Eu sou um tricolor seletivo. Depois do
achincalhe público decorrente do episódio Lusagate, passei a filtrar certos
textos ou mesmo declarações que maculem a honra do Fluminense. Evito, pois além
de não desejar me aborrecer, tenho a firme convicção de que essas ofensas não
são mais do que blasfêmias contra o meu tricolor.
E foi assim que evitei ler – uma vez que as
redes sociais não nos permitem estar alheios a tudo – sobre o episódio do
deputado Paulo Pimenta. Vi que a coisa teve repercussão, mas me controlei para
não saber do que se tratava. Até imaginava, mas conferir in loco me faz muito mal.
De tanto que a notícia se espalhou, porém, foi
inevitável o aborrecimento. E é este o assunto que, infelizmente, me faz
escrever estas tão amargas e decepcionadas linhas.
Não posso, em sã consciência, demonizar o
deputado. Apesar de ter sido infeliz, muito infeliz em suas declarações,
sobretudo quando comparou o presidente da Câmara – deputado indiciado
criminalmente por crimes de corrupção e autor de outros incontáveis malfeitos
públicos – ao Fluminense, o parlamentar não agiu diferente de como agiria
qualquer outra pessoa que não fosse torcedora do Fluminense ou lúcida o
suficiente para não incorrer na estapafúrdida comparação.
Infelizmente, repito, a culpa não é apenas
dele, devendo ser compartilhada com a imprensa leviana, desonesta e
irreponsável que, durante anos, atribuiu a pecha ao Fluminense de clube useiro
e vezeiro em práticas sorrateiras e imorais para se livrar dos rebaixamentos
desde o longínquo ano de 1996.
O ponto culminante – se não houver outro
futuramente – foi a maior fraude do futebol brasileiro ocorrida em dezembro de
2013, quando interesses financeiros e escusos relacionados ao C.R. Flamengo
determinaram um novo rumo ao campeonato brasileiro daquele ano. A trama sórdida
capitaneada pelo clube de regatas fez naufragar a nau lusitana para que pudesse
ele próprio se salvar do iminente rebaixamento, trama esta que, por via de
consequência, acabou garantindo a permanência do Fluminense na divisão principal,
terceiro que nenhum envolvimento teve com a negociata.
A partir daí ressuscitou-se o estigma de “Rei
do Tapetão” que, difundido e potencializado aos turbilhões pela pseudo-imprensa
e, em época de redes sociais, formou uma legião incomensurável de ignóbeis
títeres a repetir, transformando uma mentira em verdade, as maledicências que amiúde
ouvimos desde aquele fatídico mês de dezembro de 2013.
O deputado Paulo Pimenta, em que pese a sua
posição como autoridade parlamentar, é apenas mais um dentre essa turba
manipulada por constantes sessões de mentiras fabricadas para dar ao Fluminense
a condição de vilão do futebol brasileiro.
Repudio veementemente o que ele disse. Como
torcedor, como tricolor, a minha vontade seria de processá-lo ou até de cometer
injúria mais grave, se resolver problemas através da violência, fizesse parte
de meu estilo de vida. Graças a Deus não faz.
Como disse, contudo, a culpa não é totalmente
dele. A maior parte dessa culpa advém de quem formou a sua opinião. O restante
decorre da sua ignorância.
Assim, eu só consigo enxergar uma única saída
que fosse viável para minimizar essa condição que nos foi imposta pela mídia:
que a investigação acerca do episódio Lusagate tivesse um termo e revelasse, de
forma cristalina, os verdadeiros vilões dessa sórdida história.
Afora isso, nada do que se falar ou fizer
retirará essa marca, que parece indelével, de nosso currículo. Uma injustiça
perpetrada por anos e que só poderá ser removida por ação da mesma imprensa que
a criou.
E o Fluminense, poderia fazer alguma coisa? Uma
nota de repúdio contundente talvez fosse a única reposta viável, porque, como
se sabe, o parlamentar, no âmbito do exercício de suas funções legislativas,
possui imunidade material, ou seja, não pode ser processado por suas opiniões,
palavras e votos.
E a torcida? Como tricolor – o verdadeiro –
gaúcho quase não deve existir, nem adiantaria sugerir o boicote a uma eventual
candidatura futura do deputado. Assim, parece-me que encher o seu correio
eletrônico possa ser considerado um desabafo justo contra o insulto que
extrapolou os limites da instituição Fluminense e atingiu cada um de nós.
Embora sejam os seus assessores os destinatários dos “desabafos”, por certo o
deputado terá ciência de que foi profundamente injusto e infeliz nas suas
palavras.
E eu? O que eu faria? Eu remeteria ao deputado
Paulo Pimenta o livro do escritor Paulo Roberto Andel, “Pagar o quê?”, com a
seguinte dedicatória:
“Nobre
deputado, este livro é um presente sincero de um tricolor que lhe roga encarecidamente
a leitura, que abrirá os seus horizontes, contribuindo para o afastamento da
sua ignorância e para a descoberta da verdade; não da verdade que a mídia lhe
impôs, mas daquela que ela fez questão de lhe ocultar. Ao terminá-lo, o senhor
constatará – por mais que não deseje revelar isso a ninguém – que o Fluminense
Football Club, em seus mais de cem anos de história, tem muito mais honra e
dignidade do que a Casa que o senhor atualmente representa.”
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