra do Fluminense. Evito, pois além de não desejar me aborrecer, tenho a firme convicção de que essas ofensas não são mais do que blasfêmias contra o meu tricolor.

E foi assim que evitei ler – uma vez que as redes sociais não nos permitem estar alheios a tudo – sobre o episódio do deputado Paulo Pimenta. Vi que a coisa teve repercussão, mas me controlei para não saber do que se tratava. Até imaginava, mas conferir in loco me faz muito mal.

De tanto que a notícia se espalhou, porém, foi inevitável o aborrecimento. E é este o assunto que, infelizmente, me faz escrever estas tão amargas e decepcionadas linhas.

Não posso, em sã consciência, demonizar o deputado. Apesar de ter sido infeliz, muito infeliz em suas declarações, sobretudo quando comparou o presidente da Câmara – deputado indiciado criminalmente por crimes de corrupção e autor de outros incontáveis malfeitos públicos – ao Fluminense, o parlamentar não agiu diferente de como agiria qualquer outra pessoa que não fosse torcedora do Fluminense ou lúcida o suficiente para não incorrer na estapafúrdida comparação.

Infelizmente, repito, a culpa não é apenas dele, devendo ser compartilhada com a imprensa leviana, desonesta e irreponsável que, durante anos, atribuiu a pecha ao Fluminense de clube useiro e vezeiro em práticas sorrateiras e imorais para se livrar dos rebaixamentos desde o longínquo ano de 1996.

O ponto culminante – se não houver outro futuramente – foi a maior fraude do futebol brasileiro ocorrida em dezembro de 2013, quando interesses financeiros e escusos relacionados ao C.R. Flamengo determinaram um novo rumo ao campeonato brasileiro daquele ano. A trama sórdida capitaneada pelo clube de regatas fez naufragar a nau lusitana para que pudesse ele próprio se salvar do iminente rebaixamento, trama esta que, por via de consequência, acabou garantindo a permanência do Fluminense na divisão principal, terceiro que nenhum envolvimento teve com a negociata.

A partir daí ressuscitou-se o estigma de “Rei do Tapetão” que, difundido e potencializado aos turbilhões pela pseudo-imprensa e, em época de redes sociais, formou uma legião incomensurável de ignóbeis títeres a repetir, transformando uma mentira em verdade, as maledicências que amiúde ouvimos desde aquele fatídico mês de dezembro de 2013.

O deputado Paulo Pimenta, em que pese a sua posição como autoridade parlamentar, é apenas mais um dentre essa turba manipulada por constantes sessões de mentiras fabricadas para dar ao Fluminense a condição de vilão do futebol brasileiro.

Repudio veementemente o que ele disse. Como torcedor, como tricolor, a minha vontade seria de processá-lo ou até de cometer injúria mais grave, se resolver problemas através da violência, fizesse parte de meu estilo de vida. Graças a Deus não faz.

Como disse, contudo, a culpa não é totalmente dele. A maior parte dessa culpa advém de quem formou a sua opinião. O restante decorre da sua ignorância.

Assim, eu só consigo enxergar uma única saída que fosse viável para minimizar essa condição que nos foi imposta pela mídia: que a investigação acerca do episódio Lusagate tivesse um termo e revelasse, de forma cristalina, os verdadeiros vilões dessa sórdida história.

Afora isso, nada do que se falar ou fizer retirará essa marca, que parece indelével, de nosso currículo. Uma injustiça perpetrada por anos e que só poderá ser removida por ação da mesma imprensa que a criou.

E o Fluminense, poderia fazer alguma coisa? Uma nota de repúdio contundente talvez fosse a única reposta viável, porque, como se sabe, o parlamentar, no âmbito do exercício de suas funções legislativas, possui imunidade material, ou seja, não pode ser processado por suas opiniões, palavras e votos.

E a torcida? Como tricolor – o verdadeiro – gaúcho quase não deve existir, nem adiantaria sugerir o boicote a uma eventual candidatura futura do deputado. Assim, parece-me que encher o seu correio eletrônico possa ser considerado um desabafo justo contra o insulto que extrapolou os limites da instituição Fluminense e atingiu cada um de nós. Embora sejam os seus assessores os destinatários dos “desabafos”, por certo o deputado terá ciência de que foi profundamente injusto e infeliz nas suas palavras.

E eu? O que eu faria? Eu remeteria ao deputado Paulo Pimenta o livro do escritor Paulo Roberto Andel, “Pagar o quê?”, com a seguinte dedicatória:


Nobre deputado, este livro é um presente sincero de um tricolor que lhe roga encarecidamente a leitura, que abrirá os seus horizontes, contribuindo para o afastamento da sua ignorância e para a descoberta da verdade; não da verdade que a mídia lhe impôs, mas daquela que ela fez questão de lhe ocultar. Ao terminá-lo, o senhor constatará – por mais que não deseje revelar isso a ninguém – que o Fluminense Football Club, em seus mais de cem anos de história, tem muito mais honra e dignidade do que a Casa que o senhor atualmente representa.”

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